E os rumores sobre o fim da Norwegian Air Argentina estavam certos: a subsidiária da companhia aérea low-cost norueguesa foi vendida para a concorrente JetSmart nesta quarta-feira (4). Em operação desde 2018, a empresa tinha apenas três aviões 737-800 e estava longe de ter uma operação sustentável em meio à crise econômica argentina. “Estamos tomando as medidas necessárias para retornar à lucratividade”, afirmou Geir Karlsen, CEO interino do grupo que passa por problemas também na Europa onde cancelou rotas deficitárias.
Segundo a nota da Norwegian Air, a JetSmart assume a operação argentina imediatamente e transferirá as operações para o aeroporto Aeroparque em vez de El Palomar. Os três Boeing continuarão sendo usados até que sejam substituídos pelos A320 da companhia concorrente quando então retornarão à Europa. Apesar disso, as duas empresas acreditam que o processo de integração levará meses ainda.
“Estamos muito animados com a oportunidade de combinar os voos da Norwegian Air com nossas operações atuais. A JetSmart tem um compromisso de longo prazo com a Argentina e também com nossa visão de nos tornarmos a companhia aérea de baixo custo líder na América do Sul. Com esta transação, continuaremos fornecendo viagens aéreas acessíveis a nossos clientes, tanto dos aeroportos Aeroparque quanto El Palomar ”, disse Estuardo Ortiz, CEO da JetSmart.
“Acreditamos que o contrato que assinamos hoje com a JetSmart assegura uma parte significativa do que construímos nesses dois anos; continuidade da rede e oportunidades. Traz as duas novas companhias aéreas da Argentina para uma entidade combinada mais forte, que atualmente transporta cerca de 10% do mercado doméstico e se tornará a terceira maior operadora do país”, acrescentou Karlsen.
Participação modesta
Como citado pelo CEO da Norwegian, a participação das duas companhias é bastante pequena no transporte aéreo argentino. A maior low-cost do país, a Flybondi, possui 9% de participação, mas as companhias tradicionais ainda dominam o mercado – a LATAM possui 17% e a Aerolíneas Argentinas, 63% dos passageiros em relação a dados de outubro. A junção das duas companhias pode não ser o final de uma provável consolidação já que outras duas empresas, a Andes e a própria Flybondi, não gozam de tanta saúde financeira.
A Norwegian Air Argentina foi um projeto demorado e um tanto arriscado da matriz norueguesa, então chefiada por Bjørn Kjos, co-fundador da empresa fundada em 2002. Lançada em 2017, a iniciativa, no entanto, demorou a sair do papel. Em janeiro de 2018 o primeiro avião foi recebido mas a estreia no mercado argentino só foi ocorrer em outubro do ano passado. Desde então, a companhia nunca conseguiu uma presença significativa no país e ainda teve que devolver um dos aviões para a Europa por conta do aterramento do Boeing 737 MAX.
Em maio, o atual CEO interino, então responsável pela parte financeira, confessou em uma apresentação de resultados que se a subsidiária argentina não conseguisse operar no azul seria fechada: “Se nosso projeto na Argentina não corresponder ao planejado estamos preparados para nos retirar”, afirmou o executivo na época. Dias depois, a companhia lançou novas rotas na tentativa de sinalizar que o negócio era viável.
Para melhorar os resultados, a empresa enxugou voos e conseguiu melhorar a ocupação das aeronaves, mas ainda assim abaixo de companhias como a LATAM e Flybondi. Na semana passada, a Norwegian Air avisou agentes de viagens que sua malha só poderia ser reservada até o dia 28 de março. Foi a deixa para que rumores brotassem afirmando que era o fim da companhia e que ela seria vendida para a JetSmart. A assessoria da companhia aérea ainda tentou passar a impressão de que se tratava de algo corriqueiro, mas não comentou a suposta venda para a concorrente.
Olhando o cenário global, a saída da Argentina era algo bastante esperado diante dos desafios que a Norwegian Air tem pela frente. Desde que Kjos deixou o cargo de CEO em julho, a empresa tem buscado reduzir custos para equilibrar suas contas, bastante prejudicadas por fatores como o aterramento do 737 MAX e os problemas com os motores do Boeing 787.
Apesar de deixar a Argentina, a Norwegian Air fez questão de afirmar que o voo entre Buenos Aires e Londres continuará ativo, não sendo afetado pelo negócio.
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