A confiança da Embraer em seguir em frente com o projeto do E175-E2, mesmo que ele não atenda à chamada “Cláusula de Escopo” (acordo entre pilotos e companhias para limitar o uso de aviões de maior porte nas suas regionais), está começando a custar caro para a fabricante brasileira. Nesta quinta-feira (05), sua nova rival, a Mitsubishi Aircraft, anunciou um vultoso acordo com a companhia aérea regional americana Mesa Airlines para a venda de até 100 unidades do jato SpaceJet M100.
O chamado “Memorando de Entendimento”, etapa preliminar antes da assinatura do contrato, envolve um pedido firme de 50 aviões e mais 50 opções e que devem ser entregues a partir de 2024 – a entrada em serviço da aeronave está prevista para 2023. Como se sabe, a fabricante japonesa decidiu revisar o projeto do MRJ70 para torná-lo viável dentro da cláusula, a grosso modo, decolar com peso máximo de 86 mil libras (39 toneladas) e até 76 passageiros.
Para transformar o MRJ70 no SpaceJet M100, a Mitsubishi pretende fazer mudanças no seu comprimento e na configuração de assentos para ampliar sua capacidade e também reduzir seu peso ao usar materiais mais leves na sua construção como ligas de alumínio-lítio e fibra de carbono. Com isso, o jato será capaz de transportar 76 passageiros em três classes, uma das formas que as companhias têm utilizado para driblar a limitação, e ainda oferecer um alcance respeitável.
Aposta arriscada
A fabricante brasileira, ao contrário, tem apostado no relaxamento da Cláusula de Escopo, mas a falta de perspectiva sobre essa mudança pode custar caro – o assunto está sendo discutido pela United Airlines e seus pilotos neste mês inclusive, mas sem avanços até agora. O primeiro protótipo do E175-E2 está em montagem e deve voar ainda em 2019. Até o momento, a Embraer não revelou planos de adequar o jato à Claúsula de Escopo, o que não é uma tarefa fácil afinal a empresa decidiu oferecer um avião maior que o antecessor E175-E1.
Para decolar com até 86.000 libras, o jato brasileiro acaba restrito ao alcance muito pequeno, de menos de 950 milhas náuticas. A Embraer, inclusive, tem reconhecido que pode atrasar a entrada em serviço do E175-E2, porém, sem apontar a ausência de clientes como motivo dessa possível decisão.
A vantagem da Embraer é que atualmente o E175-E1 tem sido praticamente a única opção de jato regional que se encaixa nas restrições dos EUA. Com a série CRJ fora de combate (os últimos aviões serão entregues em 2020) e os primeiros M100 chegando ao mercado apenas daqui a quatro anos, a fabricante nacional deve continuar a receber muitas encomendas do jato, mas à medida que o tempo passa, esse cenário pode mudar.
Embora seus executivos desconversem e apontem que a família E2 pode ocupar outros nichos de mercado, fato é que perder espaço para a Mitsubishi em um cliente como a Mesa Airlines é um sinal de alerta. A companhia aérea regional, que presta serviços para a United e American Airlines, possui nada menos que 60 unidades do E175-E1, além de 84 jatos CRJ700 e CRJ900, da Bombardier. Como se sabe, a Mitsubishi Aircraft adquiriu os jatos canadenses neste ano, passando a ter acesso à dezenas de clientes daqueles aviões.
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