O que aconteceu com o porta-aviões do Brasil?

Precisando de reparos e sistemas modernizados, NAe São Paulo, o quinto maior navio desse tipo no mundo, não navega desde 2014
O NAe São Paulo, ex- FS Foch, foi construído na França, no final da década de 1950 (Marinha do Brasil)
O NAe São Paulo, ex- FS Foch, foi construído na França, no final da década de 1950 (Marinha do Brasil)
O NAe São Paulo, ex- FS Foch, foi construído na França, no final da década de 1950 (Marinha do Brasil)
O NAe São Paulo, ex- FS Foch, foi construído na França, no final da década de 1950 (Marinha do Brasil)

O porta-aviões é o que se pode chamar de arma majestosa. São navios enormes que carregam aeronaves com diferente funções e capazes de impedir um ataque hostil, ou então realizar uma missões de ataque em qualquer ponto do planeta. Não fosse por esse tipo de embarcação, os Estados Unidos com sua poderosa marinha, talvez não teriam tanto poder e influência no mundo, seja econômico ou militar. Em outras palavras, é um instrumento de dissuasão com alto poder de convencimento.

O Brasil é o único país na América Latina e um dos poucos no mundo que possuem um porta-aviões, o NAe São Paulo – apenas outras sete nações possuem esse tipo de embarcação. Quinto maior navio-aeródromo já construído, o navio da Marinha do Brasil possui duas pistas com catapultas de lançamento e pode navegar transportando dezenas de aeronaves. No entanto, o São Paulo não navega desde 2014.

“Atualmente, o navio passa por uma série de inspeções e avaliações para ter o seu sistema de propulsão modernizado. Recentemente, foi concluída a inspeção estrutural em todo o casco, para se avaliar a possibilidade de realização das obras previstas e reavaliação do prognóstico de vida útil. Os elementos estruturais do navio encontram-se em ótimo estado de conservação, necessitando pequenos reparos”, explicou o contra-almirante Flávio Augusto de Rocha Viana, que também é diretor de comunicação da Marinha do Brasil (MB), ao Airway.

“A próxima fase é de delineamento e orçamento das obras da modernização, com a elaboração de projetos básicos, especificações para licitações, levantamento de empresas, e etc”, acrescentou o Viana.

O NAe São Paulo é o quinto maior porta-aviões já construído na história, com 266 metros de comprimento (MB)
O NAe São Paulo é o quinto maior porta-aviões do mundo, com 266 metros de comprimento (MB)

Capacidade de combate do NAe São Paulo

Como explicou a Marinha, as funções do porta-aviões São Paulo são as seguintes: controlar uma área marítima, negar uso do mar ao inimigo e projetar poder sobre terra. A embarcação pode transportar 40 aeronaves, entre aviões de asa fixa e helicópteros, como o caça A-4 Skyhawk e o helicóptero anti-submarino Sea Hawk.

“O navio é capaz de transportar e operar todos os modelos de aeronaves da MB, bem como praticamente todos os tipos atuais de aeronaves projetadas para operação em navios”, contou o contra-almirante.

De acordo MB, o São Paulo pode navegar por uma distância de até 18.000 km. Ou seja, é capaz de cobrir todo o litoral brasileiro, com cerca de 8.500 km de norte a sul, até duas vezes. A embarcação ainda pode ser reabastecida no mar, com apoio de navios-tanque, o que torna seu raio de alcance praticamente ilimitado. Já a tripulação é composta por 1.500 profissionais e o barco ainda possui espaço para receber mais 800 pessoas.

Caça A-4 Skyhawk freia ao engatar seu gancho nos cabos pelo convés de voo do NAe São Paulo (MB)
Caça A-4 Skyhawk freia ao engatar seu gancho nos cabos pelo convés de voo do NAe São Paulo (MB)

O porta-aviões brasileiro também está entre os mais rápidos do mundo. Pode alcançar a velocidade máxima de 32 nós (55 km/h). A propulsão vem de um conjunto de caldeiras e 12 turbinas a vapor que geram cerca de 126.000 cavalos de potência, responsáveis por deslocar as mais de 33 mil toneladas da maior embarcação militar do hemisfério sul, com 266 metros de comprimento.

