Após ter desmentido que o programa SpaceJet seria suspenso, a Mitsubihi Heavy Industries (MHI) confirmou nesta sexta-feira, 30, durante divulgação de seus resultados, que a aeronave regional rival dos jatos da Embraer teve seu desenvolvimento “temporariamente pausado”.
Segundo a empresa, que controla a subsidiária Mitsubishi Aircraft, “dado o atual estado de desenvolvimento e as condições de mercado, não temos escolha senão pausar temporariamente a maioria das atividades da SpaceJet, exceto para documentação para a certificação de tipo. Vamos trabalhar para revisar onde estamos, fazer melhorias e avaliar uma possível reinicialização do programa”.
A paralisação das atividades vale para o plano de negócios 2021-2023 que começa em abril do ano que vem. A informação do “congelamento” do programa SpaceJet, que envolve uma família de jatos regionais com capacidade entre 70 e 90 passageiros, havia sido revelada pela agência japonesa Kyodo, mas negado veementemente pela MHI. “É verdade que estamos considerando várias possibilidades, mas não há verdade nos relatos de que decidimos congelar o desenvolvimento”, garantiu a empresa na semana passada.
Atualização dos jatos CRJ
Com o novo plano, a Mitsubishi deve alocar apenas US$ 192 milhões no programa, algo como R$ 1,1 bilhão, economizando cerca de US$ 1,15 bilhão com os cortes de investimentos e empregos – são esperadas 2 mil demissões relacionadas ao projeto, além de remanejamento de outros 4 mil funcionários.
Para voltar a lucrar, a MHI planeja se concentrar nos setores de energia renovável, mas acredita que a demanda do tráfego aéreo de passageiros deve voltar aos níveis do ano passado a partir de 2025.
Segundo a companhia, serão utilizados recursos das divisões de defesa para seguir com o desenvolvimento do M90, o primeiro modelo da família. Além disso, a Mitsubishi pretende compartilhar conhecimentos obtidos na linha de aviões CRJ, adquirida da Bombardier, para aprimorar o projeto em áreas como vendas e suporte e manutenção. A empresa ainda planeja estudar soluções de modernização da enorme frota de aeronaves CRJ.
Numerosos atrasos
O programa SpaceJet foi lançado originalmente em 2003 como o Mitsubishi Regional Jet (MRJ) com apoio do governo japonês que pretendia criar uma aeronave de passageiros nativa, algo que o país não possuía desde os anos 1960 quando foi lançado o turboélice NAMC YS-11 (conhecido no Brasil com o nome “Samurai”, operado pela VASP), mas que teve pouca adesão no mercado.
Desde então, a primeira versão, MRJ90 (atual M90), com capacidade para 90 passageiros, tem passado por inúmeros atrasos em seu desenvolvimento que culminaram com a revisão do projeto em 2019. O projeto já consumiu quase US$ 10 bilhões.
Além de mudar o nome da aeronave para SpaceJet, a Mitsubishi abandonou os planos para o MRJ70, um jato menor, para se concentrar no M100, que atenderia as cláusulas de escopo das companhias aéreas dos EUA, principal mercado do modelo.
O programa SpaceJet é atualmente o projeto de avião comercial mais atrasado do mundo, superando o jato chinês C919 da COMAC e o russo MC-21 da Irkut, que também acumulam uma série adiamentos.
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A Mitsubishi deveria pensar numa PARCERIA com a Embraer que possui know-how nesse tipo de avião.