Os novos Air Force One, aviões presidenciais dos EUA, continuam a causar polêmica desde que a Força Aérea (USAF) decidiu substituir os velhos VC-25A, jatos 747-200 comprados novos da Boeing na década de 1980 e que estão em operação até hoje.
A mais recente escândalo envolve os manuais de voo do avião presidencial. A USAF contratou a Boeing para “modificar manuais comerciais, atualizar com informações específicas do VC-25B e fornecer manuais integrados para o sistema do VC-25B”, ou seja, adaptar as informações e acrescentar toda a parafernália necessária para transportar o presidente do país. Preço do serviço? Absurdos US$ 84 milhões, ou R$ 430 milhões na cotação de meados de abril.
Em tese, é quase o mesmo preço de lista de um 737-700 novo (US$ 89 milhões ou R$ 465 milhões), jato comercial que ainda aparece no site da Boeing, mas certamente não será mais vendido. Ainda assim, a soma causa espanto porque o novo Air Force One nada mais é do que o 747-8i, um jato mais do que conhecido. Por mais que se trate da aeronave que transportará o presidente dos Estados Unidos e que por isso exige sistemas e equipamentos sofisticados, parece surreal que um conjunto de informações possa sair tão caro.
“Desconto”
Quando Donald Trump assumiu a presidência dos EUA em 2018, logo anunciou que o contrato para aquisição de dois 747-8 era muito elevado e que iria conseguir um bom desconto. No entanto, o projeto tem se tornado extremamente custoso: estima-se que apenas as duas aeronaves sairão por US$ 4,7 bilhões que, se somados à infraestrutura necessária para operá-los, como novos hangares, fará a conta chegar a US$ 5,3 bilhões, algo como R$ 27,6 bilhões.
Vale lembrar que os dois 747-8 que darão origem ao VC-25B são aeronaves encomendadas originalmente pela Transaero, companhia aérea russa que faliu em 2015 sem nunca os ter recebido. Enquanto negociava com a Força Aérea dos EUA, a Boeing manteve os dois jatos armazenados no deserto.
Ao contrário do VC-25A, o futuro Air Force One não terá capacidade de ser reabastecido em voo, um argumento sempre lembrado em situações de crise quando a aeronave pode ficar no ar por um longo período. Imagina-se quanto esse equipamento acrescentaria ao valor final da encomenda.
Segundo o site The Drive, que revelou a história, manuais militares não costumam ser baratos. O avião de patrulhamento marítimo P-8 Poseidon, baseado no 737NG, possui manuais de reparo estruturais que custaram US$ 30 milhões.
Ainda assim, não parece justificável despender tanto dinheiro em algo que já deveria fazer parte do pacote de qualquer produto que esteja à venda, mesmo que ele seja o Air Force One.
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