Onde há fumaça há fogo, diz um velho ditado, e o episódio sobre um possível jato comercial da Embraer capaz de rivalizar com o Boeing 737 e Airbus A320 parece seguir esse raciocínio.
A Embraer tem sido confrontada com frequência com a hipótese de disputar mercado com uma aeronave de fuselagem estreita e seus executivos garantem que isso nem passa pela suas cabeças.
Francisco Gomes Neto, o CEO da empresa brasileira, já disse mais de uma vez que tem certeza que a Embraer é capaz de desenvolver um avião assim, porém, não seria o momento de tomar uma decisão a esse respeito.
Na quarta-feira, 1º de maio, no entanto, o conceitudo Wall Street Journal revelou que sim, a Embraer avalia lançar um jato comercial com cerca de 180 assentos.
Fontes ouvidas pelo jornal afirmam que a fabricante sondou potenciais parceiros na Índia, Coreia do Sul e Arábia Saudita, inclusive.
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A Embraer tentou apagar o “incêndio” logo em seguida, vindo a público para afirmar que “certamente tem capacidade para desenvolver uma nova aeronave de fuselagem estreita. No entanto, temos um portfólio jovem e de muito sucesso de produtos desenvolvidos nos últimos anos e estamos realmente focados em vender esses produtos”.
Mercado gigante e tentador
De fato, a Embraer precisa focar em sua linha de jatos E2 que acumula até aqui apenas 306 pedidos firmes contra mais de 1.900 aeronaves vendidas da 1ª geração dos E-Jets.
No entanto, o mercado de aviação comercial está sedento por aeronaves de corredor único com 150 a 240 assentos. A Airbus já tem quase 10.500 pedidos da família A320neo enquanto a Boeing possui cerca de 7.900 pedidos brutos da série 737 MAX.
Portanto, é um segmento, que supera com larga margem o mercado de jatos entre 100 e 150 assentos, onde a Embraer atua. E que vê a então poderosa Boeing passando por sua pior crise de imagem, com seguidas falhas e escândalos.
Embora não se possa negar que a gigante norte-americana tenha recursos para um novo avião, fato é que sua capacidade técnica tem sido questionada.
Chineses já têm alternativa ao 737 e A320
Não por acaso as grandes companhias aéreas chinesas estão anunciando encomendas significativas do COMAC C919, um jato comercial equivalente ao A320. Além de apoiar a indústria local, elas estão se tornando menos dependentes do duopólio ocidental.
A aparente relutância da Embraer em entrar nessa briga é contudo esperada. O investimento é elevado, os riscos não são pequenos e, como comentamos, o timing talvez não seja ideal, como reforçou a AerCap, arrendadora que é uma grande cliente da fabricante.
Aengus Kelly, CEO da empresa, afirmou duvidar que a Embraer possa lançar uma aeronave até o final da década e citou a dificuldade com novas tecnologias de motores.
Mudança tecnológica pode demorar
Por outro lado, há uma indefinição à vista e que poderia abrir espaço para que um novo jato comercial surgisse a tempo de colher resultados antes de uma mudança tecnológica.
A indústria aeroespacial está em busca de um alternativa para zerar a emissão de carbono até 2050, mas por ora não há um caminho claro.
A Airbus já escolheu o hidrogênio como tecnologia mais promissora, porém, ela exigirá investimentos gigantescos em infraestrutura e dependerá de esforços políticos para ser adotada por nações ricas numa primeira fase.
Grandes aviões elétricos a bateria, por outro lado, estão distantes ainda de serem viáveis, o que coloca os jatos convencionais com turbofans mais avançados como solução de médio prazo, reforçado pelo uso de 100% de SAF, o combustível sustentável.
Ou seja, talvez exista tempo para que um novo jato comercial mais eficiente que os atuais possa aproveitar essa onda até que uma nova geração de aeronaves surja.
Apenas “rumores”?
Dito isso, vale refletir por que o Wall Street Journal bancaria um artigo como o de 1º de maio? Um jornal tão conceituado e respeitado não queimaria sua reputação publicando apenas um “rumor”.
Portanto, é difícil acreditar que dentro da Embraer não exista gente pensando em uma aeronave como essa, mesmo que isso não passe apenas de um exercício teórico por enquanto.
Como afirmou Francisco Gomes Neto, a empresa deverá anunciar um novo projeto dentro de um ano e meio a dois anos. Quem sabe em 2026 possamos saber o que realmente estava ocorrendo na sede da Embraer em São José dos Campos.
Hoje apanhamos dos subsídios do A220, encarar o A320 e B737 de frente esquece, estes são reis em 150 a 240 assentos. E as novas tecnologias de motor só para 2035. Sim, é tentador um avião super otimizado para a faixa 150 a 180 assentos, e potencial de sucesso nos mesmos volumes de um A220. Mas além de ser arriscado, drena todo o capital e expõe a CIA nos programas mais abaixo, permitindo a entrada de novos concorrentes. Minha opinião éno momento manter o foco em novas tecnologias para os de 100 assentos e abaixo. Nos EVTOL. E no C390 civil.