Nova empresa de SP está projetando o substituto do Embraer Bandeirante

Projeto ATL-100 da Desaer, de São José dos Campos, pode virar realidade em cerca de 5 anos; aeronave 100% nacional é proposta em versões comercial e militar
(Divulgação)
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O preço inicial do ATL-100 é estimado em US$ 5,5 milhões (Divulgação)

Vizinha da Embraer em São José dos Campos (SP), a Desaer (abreviação para “Desenvolvimento Aeronáutico”) apresentou nesta semana os primeiros detalhes do projeto ATL-100, aeronave que a empresa acredita ser o substituto ideal para os antigos turbo-hélices EMB-110 Bandeirante, pioneiro avião que no próximo dia 22 de outubro completa 50 anos de seu voo inaugural.

“O ATL-100 é um projeto 100% nacional e pode atender as demandas das forças armadas brasileiras e do transporte aéreo regional do país e de outras nações”, disse Evandro Fileno, ex-engenheiro da Embraer e um dos sócios fundadores da Desaer, em entrevista ao Airway.

Formada por ex-funcionários da Embraer, a Desaer está instalada na Incubaero, uma incubadora de empresas e projetos aeronáuticos da Fundação Casimiro Montenegro Filho, no DCTA – Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial. O plano da empresa é transformar o ATL-100 em realidade nos próximos quatro anos.

“O projeto de engenharia da aeronave deve levar de 2 a 3 anos para ser concluído e, em seguida, será necessário mais um ano para construir dois protótipos”, afirmou Fileno. “Já tivemos reuniões com o BNDES. O custo do projeto gira em torno de US$ 80 milhões.”

O ATL-100 é um avião da categoria “Commuter”, também chamados no Brasil de “aviões-utilitários”. Por definição, esse é um segmento restrito a aeronaves com motores turbo-hélice, capacidade para até 19 passageiros, peso máximo de decolagem em torno de 8.600 kg e sem cabine pressurizada.

O projeto da Desaer ainda inclui algumas características que aumentam a performance e as possibilidade operacionais da aeronave, como a asa alta e o conjunto de trem de pouso fixo (o Bandeirante, por exemplo, tem asa baixa e trem de pouso retrátil). Esses componentes são ideais para aviões desenvolvidos para exercer trabalhos pesados, como pousar e decolar a partir de pistas semi-preparadas de terra ou grama – ou mesmo locais sem pista alguma.

A versão militar do ATL-100 é proposta para transportar 12 soldados paraquedistas com equipamento completo, capacidade semelhante a do Bandeirante (Divulgação)
A versão militar do ATL-100 é proposta para transportar 12 soldados paraquedistas com equipamento completo, capacidade semelhante a do Bandeirante (Divulgação)

Oportunidades

“Esse é um tipo de avião que nunca morre. O problema é que os principais produtos dessa categoria são todos antigos, das décadas de 1960 e 1970, como o DHC-6 (Twin Otter) e o próprio Bandeirante”, ressaltou o sócio-fundador da Desaer. Fileno ainda citou uma pesquisa de mercado que aponta a necessidade de 2.100 novos aviões commuter nos próximos 20 anos. “Alguém precisa preencher essa lacuna e esse movimento também vai acontecer no Brasil”, acrescentou.

Apesar de novata no mercado, a Desaer já está chamando atenção. “As forças armadas do Brasil já demonstraram interesse no ATL-100, assim como a Embraer e até mesmo a Boeing. Também já conversamos com a companhia aérea Azul, que está interessada nesse ramo de aeronaves para aviação regional”, revelou Filemo.

O porta-voz da Desaer ainda afirmou que a empresa já foi procurada por fundos de investimentos do Oriente Médio e da China, que demonstraram interesse de investir no ATL-100. “Nosso plano, porém, é conseguir parceiros e investimentos aqui no Brasil. A própria região de São José dos Campos conta com fornecedores que podem colaborar no projeto.”

A aeronave poderá carregar cerca de 2.500 kg em cargas (Divulgação)
A aeronave poderá carregar cerca de 2.500 kg em cargas (Divulgação)

“O objetivo da Desaer é atuar em mercados que foram abandonados pela Embraer. Além de um substituto para o Bandeirante, também pensamos em aviões maiores, como um substituto para o Brasília (EMB-120)”, disse Filemo.

O avião

O nome ATL-100 é uma sigla para “Avião de Transporte Leve”. Segundo dados da fabricante, o modelo é projetado para voar a velocidade máxima de 430 km/h (e cruzeiro de 380 km/h) e terá uma autonomia de aproximadamente 2.000 km (ou cerca de 570 km totalmente carregado). A aeronave também já tem preço: US$ 5,5 milhões (R$ 21,3 milhões).

“Queremos que o avião seja totalmente autônomo nos aeroportos, por isso ele será equipado com uma rampa traseira. Desta forma não será necessário equipamentos e veículos específicos de apoio em solo para realizar os embarques e desembarques de cargas. Assim é mais fácil e mais barato”, contou Fileno.

A versão comercial do ATL-100 tem espaço para até 19 passageiros (Divulgação)
A versão comercial do ATL-100 tem espaço para até 19 passageiros (Divulgação)

Na visão do sócio-fundador da Desaer, o ATL-100 tem potencial para ser um avião único em sua categoria por conta da porta/rampa na traseira da fuselagem. “O único avião que se aproxima das características do ATL-100 é o Cessna SkyCourier, que ainda não voou e não tem rampa traseira”, completou.

O lançamento oficial do projeto ATL-100 da Desaer está marcado para o próximo dia 17 de outubro, no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em São José dos Campos.

Veja mais: CBA-123, o super-avião da Embraer que ficou no passado

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  1. 21 milhões? Vocês teriam como informar a formação deste preço ? Acho absurdo custar tudo isso.

  2. Caro Fausto, essa é a estimativa de valor da própria Desaer. E digo mais, está barato. Procure saber os valores de outros aviões dessa categoria, como o Twin Otter ou o Dornier Do-228. Talvez o valor te assuste por que está em reais, mas em dólar é uma cifra competitiva.

  3. Eu gostaria que esta empresa tivesse pleno sucesso e que o lançamento fosse até mais rápido e que surgissem empresas regionais atendendo quaisquer cidades com pista de pouso. Acho um absurdo perder quatro horas de veiculo ou 5 horas mais atrasos “normais” das empresas de ônibus para um trajeto de 350 km. Invejo os gringos que tem empresas que atendem até em regiões geladas do Alasca e nós, NADA. E ainda tentam convencer que o inventor do avião foi Santos Dumont.

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