A marinha do Paquistão confirmou que vai utilizar a plataforma do Embraer Lineage 1000E (versão executiva do jato comercial E190) em seu novo projeto de aeronaves de patrulha marítima de longo alcance, de acordo com o Defense News.
Comandante da marinha paquistanesa, o almirante Zafar Mahmood Abbasi já havia dito na última semana que a corporação substituiria a frota atual de turboélices Lockheed P-3C Orion por 10 jatos civis convertidos para a função de vigilância naval.
O almirante Abbasi afirmou que uma aeronave já foi encomendada e o programa está em seus estágio iniciais. O militar também revelou o nome do avião: Sea Sultan (Sultão do Mar). No entanto, ele não informou nenhum detalhe sobre o projeto ou quando o avião entra em serviço.
“É um empreendimento significativo e a gestão de risco será importante”, disse Abbasi, acrescentando que provavelmente vai solicitar a ajuda da Embraer na execução do projeto, “caso contrário, os desafios ficarão ainda maiores”.
A Embraer não está envolvida no projeto paquistanês. Até o momento, órgãos oficiais do país não comentaram sobre a evolução do programa.
Pouca praia, muita guerra
Banhado pelo Oceano Índico, o Paquistão tem uma faixa litorânea relativamente pequena, com 1.046 km de extensão (contra mais de 7.300 km do Brasil, por exemplo). No entanto, devido a rivalidade histórica com a vizinha Índia, a marinha paquistanesa mantém um arsenal considerável para proteger as praias e portos do país.
A primeira linha de defesa aeronaval do Paquistão é formada pelos P-3C Orion, que voam no país há quase 50 anos. A versão militar do clássico Electra II é empregada em missões de patrulha naval e possui recursos para lançar ataques contra navios e submarinos. A marinha do país conta com seis dessas aeronaves, que estão próximas da aposentadoria.
A substituição dos antigos P-3C é uma pauta antiga da marinha do Paquistão. Em 2018, Islamabad lançou um processo de licitação para trocar os velhos turboélices por uma aeronave mais avançada, com peso máximo de decolagem de 140.000 libras (63.502 kg) e alcance acima de 4.000 milhas náuticas (7.000 km).
Jato executivo de alto luxo, o Lineage 1000E oferece um desempenho que atende os requisitos dos paquistaneses: pode percorrer cerca de 8.500 km (5.300 milhas) e decola com peso máximo de 120.000 libras (54.500 kg).
Resta saber onde a marinha do Paquistão vai encontrar 10 jatos Lineage 1000E disponíveis para a conversão militar. Maior jato executivo produzido pela Embraer, o modelo foi retirado de linha recentemente. Além disso, trata-se um avião raro: foram entregues apenas 28 unidades.
A escolha do Lineage 1000E como avião de patrulha naval faz algum sentido se considerarmos apenas a plataforma da aeronave. Diferentemente do modelo comercial E190, que transporta mais de 100 passageiros (e suas bagagens), a versão executiva reserva o espaço no porão de bagagens para adicionar mais tanques de combustível, o que aumenta consideravelmente a autonomia da aeronave.
Seguindo essa linha, talvez os paquistaneses estejam falando sobre comprar jatos E190 de segunda mão e modificá-los, acrescentando tanques extras e os equipamentos militares. Também faltou falar quem vai converter as aeronaves. Se a escolha recair sobre a indústria local, o projeto pode ser conduzido pela PAC, fabricante aeronáutica estatal do Paquistão.
Patrulheiros da Embraer
O primeiro avião militar da Embraer com capacidade de lançar armamentos foi o Bandeirulha, a versão de patrulha naval do Bandeirante. A aeronave destacada pelo seu longo nariz, onde carrega um poderoso radar, entrou em serviço com a Força Aérea Brasileira (FAB) em 1977 e até hoje continua em serviço. A aeronave também foi exportada para as forças armadas do Chile e Gabão – a Argentina alugou dois aparelhos do Brasil durante a Guerra das Malvinas, em 1982.
No começo dos anos 2000, a Embraer tentou emplacar o P-99 na frota da FAB, durante o Programa PX. A aeronave era um jato comercial ERJ-145 modificado para missões de patrulha marítima com até 10 horas de duração. O avião seria equipado com um radar de busca marítima de longo alcance e asas teriam cabides para levar armas e equipamentos de guerra eletrônica.
A FAB, no entanto, rejeitou o projeto da Embraer e preferiu comprar oito turboélices P-3 de estoques dos EUA e efetuou uma profunda modernização nas células, fabricadas na década de 1960. Em contrapartida, a fabricante brasileira conseguiu vender os modelos de vigilância E-99 e R-99 (ambos baseados no ERJ-145) para a Aeronáutica.
Em 2016, respondendo a um pedido de informações (RFI) da força aérea da Nova Zelândia, a Embraer considerou o desenvolvimento de uma versão de patrulha marítima do E190-E2, também no intuito de substituir os velhos Orion. A ideia, porém, nunca saiu do papel.