Sem fornecer detalhes sobre o negócio, a companhia aérea Passaredo confirmou que pretende manter a marca MAP Linhas Aéreas na região Norte. Em entrevista em Manaus, o presidente da empresa, José Luiz Felício Filho, disse ainda que a intenção é ampliar a atuação da MAP em seu mercado atual.
“Nós manteremos a operação da forma como está posicionada, tanto em número de voos, como de frota e postos de trabalho”, afirmou o executivo e que acrescentou: “Temos um compromisso com o Governo do Estado (do Amazonas) de entender os gargalos existentes na aviação regional e dar a nossa contribuição”.
Com a fusão, Passaredo e MAP terão uma frota de 12 aviões turbo-hélices ATR e atenderão 28 destinos, metade deles na região amazônica. Já a partir de outubro, quando serão iniciados os voos em Congonhas por meio dos slots recebidos da ANAC, o total de cidades atendidas subirá para 37 em estados como São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Paraná. Para isso deverão ser recebidos dois novos aviões até o final de 2019 além de um ATR previsto para ser incorporado à frota em setembro, mas que será usado em voos fretados pela Petrobras.
Em julho, durante a redistribuição dos slots do Aeroporto de Congonhas que pertenciam à Avianca Brasil, hoje em situação pré-falimentar, a Passaredo recebeu 14 horários enquanto a MAP ficou com 12 slots. Somados, eles representam apenas 5% do total de slots no terminal aéreo da capital paulista.
Apesar da atração pela ponte aérea Rio-São Paulo e que foi alvo da maior investida da Azul, outra beneficiada com os slots, a Passaredo e a MAP decidiram voar para destinos regionais a partir de Congonhas.
Presente do governo
Os critérios usados pela ANAC, no entanto, ignoraram a representatividade das empresas aéreas brasileiras ao decidir quem deveria ficar com esses valiosos horários de pouso e decolagem no congestionado aeroporto paulistano. Com isso, involuntariamente, o governo federal “valorizou o passe” da MAP Linhas Aéreas, companhia aérea que atua bem distante da região Sudeste e tem uma participação irrisória no tráfego doméstico de passageiros de apenas 0,14% no acumulado de janeiro a junho, segundo dados da ABEAR, associação que reúne parte das companhias aéreas do país.
Caso a ANAC utilizasse o total de passageiros transportados como referência para distribuir os slots – e assim dar representatividade equivalente à atuação dessas empresas em âmbito nacional – a MAP teria recebido apenas um slot e a Passaredo, dois, baseado em dados de junho, por exemplo.
Já a divisão entre as três companhias aéreas brasileiras seria bem diferente: a Gol, hoje detentora do maior número de slots em Congonhas, perderia 43 deles, passando a ter 193 horários. A LATAM cairia de 234 para 167 slots (67 a menos do que hoje), enquanto a Azul, que reclamou bastante de ter sido excluída do “filé mignon” da aviação brasileira, pularia de 41 para 149 horários.
A redistribuição dos slots, no entanto, certamente agradou aos donos da MAP, que de uma companhia aérea minúscula e que transportou apenas 13 mil passageiros em junho, passou a valer muito por conta do “presente” do governo. Imagina-se agora como a nova empresa formada pela Passaredo e MAP passou a ser vista pelas grandes companhias aéreas nacionais e mesmo estrangeiras, que ganharam permissão de voar no Brasil. Não será surpresa se elas forem incorporadas em breve por outro grupo maior.
A inusitada situação certamente faz a máxima de que ser empresário na aviação comercial traz apenas prejuízos. É possível lucrar sim, mas não necessariamente vendendo passagens aéreas.
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Só não acredito que foi involuntariamente.