A Mitsubishi Aircraft está planejando um voo inaugural discreto para o jato regional SpaceJet M90. O fabricante informou que a aeronave está “nos preparativos finais para o seu primeiro voo, que será anunciado nas próximas semanas”.
A ocasião, no entanto, não terá nenhuma cobertura midiática devido a proibição de grandes aglomerações de pessoas imposta no Japão para impedir a propagação do Covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus.
O surto de Covid-19, iniciado na China no final de 2019, está abalando as estruturas tráfego aéreo mundial, sobretudo na região Ásia-Pacífico, incluindo o Japão. Segundo a emissora NHK, o país registrou mais de 1.200 casos da doença.
O M90 é uma versão atualizada do MRJ90, aeronave que voou pela primeira vez em junho de 2015. Após uma série de atrasos e problemas no projeto, a Mitsubishi decidiu fazer uma grande reformulação no programa em junho do ano passado e a série abandonou o nome MRJ (Mitsubishi Regional Jet) e passou a se chamar SpaceJet.
Segundo o fabricante, o primeiro protótipo do M90 já foi submetido a ensaios de solo, incluindo testes de motor, aceleração na pista em potência máxima e provas de taxiamento.
“Depois que a aeronave concluir o primeiro voo, finalizaremos os planos para ingressar na frota de testes de voo em Moses Lake (no centro de testes da Mitsubishi Aircraft nos EUA) e começaremos as etapas finais do teste de certificação de tipo para o SpaceJet M90”, diz a empresa.
Avião mais atrasado do mundo
O programa SpaceJet da Mitsubishi é atualmente o projeto de avião comercial mais atrasado da indústria aeronáutica, superando até mesmo o C919 da chinesa COMAC. A aeronave foi anunciada pela fabricante japonesa em 2008 e as primeiras entregas eram previstas para 2013.
Passados sete anos do prazo original, a Mitsubishi já adiou o lançamento da aeronave seis vezes e ainda se esforça para iniciar a campanha de certificação. No informe mais recente, a fabricante divulgou que planejava iniciar as entregas do M90 entre o final de 2021 e início de 2022.
Além do M90, a empresa também está desenvolvendo o M100 (ex-MRJ70), versão com capacidade entre 65 e 88 passageiros e que deve chegar ao mercado em meados de 2024.
O menor modelo da família SpaceJet será um concorrente direto do Embraer E175-E2. As duas aeronaves são projetadas para atender principalmente o mercado de aviação regional dos EUA e devem se enquadrar nos limites de peso máximo de decolagem de 39.000 kg e capacidade máxima para 76 ocupantes, conforme estipulado na cláusula de escopo dos sindicatos de pilotos do país.
Os seguidos atrasos na conclusão e certificação da aeronave já custaram a Mitsubishi mais de 150 cancelamentos. A perda mais expressiva partiu da empresa norte-americana Trans States Holdings, que no ano passado desistiu de comprar 100 aeronaves (modelos M90). O backlog atual (aeronaves a entregar) da fabricante contém cerca de 400 pedidos. O operador de lançamento da aeronave será a companhia aérea japonesa All Nippon Airways.
Primeiro jato comercial do Japão
O SpaceJet é o primeiro jato comercial desenvolvido no Japão (não confundir com o HondaJet, uma aeronave de transporte executivo). A última vez que a indústria japonesa havia se aventurado na aviação comercial foi com o bimotor turboélice NAMC YS-11, produzido entre 1962 e 1974, e que ficou conhecido no Brasil com as cores da VASP, que o chamava de “Samurai”.
A Mitsubishi produz a série SpaceJet em sua instalação ligada ao aeroporto de Komaki, em Nagoya, mesmo local onde foi produzido o famoso caça A6M Zero durante a Segunda Guerra Mundial.
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