A aviação comercial na Rússia não está sendo afetada apenas pela suspensão do suporte técnico aos aviões fabricados no Ocidente. Também projetos de aeronaves russas já sofrem as consequências das sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos, Europa e outras nações, em resposta à invasão militar na Ucrânia.
Mais avançado avião comercial já desenvolvido na Rússia, o MC-21, desenvolvido pela Irkut, só deverá entrar em produção em grande escala em 2024, reconheceu o Ministro da Indústria e Comércio, Denis Manturov.
“O fornecimento de componentes nos foi negado como parte de nossa extensa cooperação internacional, apesar do fato de que até mesmo pedidos pré-pagos estão congelados hoje e não são entregues. E não há explicação”, lamentou Manturov em uma entrevista nesta terça-feira, 22.
A United Aircraft Corporation (UAC) ainda planeja entregar os dois primeiros jatos para a companhia aérea Rossiya Airlines no final deste ano para dar início a uma fase pré-operacional. Serão aeronaves da versão MC-21-300, que utiliza motores turbofan da Pratt & Whitney, cujo fornecimento foi suspenso.
“Muito provavelmente, esta [produção em série] será em 2024 após a conclusão da substituição de importação, conclusão de todos os procedimentos de certificação, porque qualquer componente substituído requer procedimentos de teste apropriados na aeronave”, acrescentou.
A variante MC-21-310 é a esperança russa de não depender de peças ocidentais. Ela é equipada com motores PD-14 desenvolvidos no país. Além disso, a UAC conseguiu estabelecer uma alternativa para o fornecimento das asas em material composto no ano passado.
SSJ-100 dependente do Ocidente
A situação mais preocupante envolve o SSJ100, um jato regional desenvolvido pela Sukhoi e que opera em várias companhias aéreas russas.
Embora tecnicamente avançado, o SuperJet tem apresentado imensos problemas de confiabilidade. Além disso, muitas peças e equipamentos são ocidentais como os motores fornecidos por uma joint-venture entre a Safran e a russa NOP Saturn. O temor das autoridades russas é que parte dos jatos deixe de voar por falta de peças de reposição.
Já o Ministro dos Transportes da Rússia, Vitaly Savelyev, teria feito pesadas críticas a respeito dos jatos comerciais russos produzidos nas últimas décadas. Ele afirmou que o Il-96, o Tu-204 e o próprio SSJ100 se mostraram ineficazes comercialmente.
“Qual é o principal problema do Sukhoi Superjet? Estamos voando 148 jatos, mas a parte de componentes importados neles é enorme. O que acontece se eles funcionarem mal? Como podemos mudá-los? Sim, temos o PD-8 [motor russo], mas ele entrará em serviço apenas em 2023”, disse.
Sobre o quadrimotor Il-96 e o Tu-204, que são cogitados para voltar a ser produzidos em grande escala, o membro do governo Putin os considerou “não competitivos”, já que consomem muito combustível, o equivalente a um terço do valor do bilhete aéreo.
Savelyev prometeu, no entanto, finalizar a montagem de cinco células de widebodies que estão incompletas há anos, dois Il-96 cargueiros e três Il-86 de passageiros. “Eles serão concluídos. Eles estão inacabados na fábrica em Voronezh. E nós os colocaremos em voo”, garantiu.