Imagine um avião que pode permanecer voando durante meses ou até anos sem precisar pousar para reabastecer? Os Estados Unidos e a antiga União Soviética não só pensaram nisso como também levaram a ideia do papel para os céus usando energia nuclear!
Na década 1950, quando o caldeirão da Guerra Fria começava a ferver, as duas nações lançaram projetos de aeronaves equipadas com reatores nucleares, que teoricamente deveriam gerar eletricidade para alimentar motores especiais. Uma ideia ousada, mas também extremamente perigosa.
Nos EUA, a ideia tomou forma com o protótipo Convair X-6, uma aeronave baseada no enorme bombardeiro B-36, um dos maiores aviões já construídos. O primeiro modelo, designado “NB-36H”, teve seu porão de bombas ocupado por um reator nuclear de 3 megawatt.
Embora não fosse tão grande, o reator acabou tomando todo o espaço do porão por conta de sua enorme blindagem, um “escudo” com 12 toneladas de chumbo e borracha que protegia a tripulação da radiação, e seu sistema de refrigeração com mais 5.000 litros de água.
A aeronave realizou 47 voos e acumulou 215 horas de voo entre setembro de 1955 a março de 1957. As operações eram realizadas sempre sobre regiões isoladas no Novo México e no Texas, devido ao risco de um acidente nuclear.
O NB-36H, no entanto, nunca foi de fato movido por energia nuclear: foram realizados somente experimentos sobre o funcionamento de um reator a bordo de um avião e suas emissões de radiação. A fase seguinte, que seria justamente a conversão dos motores, acabou cancelada em 1958. Já os soviéticos…
Tupolev nuclear
Em 1955, o comando militar da URSS entregou a Tupolev Design Bureau um pedido para a construção de um bombardeiro movido por energia nuclear. O fabricante russo, após seis anos de estudos, levou seu avião atômico para a pista decolagem em 1961. Como o projeto norte-americano, o modelo soviético também derivava de outro grande avião da época, o Tu-95, que na versão nuclear foi chamado Tu-95LAL – a sigla em russo significa literalmente “Laboratório Atômico Voador”.
Como os norte-americanos, os soviéticos iniciaram os testes somente carregando o reator e avaliando seu funcionamento e níveis de emissões de radiação. Para evitar a contaminação dos tripulantes, a Tupolev desenvolveu uma proteção com chapas que combinavam diferentes materiais. O escudo russo continha camadas de sódio líquido e óxido de berílio, e chapas de aço, cádmio e parafina.
Após os testes sobre radiação, a Tupolev passou para o estágio seguinte e equipou o enorme bombardeiro com um par de motores a hélice movidos pela eletricidade gerada por um reator de urânio. O número de voos e se a tecnologia de fato funcionou, nunca foi confirmado com exatidão. O projeto foi cancelado em 1969 devido aos altíssimos custos e o risco considerável de um acidente nuclear.
Durante a carreira dos “aviões nucleares”, felizmente nenhum acidente foi registrado, tanto na URSS como nos EUA.
Foguetes nucleares
Os EUA podem não ter ido adiante no projeto do avião nuclear, mas criaram algo ainda mais interesse (e obviamente muito mais perigoso): foguetes nucleares.
Essa tecnologia está em estudo nos EUA desde 1955. O motor de um foguete nuclear combina energia atômica com reações químicas. De uma forma muito simplificada, a ideia funciona como uma câmara nuclear em alta temperatura que é resfriada por nitrogênio liquido, que por sua vez entra em combustão e gera o empuxo e o tradicional espetáculo pirotécnico que é o lançamento de um veículo desse tipo.
A Nasa já testou mais de 20 desses foguetes e existem alguns projetos em andamento, mas nenhum ainda com data de lançamento.
Perigos
Aviões nucleares não são como bombas nucleares. Eles não explodem. No entanto, um acidente com uma aeronave ou foguete com esse tipo de propulsão pode espalhar material radioativo e comprometer seriamente as condições de vida na região atingida. Um vazamento durante um voo poderia ser mais perigoso que um acidente em solo, como ocorreu nos desastres com as usinas de Chernobyl e Fukushima.
Veja mais: Quando os porta-aviões voavam…
Muito boa a matéria, parabéns.
Matéria muito bem feita parabéns
Mega curiosidade, shows de matéria, parabéns
Excelente matéria, gostei muito.
Acho que o ponto proibitivo é o peso do reator e da blindagem que acabam ocupando todo o espaço útil de carga, resultando num avião feito apenas para carregar seu próprio reator.