Marinha do Brasil diz que amianto presente no casco do NAe São Paulo não oferece riscos

Casco do antigo porta-aviões encontra-se parado no litoral do Pernambuco e deverá passar por testes de segurança antes de iniciar uma nova viagem até a Turquia, onde será desmontado
NAe São Paulo parado na Ilha das Cobras, onde ficou durante boa parte de sua carreira no Brasil (Alexandre Galante/Poder Naval)
NAe São Paulo parado na Ilha das Cobras, onde ficou durante boa parte de sua carreira no Brasil (Alexandre Galante/Poder Naval)

Após meses em silêncio sobre a destinação final do casco do ex-Navio Aeródromo (NAe) São Paulo, a Marinha do Brasil (MB) divulgou nesta quinta-feira (6) uma nota oficial esclarecendo a situação da antiga embarcação, que neste momento encontra-se no litoral do estado de Pernambuco, conforme o AIRWAY mostrou em primeira mão nesta semana.

Arrematado em 2021 por R$ 10,5 milhões pelo estaleiro estaleiro turco Sök Denizcilik Tic Sti, o porta-aviões deveria passar por um processo de “desmanche verde”, conforme pedia o edital de alienação do casco preparado Marinha do Brasil. No entanto, como acompanhamos nos últimos meses, o destino do NAe São Paulo vem passando por reviravoltas.

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Uma dos pontos no edital da Marinha obrigava o comprador a realizar a reciclagem ambientalmente segura do barco. O proprietário do casco ainda deveria cumprir normas internacionais, “dentre as quais: o o cumprimento da Convenção de Basileia sobre o Controle de Movimentos Transfronteiriços de Resíduos Perigosos e seu Depósito; e a apresentação de Inventário de Materiais Perigosos (IHM), auditado por testes de laboratório credenciado e aprovado por Sociedade Classificadora independente”, cita a nota da força naval.

A Marinha do Brasil também esclareceu que todos os procedimentos de transferência do navio para o estaleiro turco foram “conduzidos de acordo com as normas emitidas pelo IBAMA” e seguindo as regras da Convenção de Basileia. “A referida permissão foi concedida após notificação e consentimento dos países envolvidos, o Brasil e a Turquia”, informou a MB.

Rebocador Alp Centre em processo de amarração ao NAe São Paulo, no início de agosto (AIRWAY)

Em 4 de agosto, o navio desativado foi levado rebocado do Brasil e, ao chegar nas proximidades do estreito de Gibraltar, no dia 26 do mesmo mês, o órgão ambiental da Turquia cancelou a autorização previamente concedida para a entrada do casco em portos do país. Na ocasião, autoridades turcas reclamaram da falta de um relatório de IHM na embarcação, que deveria ser fornecido pelo comprador do casco. O maior temor recaia sobre a presença de amianto no barco.

No entanto, num ponto crucial da nota oficial, a MB esclareceu que, na década de 1990, enquanto o porta-aviões ainda pertencia à Marinha Nacional Francesa, ele por “uma ampla desamiantação dos compartimentos de propulsão, catapulta, máquinas-auxiliares e diesel geradores, culminando com a retirada de aproximadamente 55 toneladas de amianto”. O texto ainda menciona que a quantidade da substância ainda presente no casco não oferece riscos à saúde, no estado em que se encontra.

Todavia, a MB não comentou sobre os motivos que levaram a Turquia a barrar a entrada do barco em suas águas territoriais, dado que aparentemente não havia nenhuma irregularidade no processo de exportação ou sobre a falta de transparência de materiais perigosos a bordo.

O NAe São Paulo deixando o Rio de Janeiro, em 4 de agosto de 2022 (AIRWAY)

Agora posicionado numa área marítima próxima ao Porto de Suape, o casco do porta-aviões será submetido a testes de integridade e condições de flutuabilidade e estabilidade por uma empresa a ser contratado pela Sök Denizcilik. Em seguida, o navio deverá passar novamente pelos trâmites de exportação, que é de responsabilidade e está sendo conduzido pelo comprador, junto ao IBAMA e ao órgão ambiental da Turquia.

Ainda não há uma previsão sobre a nova partida do NAe São Paulo para a Turquia, que desta vez deve ser definitiva.O NAe São Paulo chegou ao Brasil em 2001; o navio foi construído na França entre 1957 e 1960 (Marinha do Brasil)

O NAe São Paulo chegou ao Brasil em 2001; o navio foi construído na França entre 1957 e 1960 (Marinha do Brasil)

Maior navio de guerra do Brasil

O navio-aeródromo São Paulo chegou às mãos da Marinha do Brasil no ano 2000, comprado da França por US$ 12 milhões durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. O navio foi o substituto do NAeL Minas Gerais, que operou no Brasil entre 1960 e 2001.

Quando ainda estava ativo, o São Paulo era o porta-aviões mais antigo do mundo em operação. A embarcação foi lançada ao mar em 1960 e serviu com a marinha da França com o nome FS Foch, de 1963 até 2000. Sob a identidade francesa, o navio de 32,8 mil toneladas e 265 metros de comprimento atuou em frentes de combate na África, Oriente Médio e na Europa.

Com a Marinha do Brasil, no entanto, a embarcação teve uma carreira curta e bastante conturbada, marcada por uma série de problemas mecânicos e acidentes. Por esses percalços, o navio passou mais tempo parado do que navegando. Em fevereiro de 2017, após desistir de atualizar o porta-aviões, o comando naval decidiu desativar o NAe São Paulo em definitivo.

Caças AF-1 estacionados no convés de voo do NAe São Paulo (MB)
Caças AF-1 estacionados no convés de voo do NAe São Paulo (MB)

Segundo dados da marinha brasileira, o São Paulo permaneceu um total de 206 dias no mar, navegou por 54.024,6 milhas (85.334 km) e realizou 566 catapultagens de aeronaves. A principal aeronave operada na embarcação foi o caça naval AF-1, designação nacional para o McDonnell Douglas A-4 Skyhawk, hoje operados a partir de bases terrestres.

Porta-aviões gêmeo, Clemenceau passou por situação parecida

O Clemenceau, irmão do Foch, que foi desmantelado no Reino Unido entre 2009 e 2010, teria cerca de 760 toneladas da substância retirada de seu casco. Desativado em 1997, o porta-aviões foi vendido para uma empresa espanhola em 2003, que pretendia desmontá-lo também na Turquia, mas a França cancelou o acordo.

Dois anos depois, o governo francês tentou levá-lo para a Índia, onde outro porta-aviões brasileiro, o Minas Gerais, foi desmontado sem quaisquer cuidados.

O porta-aviões Clemenceau (R98), irmão gêmeo do São Paulo, em Brest em 2008 (Duch.gege)

A tentativa foi frustrada pelo Egito, que impediu que o Clemenceau passasse pelo Canal de Suez. Após discussões prolongadas, a França decidiu trazer o navio de volta. Em 2008, finalmente o porta-aviões seguiu para Hartlepool, no norte da Inglaterra, onde a empresa Able UK o desmontou.

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