Em decisão que não causou surpresas, a direção da Itapemirim Transportes Aéreos (ITA) anunciou na noite desta sexta-feira (17) a suspensão temporária de suas operações alegando necessidade de realizar uma “reestruturação interna”.
“A companhia irá dedicar o máximo esforço para, em breve, retomar seus voos”, prometeu a ITA em curta nota divulgada, porém, há ceticismo no mercado quanto à capacidade da empresa voltar a voar. Um advogado especializado em direito aeronáutico ouvido pelo jornal O Estado de São Paulo considera a interrupção dos voos fatal para a companhia.
A razão é que as condições financeiras da Itapemirim são claramente precárias após uma gestão bastante caótica, marcada por alterações de rotas, cancelamentos de voos, problemas com seus sistemas e a suspensão de pagamentos de benefícios e salários aos seus funcionários, além de um relacionamento tortuoso com o trade de turismo, setor crucial para que uma empresa aérea consiga sobreviver.
A situação havia se agravado nas últimas semanas quando relatos de problemas se acumularam. O SNA, Sindicato Nacional dos Aeronautas, apontou diversas vezes reclamações de funcionários que não conseguiam utilizar o plano de saúde, falta de repasses de diárias, atrasos em pagamentos de salário e depósitos do FGTS.
Ao mesmo tempo, sua pequena malha de voos sofreu diversas mudanças inesperadas além de cancelamentos e atrasos, causando problemas para seus passageiros. A empresa também passou por uma dança de cadeiras, com vários executivos deixando seus cargos recentemente.
Agora, a empresa afirma que “irá continuar prestando toda assistência aos passageiros impactados, conforme prevê a resolução 400 da ANAC. A companhia orienta os passageiros com viagens programadas para os próximos dias que entrem em contato pelo e-mail falecomaita@voeita.com.br“.
Após o anúncio, a ANAC suspendeu o seu Certificado de Operador Aéreo (COA) e solicitou aos passageiros com voos marcados que não compareçam aos aeroportos antes de contatar a Itapemirim.
Falta de planejamento e estratégia
A suspensão dos voos da Itapemirim ocorre após menos de seis meses de operação. A companhia pertecente ao empresário Sidnei Piva realizou o voo inaugural entre São Paulo e Brasília no final de junho, mas a operação comercial teve início na prática em julho, com uma frota pequena de Airbus A320.
A empresa prometia expandir a quantidade de aeronaves e rotas velozmente, chegando a 10 A320 em agosto, mas a entrada em serviço de mais aeronves demorou, o que não impediu a ITA de abrir várias bases, atendidas por voos com várias escalas.
Ainda assim, Piva anunciava planos ambiciosos que incluam rotas internacionais e uma frota bastante grande de jatos. Em vez de 10 jatos, a ITA terminou o ano com cinco aeronaves ativas e duas outras paradas por problemas técnicos.
A gestão também tomou atitudes questionáveis como suspender voos regulares para realizar fretamentos para o Uruguai, aproveitando o jogo final da Copa Libertadores, entre Palmeiras e Flamengo, em novembro (veja abaixo quatro A320 da empresa no Aeroporto de Montevidéu).
🇧🇷🏆 Aeropuerto de Carrasco COMPLETO
— Info SolMet (@Meteo_Lucas) November 27, 2021
➡️ Un día histórico para nuestra principal terminal aérea.
Foto: Sofitech_uy pic.twitter.com/IOP4de7tMY
Modelo insustentável
Outro aspecto bastante precário da empresa aérea foi a proposta de um modelo de serviço que é considerado no setor como insustentável, como oferecer franquia de bagagem gratuita, marcação de assentos sem custo extra e serviço de bordo, neste caso suspenso por conta de determinação da ANAC.
Enquanto outras companhias buscam otimizar o espaço interno de seus aviões para transportar um número alto de passageiros e perseguem uma ocupação elevada, a Itapemirim apostou no inverso: reduziu a quantidade de assentos no A320 para apenas 162 lugares, o que exigiria um ‘load factor’ mais elevado para bancar a operação.
