Encerrado nesta segunda-feira, 21, o período de revisão da nova diretiva de aeronavegabilidade do 737 Max com a participação do público deu origem a mais de 200 sugestões enviadas à FAA, a agência de aviação civil dos EUA.
Entre as principais recomendações feitas organizações e especialistas estão medidas que reforçam a segurança da aeronave, que está sem voar comercialmente desde março de 2019 após dois acidentes fatais.
A Associação de Pilotos de Linha Aérea do Reino Unido (BALPA), por exemplo, sugeriu a instalação de um terceiro sensor de AoA (ângulo de ataque). Originalmente, o 737 Max possuía apenas um desses equipamentos e que teria fornecido leituras erradas ao sistema MCAS, criado para ajudar os pilotos em situações de esforço máximo do profundor.
Para corrigir essa falha, a Boeing passou a equipar o jato comercial com dois sensores AoA, mas a associação britânica considera uma solução insuficiente. “Seria preferível que o sistema utilizasse três sensores AoA (assim como a família de jatos Airbus A320), o que permitiria que houvesse um ‘voto de minerva’ sobre o valor correto de AoA. Existem outros sistemas a bordo da aeronave que precisam da leitura de AoA, então como vão lidar com dois sensores que discordam?”, afirmou a BALPA.
A entidade também criticou a fabricante dos EUA por permitir que o computador de controle de voo possa desativar ambos os sistemas de compensação de velocidade se houver uma discrepância de mais de 5,5º entre os dois sensores de ângulo de ataque. Ela alega que pode haver leituras erradas em ambos, levando a uma situação de risco.
Por fim, a associação considerou um equívoco exigir que ambos os pilotos tenham que realizar um ajuste simultâneo do estabilizador horizontal. “Nenhum sistema de controle de voo deve exigir que ambos os pilotos atuem dessa forma”, afirmou.
Confusão no cockpit
As críticas à nova diretiva de aeronavegabilidade do 737 Max partiram até mesmo do sindicato que representa os engenheiros de segurança da própria FAA. Segundo esses especialistas da agência, corrigir o sistema de controle de voo do jato não é o bastante.
O sindicato considera que a Boeing deveria ter resolvido os motivos que causaram confusão no cockpit dos voos da Lion Air e Ethiopian durante a emergência que levou aos acidentes.
Os técnicos da FAA propõem que a Boeing altere o sistema de alerta da tripulação no 737 Max, que é herdado de outros modelos mais antigos. Na visão deles, deveria ser feito um novo layout do painel de instrumentos e procedimentos e que por isso a aeronave deveria passar por uma nova certificação. Essa hipótese, no entanto, faria com que o retorno do avião ao serviço demorasse muito mais tempo além de envolver custos muito altos.
Denunciante
As recomendações recebidas pela FAA estão em linha com as críticas feitas pelo engenheiro de segurança da Boeing, Curtis Ewbank, que no ano passado revelou que durante o desenvolvimento do 737 Max a empresa rejeitou o investimento em sistemas de segurança por conta de redução de custos no programa.
“É evidente que mais ações são necessárias para revisar os processos da FAA em relação à avaliação do projeto do avião, de acordo com o interesse público”, disse Ewbank recentemente.
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