Em caso de guerra, o porta-aviões é uma arma de valor imensurável. Por isso, nessas situações eles nunca navegam sozinhos. “Um porta-aviões, quando se faz ao mar, é sempre a unidade de maior valor presente na esquadra. Assim, necessita ser acompanhado por uma força de escoltas diversificada e variada, de forma que lhe seja proporcionado um ambiente seguro para o desenvolvimento de suas ações. Essa força de escolta será composta, basicamente, por fragatas e corvetas, com capacidade de defesa contra navios de superfície e, especialmente, defesa contra submarinos, que representam a principal ameaça a um porta-aviões”, explica Viana.

Helicóptero HB-350B Esquilo da Marinha operando a partir do São Paulo (MB)
Helicóptero HB-350B Esquilo da Marinha operando a partir do São Paulo (MB)

A frota de apoio ao porta-aviões da Marinha ainda pode incluir navios de apoio logístico, embarcações de transporte de tropas e submarinos, dependendo da duração e do tipo de missão que a esquadra deverá cumprir.

Mar de problemas

A trajetória do maior navio que já foi operado no Brasil é repleta de problemas e marcada por acidentes, alguns com consequências fatais – quatro pessoas já morreram a bordo do NAe. A embarcação chegou ao país no ano 2000, adquirida da França por cerca de US$ 12 milhões, na intenção de substituir o NAe Minas Gerais, o primeiro porta-aviões da marinha brasileira, operado entre 1960 e 2002.

O NAe São Paulo nasceu com o nome “FS Foch”. A embarcação foi construída na França entre 1957 e 1960, e chegou a participar de missões de combate real na África, Oriente Médio e Europa, até ser descomissionada da marinha francesa (Marine Nationale) e substituído pelo FS Charles de Gaulle, de propulsão nuclear, no ano 2000.

NAe São Paulo quando ainda era o "FS Foch", navegando com a marinha da França (Domínio Público)
NAe São Paulo quando ainda era o “FS Foch”, navegando a serviço da França (Domínio Público)

Para voltar a navegar, o São Paulo precisa de uma renovação completa do sistema de propulsão. A Marinha ainda estuda modernizar o sistema da catapulta de lançamento de aeronaves, assim como os sistemas de busca e navegação da embarcação militar. O programa de atualização previsto para o NAe São Paulo deve ser concluído em 2019 e pode aumentar a vida útil do navio em mais 20 anos.

“A principal obra de modernização refere-se à substituição do sistema de propulsão do navio, com a retirada da planta a vapor, com suas caldeiras, condensadores e turbinas originais, e instalação de geradores e motores elétricos, semelhantes aos empregados nos grandes navios mercantes modernos. Obviamente, de forma que o navio acompanhe os avanços tecnológicos e mantenha-se atualizado, por toda sua vida útil, obras complementares de modernização das catapultas, dos sensores e de outros sistemas e equipamentos estão sendo estudadas”, revelou o diretor de comunicação da MB.

Desde que chegou ao Brasil, o porta-aviões São Paulo passou mais tempo parado na base da MB, na Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, do que navegando. Em 2005, a embarcação foi estacionada para uma série de reparos e voltou ao mar somente em 2011. No entanto, parou novamente em 2014.

NAe São Paulo parado na Ilha das Cobras, de onde não saiu desde 2014 (Thiago Vinholes)
NAe São Paulo parado na Ilha das Cobras, de onde não saiu desde 2014 (Thiago Vinholes)

A vida útil dos caças A-4 também é outro problema. Os modelos da série AF-1, modernizada pela Embraer, devem voar somente até a metade da próxima década. Quando esse dia chegar, as aeronaves terão de ser desativadas. Para ocupar essa lacuna, o comando da MB estuda adotar uma versão naval do caça Saab Gripen NG, ainda em fase de estudo.

O porta-aviões São Paulo foi um antigo sonho da Marinha, justamente para poder operar aeronaves de asas rotativas – a operação de aeronaves da asa fixa no Minas Gerais era realizada exclusivamente pela Força Aérea Brasileira (FAB).

