Se dependesse de passageiros, a Antonov Airlines seria um fracasso total. Em vez disso, a companhia aérea ucraniana e suas parceiras oferecem um serviço único no mundo, o transporte de cargas especias, equipamentos que normalmente não poderiam ser entregues por via aérea pelo volume ou peso que tem.
Estamos falando de geradores, transformadores, caminhões, tanques, satélites, helicópteros, trens e até submarinos, sem falar nas missões humanitárias (como no apoio ao tsunami na Ásia em 2011) em que a capacidade de seus aviões faz toda a diferença.
Eis a razão do sucesso da empresa: ter uma frota de jatos An-124 Ruslan, um dos maiores aviões do mundo, e também o único An-225 construído até hoje, a mais pesada aeronave já usada em voos regulares.
Fim da União Soviética
A Antonov Airlines não é só peculiar por isso. O surgimento da companhia é, por si só, outro fato curioso. Como seu nome antecipa, ela é um braço da fabricante de aviões Antonov, fundada em 1946 e responsável por fornecer as maiores aeronaves usadas pela ex-União Soviética na época da Guerra Fria.
Na década de 80, a empresa projetou e construiu o An-124, uma espécie de rival do C-5 Galaxy americano, até então a maior aeronave militar de carga do mundo com capacidade para levar mais de 120 toneladas. Lançado em 1982, o An-124 bateu com margem esse recorde ao ser capaz de decolar com 150 toneladas a bordo.
Mais tarde, a Antonov foi chamada pelo governo soviético para criar uma versão maior ainda do An-124 capaz de transportar externamente o Buran, o ônibus espacial russo. Daí nasceu o que até hoje o maior avião do mundo em operação regular, o An-225 Mriya, que com seus seis motores detém o recorde de transporte com nada menos que 250.000 kg de carga.
No entanto, o colapso do bloco soviético a partir de 1989 colocou a Antonov numa encruzilhada. Seu maior cliente certamente não teria mais o mesmo apetite por encomendas então a saída encontrada pela fabricante foi abrir seu ‘portfólio’ para o resto do mundo.
Nesse mesmo ano, foi estabelecida a Antonov Airlines e um acordo com a agência de cargas britânica Air Foyle foi assinado para abrir mercado para que os An-124 pudessem ser usados em voos fretados de carga que exigissem requisitos incomuns para a época.
A parceria funcionou bem e de uma hora para outra, os gigantes Ruslan começaram a ser vistos ao redor do mundo em voos especiais.
Celebridade com asas
Em 2006, a Antonov trocou os ingleses pela companhia russa Volga-Dnepr com a qual criaram a joint-venture Ruslan International. Com ela, uma importante adição à frota chegou, o An-225.
Graças a essa combinação única de aviões, a Antonov passou a colecionar uma lista de missões incomum. No Canadá, o An-124 transportou vagões de trem para a Irlanda, nos Estados Unidos, um submarino de resgate da Marinha americana foi o “passageiro”, e até hoje a maior carga individual, um gerador de 190 toneladas foi levado a bordo do An-225, recorde na história.
A frota de aviões da Antonov também marca presença em missões humanitárias como no terremoto na Armênia, ou mesmo em tarefas ariscadas como retirar combustível nuclear do Iraque a pedido da ONU.
Ucrânia vs. Rússia
A capacidade dos dois aparelhos pode ser explicada não apenas pelos números superlativos de potência (equivalente a quase 200 Ferraris), mas também ao amplo espaço interno e a facilidade de carregamento proporcionada pelos dois acessos (frontal e traseiro). No An-225, por exemplo, são 43 metros de comprimento por 6,4 m de largura e 4,4 m de altura, o que oferece 1.300 m³ de volume de transporte.
Tamanho espaço interno permitiu que alguns equipamentos de dimensões equivalentes a de muitos aviões comerciais fossem levados com facilidade como as pás de um gerador eólico com 42 metros de comprimento, ou um ponte telescópica de 35 metros que viajou da China até o Rio de Janeiro, em junho passado.
O negócio promissor motivou a Antonov a reativar a produção do An-124 e chegar a cogitar a finalização do segundo An-225. Até 2004, cerca de 55 aeronaves haviam sido entregues quando a fabricante iniciou a montagem de três exemplares, batizados de AN-124-100M, mas até hoje eles seguem incompletos.
Mas os planos da companha ucraniana tomaram outro rumo com a crise do país com a Rússia, em 2014. O rompimento entre os dois países fez a Antonov perder seu maior cliente e a parceria com a Volga-Depr.
A saída buscada pela Antonov é se aproximar de parceiros ocidentais para não depender dos russos que, por sua vez, planejam construir um novo gigante de carga para compensar a impossibilidade de seguir com os aviões ucranianos.
Apesar do revés, a Antonov Airlines segue com sua capacidade singular de transporte e sendo requisitada em várias partes do globo com sua frota de mastodontes aéreos.
Veja também: An-225, o maior avião do mundo
Vi algumas vezes o 124 pousar e decolar no Recife.
Realmente é espetacular!
O AN-225esteve uma vez em Cumbica e eu fui vê-lo.
É ,simplesmente, inacreditável, não dá para acreditar que aquele gigante consiga decolar e voar a mais de 800km/h.
Só vendo para crer.