Se as previsões de 40 ou 50 anos atrás tivessem se confirmado na aviação, hoje os voos ao redor do mundo durariam poucas horas e os céus seriam cruzados por aeronaves hipersônicas e…barulhentas. Como se sabe, esse cenário não só não se tornou realidade como mudou. Os aviões comerciais atuais continuam voando em velocidades próximas do som, mas fazem menos ruído do que antes.
A primeira era supersônica, aliás, acabou em novembro de 2003 com o último voo do Concorde, que juntamente com seu rival russo, o Tupolev TU-144, ousaram transportar passageiros a duas vezes a velocidade do som. Apesar do desafio na época em que foram concebidos, os principais obstáculos não foram superados: o alto custo de operação desses aviões e o chamado “boom” supersônico, o fenômeno que ocorre quando uma aeronave voa mais veloz que o som. Romper essa barreira produz uma espécie de “trovão” graças a onda de choque que se forma quando o avião é mais veloz que o próprio som que ele emite.
Voar acima dessa velocidade é algo comum na aviação militar, mas raramente jatos sobrevoam regiões populosas em velocidade supersônica – essa capacidade é utilizada em momentos críticos de missões e não por muito tempo, porque exigem muito combustível.
Olhando dessa forma, a impressão é que os aviões supersônicos são algo impossível, mas projetos mais recentes mostram que não. Algumas companhias têm desenvolvido projetos de aviões executivos supersônicos, uma forma de oferecer um aparelho avançado de forma mais específica a quem pode pagar por isso.
Pode estar aí o primeiro passo para uma segunda era supersônica, mas o outro grave problema também precisará de uma solução, o estrondo contínuo causado por um voo de cruzeiro supersônico. É aqui que entra um ambicioso projeto da NASA, a agência espacial americana, em conjunto com gigante aeroespacial Lockheed Martin, o Quiet Supersonic Technology (QueSST), ou Tecnologia de Supersônico Silencioso.
Decibéis de uma conversa
Em fevereiro, a agência espacial anunciou o programa que pretende tornar viável o voo supersônico comercial. Ela assinou um primeiro contrato com a Lockheed para apresentar até o final de 2017 um design conceitual para uma aeronave de teste com cerca de metade do tamanho do futuro modelo de produção. Esse protótipo, que será tripulado, retomará a tradição dos aviões “X”, série de aparelhos de testes com os quais os americanos atingiram marcos importantes como a própria quebra da barreira do som pelo famoso piloto Charles “Chuck” Yeager em 1947.
Segundo a Lockheed Martin, o desafio não está exatamente em eliminar o “boom” supersônico, algo impossível, mas em amenizá-lo. Isso pode ser obtido, de acordo com estudos preliminares, ao alongar o nariz do avião: “Você tenta minimizar a onda de choque com um nariz muito comprido passando ao longo da fuselagem “, explica Thomas Corke , professor de engenharia na Universidade de Notre Dame e participante do projeto.
“A ideia é não evitar uma onda de choque supersônica, mas minimizá-la até um ponto em que seja quase imperceptível do solo”, completa Corke. A solução passa por transformar esse “boom” em pequenas ondas de choque. Para isso, os novos supersônicos terão narizes longos e ligados às asas, fazendo com que o efeito se distribua por todo seu comprimento. A expectativa é que o ruído no solo seja reduzido de cerca de 90 decibéis para algo em torno de 60 decibéis, que é o volume de uma conversa.
Proibido de voar
Segundo argumenta o governo americano, os voos supersônicos foram banidos de seu território devido às reclamações de moradores, incomodados pelos estampidos dos jatos quebrando a barreira do som. Com isso, o Concorde, o único jato supersônico ocidental, não pôde voar internamente nos Estados Unidos em velocidade acima do som, praticamente inviabilizando rotas mais lucrativas para Air France e British Airways. Há quem diga, no entanto, que tudo não passou de um pretexto para inviabilizar o modelo europeu.
Seja como for, caso a NASA tenha sucesso em sua empreitada, o voo supersônico de cruzeiro pode se tornar algo corriqueiro na aviação comercial. O protótipo, com cerca de 27 metros de comprimento, deverá voar por volta de 2020 e provar, na prática, que a quebra da barreira do som será um fenômeno menos notável que aquele seu vizinho que gosta de ouvir música em volume alto.
Veja mais: Para que servem os flaps no avião?
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