Os caças A-4 da Marinha devem parar de voar na próxima década (MB)
Os caças A-4 da Marinha devem parar de voar na próxima década (MB)

“Para o Brasil, em especial, cuja área marítima de responsabilidade e onde exerce sua soberania e direitos econômicos possui aproximadamente 4,5 milhões de quilômetros quadrados, com riquezas conhecidas e desconhecidas inestimáveis, a importância desse tipo de navio é ainda maior. A preocupação em assegurar a sua proteção e defesa, não é só uma necessidade, mas um dever da Marinha”, completou o contra-almirante da MB. Mas, para isso, o NAe São Paulo precisa voltar ao mar.

Veja mais: Os caças do terceiro mundo

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  1. A sorte para os militares brasileiros é que ainda não tem inimigos de altos calibres para enfrentarem, pois, nas “toadas” como seguem a FAB, Marinha e Exercito hummm…. sei não.

  2. Como não sou profissional da área, estou aqui apenas como “palpiteiro” e curioso. Como tal, questiono: O Brasil realmente precisa de um porta aviões? Mais: Pode arcar com os custos elevados do mesmo? Com todo respeito à Marinha do Brasil, negar o uso do mar, o que faz bem é o submarino. Na guerra das Malvinas/Falklands bastou a Inglaterra torpedear o cruzador Belgrano com a perda de centenas de vidas que TODA a Marinha Argentina ficou atracada pelo resto da guerra, inclusive o porta aviões 25 de Mayo. A MB sabe disso e busca seu sub nuclear. Custos altíssimos. Precisamos projetar força? Não é da tradição secular brasileira. Não haveria outras maneiras de fazer isso com custos mais acessíveis, como ampliar a frota de aviões de patrulha armados com equipamento moderno, aviões de caça como o Sea Gripen baseados em terra. Já foi cogitado construir uma pista em Trindade nos moldes da de Madeira em Portugal. A China desenvolveu um míssil balístico apelidado de carrier killler para tentar fazer frente aos EUA e que tem despertado a preocupação nos americanos. Porta aviões é pra quem tem MUITO dinheiro. A Inglaterra está suando muito pra tentar viabilizar seus dois navios aeródromos. A França teve de ficar em um só. A MB vive em contingenciamento de verbas. É fato. Pra fazer busca e salvamento de pescadores e etc, muitas vezes tem de pedir ajuda a particulares. Havia necessidade de Copa? De Olimpíada? Precisamos de Porta aviões? Podemos pagar? Com a palavra os experts…

  3. O que acham do BRasil projetar seus próprios caças? Criar novas tecnologias, que ajude melhor autonomia em nosso terreno e necessidades? Lógico que isso é um investimento alto, mais se em um futuro ocorrer uma oportunidade dessas, seria uma boa?

  4. O Brasil, pelas riquezas que possui, tem condições de ter as forças armadas mais bem equipadas do planeta. Mas infelizmente temos ladrões no poder que só sabem dilapidar o patrimônio da nação. Parabéns aos nossos bravos militares que se desdobram ao máximo para defender o país.

  5. O Brazil precisa de políticos honesto.veja aqui no RJ.aquela aquarela em Brasília é puro teatro. Está beneficiando muita gente, com certeza não irei votar em ninguém.

  6. Por sermos pequenos em ambição medíocres em pesquisa carentes de educação e acesso à saúde sempre foi vendido pelo patrão no passado os portugueses, seguidos dos barões, hoje grandes donos das terras e recursos financeiros nunca tiveram compromisso pensado, planejado a construção de uma nação. Somos apenas um país desenvolvendo leis e comportamentos para enchugar gelo. Pensaria como japoneses, coreanos e chineses: quero ser grande, forte, culto e buscar o poder, sim poder poder!!!! Deu no que deu vejam suas forças militares, econômicas e intelectuais… Percebam suas cidades, universidades, comportamento, e nós continuamos no varejo… Intelectualidade académica institucionalizada, políticos sem visão e nenhum foco ou propósito, sociedade descompromissada com a cidadania, ou seja, todos moramos num país desejando viver numa grande nação!! O que seu pai é o meu fizeram?? O que eu e você fazemos hoje?? Nossos filhos fadam alguma coisa?? Depositar responsabilidades as autoridades é muito pequeno e ineficaz, por isso que nada se resolve. Marinha Brasileira deve investir cada puto de real em tecnologia sim, sim,sim alguém tá tentando fazer alguma coisa: BRAVO!!!!

