O novo jato E190-E2 da Embraer ainda nem chegou ao mercado e já foi “aperfeiçoado”. De acordo com o diretor do programa de desenvolvimento da aeronave, Fernando Antonio Oliveira, o avião superou algumas das expectativas de desempenho previstas no projeto original. Além disso, Oliveira também confirmou que a fabricante está a “poucas semanas” de finalizar a certificação do jato com órgãos reguladores, processo que libera sua estreia na aviação comercial.
“Nós alcançamos mais de 98% da campanha de teste de voo”, disse o diretor da Embraer, em entrevista ao Aviation Week. “Nós temos alguns testes restantes, principalmente inspeções de interiores e alguns voos com pilotos das autoridades de certificação”. Os ensaios mais recentes foram realizados em 18 de janeiro, com avaliações de frenagem máxima e testes de controle dos motores turbofan de nova geração Pratt & Whitney PW1900G, certificado nos EUA em 2017.
Com a campanha de testes perto de ser concluída, o E190-E2 apresentou uma performance em consumo de combustível, alcance, emissões de poluentes e nível de ruído que excedem os objetivos previstos no projeto original.
Em 2013, quando lançou o programa E-Jets 2, a Embraer apontou que E190-E2 seria 16% mais eficiente em consumo de combustível comparado ao E190 atual. Após os testes, o número saltou para 17,3%, o que consequemente aumenta o alcance da aeronave. O diretor da Embraer também destacou o aumento da autonomia do novo jato a partir de aeroportos com pistas curtas e em regiões altas e quentes (Hot and High, no jargão da aviação), que representam um grande desafio para a aviação (operações em altas temperaturas em regiões elevadas exigem aeronaves com perfis específicos).
Segundo cálculos da fabricante, a melhoria de 1,3% no consumo de combustível do E190-E2 vai permitir a redução de cerca de 1.700 toneladas de emissões de CO2 ao longo de 10 anos. A Embraer também alcançou uma margem de ruído acumulativo (dos procedimentos de taxiamento e decolagem, voo de cruzeiro e aproximação de pouso) 3 EPNdB (ruído efetivamento percebido em decibéis) menor que a prevista, chegando a 20 EPNdB. O número respeita as normas mais recentes sobre ruídos da FAA, a autoridade de aviação dos Estados Unidos.
Ainda a mesma publicação, Rodrigo Silva e Souza, vice-presidente de marketing da Embraer Aviação Comercial, afirmou que o desenvolvimento do E190-E2 ocorreu relativamente sem problemas. O executivo também afirmou que o projeto está à frente do cronograma e dentro do orçamento. “Não lembro de nenhum outro programa dessa magnitude que alcançou todos esses objetivos”, comentou.
Apesar da aparência externa do novo E190-E2 ser semelhante ao primeiro E190, Silva explicou que o projeto exigiu um complexo processo de integração. Além de receber os novos motores PW900G, a aeronave é mais alta, possui 75% dos sistemas renovados e a estrutura de fuselagem redesenhada.
O executivo da Embraer também confirmou que a Embraer concordou com a Pratt & Whitney em receber os motores PW1900G com os mais recentes padrões de produção e construção que evitam os problemas encontrados pela Airbus e a Bombardier com as variantes PW1100 e PW1500G, usadas nos jatos A320neo e C Series.
“Nós temos uma montagem diferente no eixo do rotor, o que torna o problema menos permanente, e também temos muita lógica no software FADEC (controle digital completo de motor) para que ele comece com uma sequência de tempo que não gera os problemas que vimos nos outros motores “, garantiu Silva.
A Embraer também disse que tem acordos com autoridades de certificação para planos de manutenção com períodos mais longos entre as revisões. Inspeções básicas serão realizadas a cada 1.000 horas de voo da aeronave, diferentemente das 850 horas previstas no plano original. Já o intervalo de revisão intermediária subiu de 8.500 horas de voo para 10.000 horas. Essa mudança, de acordo com a fabricante, vai permitir que a aeronave ganhe 15 dias a mais de disponibilidade entre as vistorias.
O tempo de treinamento de transição para pilotos de E190 para o modelo de nova geração também foi reduzido de 2,5 dias para apenas meio dia, apontou a Embraer. Essa redução, como afirma a fabricante, foi possível com o uso de equipamentos básicos de treinamento em solo com foco na instrução sobre as mudanças dos sistemas, além da afinação dos controles “full fly-by-wire” (comandos de voo acionados por atuadores elétricos) do E190-E2 para replicar as reações do E190 atual, que possui comandos mecânicos e fly-by-wire.
Estreia em abril
A entrega do primeiro E190-E2 está marcada para abril deste ano. O operador de lançamento do novo jato comercial brasileiro será a companhia aérea Widerøe, da Noruega. De acordo com o balanço mais recente da Embraer, o novo modelo tem 74 pedidos firmes e opções 97 encomendas. Outras empresas que encomendaram a nova geração do E190 são a Hainan Airlines, da China, e Air Astana, do Cazaquistão, além dos grupos de leasing de aeronaves Aircastle e ILFC, ambos dos EUA.
A Embraer também trabalha no projeto do E195-E2, o maior avião comercial já desenvolvido no Brasil, com capacidade para até 146 passageiros. O segundo membro da nova família E2 tem lançamento programado para 2019, com a companhia Azul.
Anunciado pela Embraer como o “Caçador de Lucros”, o E195-E2 tem ainda mais pedidos que o E190-E2: 106 encomendas firmes e opções para mais 90 exemplares. A nova família de jatos comerciais também contempla o E175-E2, com estreia programada para meados de 2020.
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