A Mitsubishi Aicraft informou recentemente que retomou os trabalhos para obter a certificação operacional do jato regional SpaceJet, após concluir uma reestruturação radical de seus negócios. Abalada pelos efeitos da crise econômica causada pela pandemia da Covid-19, a fabricante japonesa demitiu quase a metade de seus funcionários e fechou a base de testes em Moses Lake, nos EUA.
“Estamos trabalhando com nossa equipe de engenharia em um plano para obter a certificação de tipo de maneira eficiente”, disse Hisato Kozawa, diretor financeiro da Mitsubishi Heavy Industries (MHI), grupo industrial controlador da Mitsubishi Aircraft. “Assim que o plano for traçado, vamos colocá-lo em prática”, avisou o executivo, mas sem cravar uma data para o retorno dos voos.
No primeiro trimestre deste ano, a MHI registrou um prejuízo de US$ 673 milhões. Segundo o conglomerado japonês, o maior responsável por essas perdas foi justamente o programa SpaceJet, que hoje pode ser considerado o projeto de avião comercial mais atrasado do mundo.
O programa SpaceJet foi lançado originalmente em 2003 com o nome Mitsubishi Regional Jet (MRJ) com apoio do governo japonês que pretendia criar uma aeronave de passageiros nativa, algo que o país não possuía desde os anos 60, quando lançou o turboélice NAMC YS-11 “Samurai”.
Desde então, a primeira versão MRJ90 (atual M90), com capacidade para 90 passageiros, tem passado por inúmeros atrasos em seu desenvolvimento que culminaram com a revisão do projeto em 2019. De acordo com a fabricante, os protótipos do SpaceJet acumulam 3.900 horas de voo até maio.
Além de mudar o nome da aeronave para SpaceJet, a Mitsubishi abandonou os planos para o MRJ70, um jato menor, para se concentrar no M100, que atende as cláusulas de escopo das companhias aéreas dos EUA, principal mercado para esse tipo de aeronave.
Até a paralisação do programa em maio deste ano, a Mitsubishi vinha anunciando que o SpaceJet M90 poderia estrear no mercado em 2021 e o M100, em meados de 2023. Com a turbulência no mercado em função da pandemia, a fabricante parou de divulgar estimativas sobre a entrada em serviço das aeronaves.
Pelo porte e desempenho que oferecem, os jatos da Mitsubishi concorrem diretamente com o E-Jets 2 da Embraer. No entanto, os seguidos atrasos na conclusão da aeronave japonesa vem espantando a clientela e o programa até agora somou pouco mais de 100 pedidos.
Se fosse um projeto de uma fabricante consolidada, o SpaceJet certamente já teria sido descartado. Porém, concluir o avião agora é uma questão que envolve objetivos estratégicos e uma boa dose de orgulho do Japão. O SpaceJet é visto como uma chance de alavancar a indústria japonesa de aviação comercial e colocar o país asiático entre as poucas nações do mundo que produzem jatos de passageiros, custe o que custar.
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