  7. É bom que o Brasil tenha uma marinha pelo menos mais bem equipada do que a atual pela imensidão do nosso litoral, isso é altamente necessário, assim como aparelhar melhor nosso exercito, e aeronautica sou totalmente a favor,isso deveria ter prioridade sobre copa, olimpiada, estádios e tantas outras idiotices, mas estes últimos governantes petistas, fizeram exatamente o contrário abriram nossas fronteiras para quem quiser entrar, e ainda por cima com privilégios!!Qual será o futuro de nossa soberania!!!

  8. Mais uma tranqueira de segunda mão, com aviões projetados na década de 50 que vai acabar enferrujando no cais por falta de verba para manutenção.

  9. Gostaria de ver a marinha operando 3 porta-aviões. Dessa forma teríamos pelo menos um navegando enquanto os outros seguem em reparos. Pode-se dizer que o Brasil não possui porta-aviões pois o único que temos passa mais tempo estacionado do que em operação.

  10. esse porcaria matou 5 marinheiros e contaminou dezenas com o interior cancerigéno. não vale um níquel gasto do meu imposto. só não jogam fora que teriam una almirante jogados na reserva junto

  11. No tempo do Império o Brasil tinha a segunda maior Marinha do mundo, ficando apenas atrás da Inglaterra. Assim, não será apenas idealismo possuir novamente uma poderosa força naval. Afinal de contas, o Brasil é uma país de grande dimensões e e de muita riqueza naturais. Assim, no mundo conturbado de hoje, seria melhor ter um poder naval adequado ao seu tamanho, do que ter que enfrentar em um futuro desconhecido um possível Inimigo mais bem preparado militarmente.

  12. O Brasil precisa urgente da chegada dos primeiros caças Gripen, de 5° geração, eles vão começar a chegar ano que vem, a última modernização que está sendo realizando hoje no São Paulo vai durar até 2018 ou 2019, ele precisa voltar e se manter no mar, chega de reparos. Finalmente estamos evoluindo e os projetos estão sendo seguidos.

  13. E pelo que tudo indica vai demorar. Sou favoravel uma estragetica Naval diferente. Como ficou provado na II Guerra, a defesa territoria, com uma projeção nacional de aguas de 200 milhas (380km) a necessidade de uma NAe seria para a Esquadra ter um “flagship” e com isto justificar o posto de Almirante-de-Esquadra. Utilizando as lições obtidas a II Guerra, ainda válidas, e agora mais ainda pela extensão econômica do nossa mar, a estragecia de Guerra Naval tem que ser baseada em embarcaçoes menores, numerosas, com armamento poderoso, antisubmarino, antiaereo e antinavio. Numa etapa inicial, navios patrulha oceanicos e corvetas de porte pesado em numero não inferior a 30 unidades, e sudmarinos de defesa (armados de misseis antinavio e torpedos inteligentes) e numero não inferior a 20 unidades. Quanto ao NAe Sao Paulo, estranho é fato de contratempos terem surgido, justamente durante um governo amigo da Venezuela. E parabens pelo melhor site de assuntos aeronauticos no Brasil.

  14. Leonardo Vieira, o míssil ao qual voce se refere é o chinês Dongfeng (DF-21D) lançado de plataforma móvel terrestre.
    Faço das palavras do Leonardo Picini e Rolando Galante as minhas porem gostaria de adicionar que na minha opinião o grande problema do Brasil é não saber o que queremos ser como nação. Cachaça, samba, mulata, carnaval? beleza, nada contra se é isso que a moçada quer,outras nações escolheram ser grandes potencias que deixaram ,ou deixarão, sua marca na historia da humanidade e isso não parece estar no DNA do nosso povo,da minha parte eu só posso dizer…infelizmente!!

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