Um dos mais populares aviões do período da extinta União Soviética não era um caça ou bombardeiro. Tratava-se de um versátil turbo-hélice de asa alta que lembrava o holandês Fokker F-27, o Antonov An-26 e suas variações como o modelo civil An-24 e o remotorizado An-32. A diferença é que o An-26 possuía uma rampa de carga traseira que o tornou uma aeronave extremamente versátil tanto para uso militar quanto comercial.
Nada menos que 1,4 mil exemplares foram produzidos até 1986, além de 361 An-32 que continua sendo oferecido pela Antonov no mercado. Com a cisão entre Rússia e Ucrânia (onde fica a fábrica da Antonov), o governo de Vladimir Putin tem investido em aeronaves próprias desenvolvidas dentro do conglomerado UAC (United Aircraft Corporation), que representa os principais “escritórios de projeto” da antiga U.R.S.S e hoje fabricantes de aviões como MiG, Sukhoi, Tupolev e Ilyushin.
E é justamente esta última que revelou nesta semana que o primeiro voo do Il-112V, um pequeno avião de transporte cargueiro turbo-hélice que tem como missão justamente substituir o An-26, está próximo de ocorrer. Segundo a Ilyushin, o primeiro protótipo, ainda sem pintura, está seguindo nesta semana para a chamada “estação de teste de voo”, divisão que será responsável por preparar o avião para a primeira decolagem e homologação.
Como tem ocorrido com frequência na indústria aeroespacial russa, o programa atrasou bastante. Deveria ter sido introduzido no início desta década para equipar a Força Aérea da Rússia, porém, com a perspectiva de recebê-lo tarde demais, acabou optando por encomendar o An-140, isso antes dos conflitos com os ucranianos. Em 2013, o governo russo voltou atrás e decidiu dar luz verde para o projeto da Ilyushin como forma de substituir seus An-26, mas o primeiro voo, esperado para 2017, só deve ocorrer em 2019.
Imenso potencial
Apesar disso, o Il-112 parece ser uma aeronave promissora. Desenhada especificamente para uso militar, o avião lembra de certa forma o KC-390, da Embraer, exceto pelos motores turbo-hélice Klimov TB7-117CT com hélices de seis pás. Mas é um aparelho bem menor, com peso de decolagem estimado em 21 toneladas (o avião brasileira decola com até 81 toneladas), dos quais 5 toneladas são de carga paga. A vantagem do Il-112 é o alcance bem superior ao An-26: 2.400 km com 3,5 toneladas de carga, bem superior ao velho Antonov.
Sem dúvida, o Il-112 terá um mercado interessante para explorar assim que estiver pronto para entrega – estima-se um período de dois anos de testes antes do início da produção. Somente a força aérea russa possui, segundo o site Flight Global, 115 An-26 ativos e já teria se comprometido a adquirir 62 Il-112, 35 em pedidos firmes e o restante em opções.
Ao menos 240 unidades da família An-24/An-26/An-32 voam hoje na aviação comercial, um segmento que a Ilyushin também poderá explorar com a variante Il-112T, de uso civil. Resta saber se o novo turbo-hélice não terá o mesmo destino de outros aviões pós-União Soviética que, embora tecnicamente viáveis, não sobreviveram à falta de traquejo comercial dos russos.
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