No entanto, a ocupação dos voos até setembro era bastante baixa, de apenas 67% naquele mês contra quase 90% das três grandes empresas do mercado brasileiro. Por alegadas razões técnicas, a ITA tem atrasado o envio de dados de sua operação para a ANAC, o que impediu acompanhar sua situação em outubro, por exemplo.
Fundo árabe que não apareceu
O projeto de lançar uma nova companhia aérea no Brasil foi anunciado por Piva em fevereiro do ano passado, às vésperas da pandemia do Covid-19. Conhecido por assumir empresas em situação financeira precária, o empresário controla a Viação Itapemirim e as empresas do setor ferroviário T’Trans e Bom Sinal, entre outras.
Todas as três estão em recuperação judicial há muito tempo, o que não impediu seu proprietário de abrir uma nova frente na aviação, alegando planos de criar um gigante multimodal de transporte.
Para bancar o projeto, Piva afirmou que fundos soberamos dos Emirados Árabes Unidos investiriam US$ 500 milhões na companhia aérea e que já havia encomendado 35 aviões à Bombardier.
Originalmente, a Itapemirim operaria com turboélices Dash 8 e jatos A220, sugeridas por maquetes divulgadas por executivos da empresa. No entanto, a crise sanitária fez Piva e seu equipe mudarem de planos.
Com a devolução à empresas de arrendamento de centenas de jatos por companhias aéreas abaladas pela queda na demanda do transporte, surgiu a oportunidade de alugar aviões maiores por valores mais baixos.
Os cortes na LATAM, após a adesão ao Chapter 11 (recuperação judicial nos EUA), também refletiu num aumento da mão de obra disponível.
Em vez de uma operação regional, a Itapemirim decidiu lançar um projeto nacional com jatos A320 e A319 de segunda mão e que vieram de várias partes do mundo. A pressa em colocá-los em serviço criou uma situação inusitada como a degradação precoce da pintura de alguns desses aviões.
Lançada em meio à pandemia, a Itapemirim via nesse problema uma vantagem, mas semanas atrás justificou suas dificuldades justamente por conta do coronavírus.
Em entrevista ao PanRotas, Adalberto Bogsan, CEO da empresa, afirmou que a empresa aguardava um aporte de R$ 200 milhões de um fundo nacional para organizar suas finanças. E revelou que o investimento do misterioso fundo árabe nunca ocorreu de fato.
Mesmo diante do colapso, seus executivos continuavam a repetir o mantra de Sidnei Piva, acostumado a citar planos ambiciosos. Para eles, apesar dos problemas, a Itapemirim chegaria a 35 destinos nacionais em 2022 e estrearia os primeiros voos para o exterior em 2023.
Quando lançaram essa empresa disse que seria a próxima companhia a falir e os fãs com cabeça de ostra tacaram pedras, e eia ai o resultado.
Mas só esperava o fim em 2.022, e conseguiram antecipar.
Deveriam ter sido cautelosos, tendo a Azul como exemplo, optando por aeronaves menores (E-Jets), muitas das quais sobrando nos pátios devido a pandemia e escolher rotas menos disputadas pelas outras 3, ganhando mercado gradualmente e conquistando clientes da concorrência.
Já estava caminhando pra isso, era notável. Iníciou a empresa sem capital e em momento de retração esperando obter lucro de imediato. Itapemirim já vem de uma crise pesada e entrar na aviação sem estar forte de estrutura é um risco alto. Mesmo assim Sidnei Piva o dono do grupo já lançou outro investimento no exterior. O que demonstra que respeito as pessoas que prestaram serviços para a empresa e e tiveram seus benefícios atrasados, o passageiros, as terceirizadas é algo que ele considere muito.
Como permitem um grupo em recuperação judicial a abrir uma cia aérea?
Resultado mais que esperado e o grupo ficou com mais dívidas!’
Em um Brasil sem rumo. Os efeitos são esses…as vezes é a mão de obra que não decola…gestores alienados…São tantos fatores…eu chego não acreditar… patrimônios..MO..dinheiro…investimentos…estamos perdidos? Difícil e árdua empresário sobreviver ao caos da crise. Pescar a MO certa é o segredo de tudo! Sem ela …..já era.