Mais um atraso na conta do AW609. Fabricante da aeronave civil com rotores basculantes (tilt-rotor, no jargão em inglês), a Leonardo Helicopters informou que o aparelho provavelmente deve entrar em serviço em 2024. Na previsão anterior, a empresa italiana planejava iniciar as entregas do modelo a partir deste ano.
Em resposta ao Flight Global, Gian Piero Cutillo, diretor da divisão de helicópteros da Leonardo, explicou que o novo atraso no cronograma de estreia do AW609 se deve as complexidades industriais do projeto e seu processo de certificação. Em contrapartida, o executivo disse que o processo de certificação da aeronave pelo FAA (agência federal de aviação dos Estados Unidos) está obtendo “progressos importantes”.
Siga o AIRWAY nas redes: Facebook | LinkedIn | Youtube | Instagram | Twitter
Segundo Cutillo, no mês passado uma equipe do FAA acompanhou um voo de inspeção pré-tipo (TIA, na sigla em inglês) do AW609 na Itália, usando a primeira aeronave de produção.
“Esta foi a primeira vez que o FAA voou o AW609 em preparação para a primeira atividade de voo da TIA, que é esperada em breve”, disse o diretor da Leonardo Helicopters.
Apesar do aparente otimismo em suas falas, Cutillo ainda foi cauteloso em cravar a estreia da aeronave para o próximo ano. “É difícil dizer se podemos fazer isso em 23 ou no próximo ano, mas estamos chegando perto desse prazo. Resta algum grau de incerteza devido não só ao produto, mas também ao processo de certificação que estamos validando em conjunto com a FAA.”
O AW609 é a primeira aeronave tilt-rotor do mundo proposta para o uso civil. O aparelho combina as características de helicópteros e aviões, podendo pousar e decolar verticalmente e alcançar grandes velocidades ao bascular os rotores para o voo horizontal. Atualmente, o único veículo desse tipo em serviço é o Bell-Boeing V-22 Osprey, operado pelas forças armadas dos Estados Unidos e do Japão.
Diretor de engenharia da Leonardo Helicopters, Matteo Regazzi esclareceu à publicação que não haverá mais alterações do AW609. “O desenvolvimento acabou. A aeronave está fazendo o que deveria estar fazendo conforme anunciado.”
Passando de mão em mão, projeto já dura quase 30 anos
Assim como o V-22, o AW609 também foi desenvolvido inicialmente pela Bell em parceria com a Boeing, então batizado de BA609. O projeto teve luz verde em 1996 com a proposta de levar a tecnologia do Osprey para o mercado de aviação geral. Mas dois anos depois a Boeing decidiu sair do programa, substituída meses depois pela então Agusta, fabricante italiana de helicópteros – que posteriormente se uniu a fabricante britânica Westland, formando a AgustaWestland (atual Leonardo Helicopters).
As duas empresas formaram uma joint venture para desenvolver o projeto em 1998 e em 2003 o primeiro protótipo do AW609 voou. Foi então que começou um longo processo de testes e avaliações de uma aeronave tão peculiar.
Com apenas dois protótipos, o AW609 acumulou centenas de horas de voo, realizando diversos testes para ampliar seu envelope de voo, mas em 2011 a Bell decidiu sair do projeto para se concentrar em outro tilt-rotor, o V-280 Valor, num programa do Exército do EUA.
Características únicas
Mas o que leva um fabricante a custear um programa que já dura quase 30 anos sem que uma única aeronave esteja em operação comercial? A resposta está nas enormes possibilidades que um tilt-rotor pode oferecer. Ao unir o melhor de um helicóptero com a velocidade de um avião turboélice a Leonardo pode atender as necessidades de clientes que hoje não encontram uma solução em uma única aeronave.
O AW609 pode ter várias aplicações como serviço aeromédico, busca e resgate além de ser uma alternativa eficiente para CEOs de grandes grupos corporativos que precisam de velocidade e chegar a locais distantes de aeroportos.
O preço dessa comodidade, no entanto, não é baixo. A Leonardo pede cerca de US$ 25 milhões (quase R$ 100 milhões) pelo AW609, segundo especialistas do setor. É o mesmo que custa um jato de negócios de porte médio como o Challenger, da Bombardier.
O AW609 pode levar até nove passageiros e dois tripulantes e voar por distâncias de 2.083 km. Um inconveniente do tilt-rotor é o espaço necessário para pouso. Seus dois rotores ocupam uma largura de 18 metros, uma área maior que a de um helicóptero como o AW139, da própria Leonardo e que leva mais passageiros.