Grande negócio da Embraer nos últimos anos, os aviões comerciais não farão mais parte do catálogo da marca brasileira. A divisão que consagrou a empresa no mercado mundial será controlada pela Boeing, que até o final deste ano deve concluir os últimos pontos da joint-venture e assumir os negócios nessa área com o novo nome Boeing Brasil Commecial.
Ainda dona das divisões de aviação executiva e de defesa, a Embraer não vai acabar. Uma parte importante se foi, é verdade, mas uma nova área também está nascendo. O próximo grande “business” da empresa brasileira na aviação é a EmbraerX, empresa formada pelo grupo em 2018 para desenvolver veículos elétricos aéreos urbanos, os eVTOL ou táxis aéreos urbanos, ou carros voadores, drones…
“É uma coisa tão nova que até o nome do veículo é indefinido, mas eles estão chegando”, anunciou André Stein, diretor de estratégia da EmbraerX, em entrevista ao Airway. “Ainda não tem uma data de lançamento, mas vai acontecer mais cedo do que muitos imaginam.”
A EmbraerX trabalha no projeto dos táxis aéreos urbanos em parceria com a Uber. Como se sabe, a empresa de transporte de mobilidade urbana quer lançar na próxima década um serviço com veículos aéreos, o Uber Air. Utilizando aplicativos em smartphones, passageiros poderão fazer reservas de assentos em voos compartilhados e viajar entre os “skyports” espalhados pelas cidades, as estações dos eVTOLs.
A ideia da Uber é implantar o serviço em grandes centros urbanos, sobretudo nas cidades com mais congestionamentos de carros. “O conceito dos eVTOL não soluciona o problema do trânsito. Não temos a ‘bala de prata’ para isso. O projeto é uma alternativa de mobilidade urbana, uma nova forma de se deslocar por uma cidade movimentada”, explica Stein.
A iniciativa da Uber também tem a participação de nomes consagrados da indústria, como a Boeing, por meio da divisão Aurora Flight Sciences, a Bell Helicopter, e empresas não tão conhecidas, como a Karem Aircraft e a Pipistrel.
Para o diretor de estratégia da EmbraerX, a participação de tantas companhias em projetos dessa natureza é positiva e vai ajudar no desenvolvimento da tecnologia. “Não existe uma corrida para desenvolver o primeiro eVTOL operacional. Eles vão aparecer naturalmente e a demanda vai ser alta, por isso serão necessários mais fabricantes envolvidos nesse ramo”.
Quanto mais automatizado, melhor (e mais barato)
Como em qualquer outro projeto aeronáutico, o eVTOL precisa passar por uma extensa fase de desenvolvimento e testes de segurança, afinal são veículos projetados para voar. Não só isso, toda a forma como eles serão operados também precisa ser criada. Para “desenhar” essa nova fronteira no espaço a aéreo, a Embraer publicou o FlightPlan 2030, um documento onde a empresa apresenta soluções de controle de tráfego aéreo para receber os táxis voadores.
Mas além de super tecnológico, o Uber Air também é proposto como uma alternativa de transporte acessível. O plano da empresa no longo prazo é cobrar preços (por assento) equivalentes ao de corridas de UberX.
Para Stein, os eVTOLs terão custos baixos de operação, embora não tenha projetado uma cifra. “Eles são elétricos. Com combustível seria 30% mais caro. Os voos serão oferecidos em serviços compartilhados e, por fim, o controle autônomo. Tudo isso vai ajudar a reduzir os custos.”
“A eficiência energética de uma bateria ainda não alcança a do combustível fóssil, mas a área está recebendo importantes avanços. O que existe já dá pra fazer muita coisa. Já o controle autônomo vai permitir a implementação de mais veículos nas operações”, disse o diretor da EmbraerX.
Stein explica que o veículo com controle autônomo é a “solução final” para o projeto, mas reconhece que ele deve ser iniciado com pilotos a bordo. “No começo, os pilotos vão ajudar a definir os procedimentos de voo e rotas. Com os avanços no veículo e dos sistemas de tráfego aéreo, o controle autônomo será introduzido”, prevê o executivo.
“O controle autônomo de um eVTOL pode ser mais simples que o de um carro autônomo. No céu você não corre o risco de levar uma fechada no cruzamento ou atropelar alguém”, compara Stein.
Os projetos da EmbraerX correm nas sedes da Embraer no Estados Unidos, em Melbourne, Boston e no Vale do Silício. “Estamos próximos dos maiores centros de desenvolvimento tecnológico do mundo”, disse Stein, lembrando do MIT e a universidade de Harvard, em Boston, e a NASA, em Melbourne.
Desde 2016, a Uber vem realizando o Uber Elevate, uma reunião com fabricantes, autoridades e investidores para discutir e apresentar os avanços no transporte aéreo urbano. A próxima edição do evento será em Washington, entre os dias 11 e 12 de junho. A EmbraerX vai participar do encontro e promete apresentar novidades. “Os eVTOL estão chegando, não tem mais volta”, encerrou o diretor da EmbraerX, a divisão que pode virar o carro-chefe da Embraer no futuro.
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