O RACER, nova aeronave desenvolvida pela Airbus, ganhou manchetes no mundo nesta semana por sua configuração “meio avião, meio helicóptero”, mas é fato que o projeto da fabricante não é tão revolucionário e original quanto fizeram parecer.
O programa surgiu há muito tempo, pela então Eurocopter, que fez voar o protótipo X³, um helicóptero Dauphin com pequenas asas e hélices em suas pontas, em setembro de 2010.
A aeronave híbrida cumpriu o objetivo estabelecido pela sua fabricante, o de atingir velocidades cerca de 50% maiores do que helicópteros convencionais, chegando a voar a 263 nós (487 km/h).
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Daí em diante, no entanto, o projeto andou a passos lentos. Apenas em 2017 surgiu o RACER (Rapid and Cost-Effective Rotorcraft, algo como helicóptero veloz e de baixo custo).
A Airbus Helicopters, herdeira da Eurocopter, prometeu construir um protótipo do zero para testar o conceito e que tinha a meta de realizar o primeiro voo em 2021.
Três anos depois do prazo, finalmente o Racer decolou pela primeira vez, no mês passado. Ele foi construído com base no aprendizado do X³ e com isso ganhou uma fuselagem mais estreita para reduzir o arrasto aerodinâmico, uma lança de cauda assimétrica e hélices pusher instaladas nas pontas das asas em V.
Já como parte do programa europeu Clean Sky 2, o Racer tem como meta, além da velocidade elevada, reduzir as emissões de CO2 em 20%.
Nas primeiras surtidas, o helicóptero híbrido atingiu velocidades promissoras, de até 176 nós (326 km/h). Segundo a equipe de desenvolvimento, a aeronave deverá gradualmente elevar sua velocidade além de receber aprimoramentos aerodinâmicos como carenagem em seu rotor principal. A velocidade buscada pela Airbus é de 220 nós (407 km/h), que deve ser atingida ainda neste ano.
Ideia antiga
A despeito da empolgação com o projeto da Airbus, a ideia não é nova. Vários fabricantes buscam há décadas unir a vantagem do pouso e decolagem vertical dos helicópteros com uma velocidade de cruzeiro elevada como a de um avião.
A aeronave que mais perto chegou dessa equação é o Bell/Boeing V-22 Osprey, um tilt-rotor (rotores basculantes) capaz de usar seu par de hélices de grande diâmetro para operações verticais e voos de cruzeiro.
Apesar disso, a configuração tilt-rotor até hoje não se espalhou pela indústria. A italiana Leonardo há vários anos tenta certificar e iniciar a produção do AW609, um pequeno tilt-rotor civil.
A Bell também voltou ao conceito com a aeronave militar V-280 Valor, que será operada pelo Exército dos EUA como substituto do UH-60 Black Hawk.
É a americana Sikorsky, entretanto, que persegue um conceito semelhante ao da Airbus, mas ainda mais avançado, o X-2, cujas origens remontam aos anos 70.
Naquela época, a empresa criou o S-69, um helicóptero com rotores co-axiais avançados e propulsão horizontal por turbojatos. Da experiência surgiu o X2 em 2008, uma aeronave semelhante, mas com hélice propulsora na cauda.
O conceito evoluiu para rotores rígidos coaxiais que deram origem às aeronaves S-97 Raider, SB-1 Defiant e Raider X.
Esses protótipos atingiram velocidades acima de 400 km/h, algumas beirando os 500 km/h, mas até o momento a Sikorsky não lançou um modelo de produção em série.
Sombra de eVTOLs
A proposta de helicópteros híbridos velozes, no entanto, esbarra em limitações econômicas e técnicas relacionadas aos motores a combustão e também aos rotores, que não funcionam adequadamente em grandes velocidades.
Além disso, há evolução de outras tecnologias como os eVTOLs, aeronaves elétricas de pouso e decolagem vertical, que prometem uma solução mais barata para deslocamentos rápidos.
Por enquanto esses projetos pioneiros ainda não vislumbram grandes velocidades, mas certamente devem evoluir nesse sentido nos próximos anos.