Uma “revolução” está prestes a começar na vizinha Argentina e não estamos falando de algum golpe militar de direita ou esquerda. Será a estreia da Norwegian Air Argentina, braço local da terceira maior companhia aérea ‘low-cost‘ da Europa. Fundada em março do ano passado, a nova empresa acaba de receber seu primeiro avião, um Boeing 737-800 com a pintura do bandoneonista e compositor argentino Astor Piazzolla na cauda. E, na última sexta-feira (26), o esperado certificado que a autoriza a iniciar seus voos, entregue pelo governo argentino.
“Recebemos o certificado com grande entusiasmo e honra, e é um marco importante para nossa jornada na Argentina”, disse Ole Christian Melhus, CEO da Norwegian Air. Com esse documento, a Norwegian passa a ser reconhecida como companhia comercial e apta a realizar a operar.
Agora a nova companhia corre para colocar em prática seu ambicioso projeto que contempla nada menos que 152 destinos, 80 deles no exterior (e boa parte no Brasil) nos próximos 15 anos. A Norwegian tinha como meta iniciar seus voos no final do ano passado, mas não conseguiu o certificado antes. Também a primeira aeronave acabou só sendo entregue no dia 15 de janeiro. Outros nove jatos do tipo serão entregues em breve a fim de permitir que a Norwegian possa iniciar seus voos de Buenos Aires, Córdoba e Mendoza.
Mas é um voo internacional com o novo Boeing 787 que fará a estreia da companhia em território argentino. A rota Londres-Buenos Aires será iniciada no dia 14 de fevereiro com quatro frequências semanais. Há planos para voar também para Espanha, Itália, França e até para destinos pouco comuns na América do Sul como o Havaí e o Taiti.
Além da agressividade, a Norwegian também quer ser conhecida pelo conceito “tarifas baixas” e não “baixo custo”, como são chamadas essas companhias como Ryanair, Southwest e a própria Norwegian. Segundo afirmou Ole Christian Melhus à revista Apertura, “Realmente não gosto da expressão de baixo custo, porque quando se trata de elementos como a qualidade e a segurança, não somos de baixo custo. Nós investimos muito em treinamento de pilotos e tripulação. Temos aeronaves muito novas, que são eficientes. Somos uma organização muito enxuta”, explicou.
Pressão nas companhias aéreas tradicionais
A chegada da Norwegian Air à Argentina marca uma virada na aviação comercial do país vizinho após um período de reestatização patrocinada pelo casal Kirchner que esteve na Casa Rosada (sede do governo do país) por 12 anos. Seu sucessor Mauricio Macri aposta justamente numa receita inversa, a desregulamentação do mercado de aviação e isso tem atraído vários ‘players’ globais como a Ryanair mas também iniciativas locais como a Flybondi.
O entusiamo do governo é tamanho que até mesmo a tradicional base militar de El Palomar, nos arredores de Buenos Aires, passará a receber voos comerciais – inclusive da Norwegian. Ainda assim, teme-se que o objetivo da companhia norueguesa seja abatido pela atuação dos sindicatos e também da pressão das companhias aéreas mais tradicionais. Para Melhus, o efeito da entrada de uma ‘low-cost’, ou melhor, ‘low-fare’, é justamente o contrário, ampliar o mercado para todos.
Nesse cenário, a investida da Norwegian na rota Brasil-Argentina deve causar reflexos importantes nas quatro companhias brasileiras. Presas a uma regulamentação excessiva e a custos mais salgados em algumas áreas, LATAM, Gol, Azul e Avianca podem penar nas mãos de uma empresa eficiente como a Norwegian. Ao menos por enquanto ela não pretende fincar os pés por aqui.
Veja também: Ryanair desiste de voar para o Brasil por causa da ‘corrupção’