Para que uma ligação entre duas cidades ganhe a alcunha de “ponte aérea” certamente já se imagina tratar-se de uma rota extremamente movimentada. Não é à toa que a rota entre Rio de Janeiro e São Paulo pelos aeroportos centrais de Santos Dumont e Congonhas seja chamada assim. Desde seus primórdios ela domina o cenário do transporte aéreo no Brasil. Mas é espantoso imaginar que o movimento entre esses dois aeroportos seja não apenas o maior do país, mas também do continente americano como um todo.
É o que aponta o levantamento realizado pelo site Routes Online, com base nos dados fornecidos pelo sistema Sabre entre 1º de novembro de 2016 e 31 de outubro de 2017. Segundo ele, nada menos que 4.066.904 passageiros voaram entre o Rio e São Paulo, um número significativamente superior ao segundo colocado, o trecho entre a Cidade do México e Cancún, cidade de grande demanda turística (3.682.028 passageiros).
Os Estados Unidos, maior mercado de aviação comercial do mundo, ficaram apenas com o 3º lugar graças à rota entre Nova York e Los Angeles (2.873.316 passageiros), seguido de outro trecho mexicano, entre a capital e Monterrey (veja gráfico abaixo).
Tempestade perfeita
O que chama a atenção no levantamento é notar que os congestionados aeroportos americanos, alguns com movimento anual superior a 70 milhões de passageiros, aparecerem de forma discreta. Uma possível explicação para isso é o fato de o transporte aéreo nos EUA ser bastante descentralizado: qualquer cidade com pouco mais de 100 mil habitantes possui rotas para grandes cidades. E algumas delas também possuem mais de um aeroporto como é o caso de Nova York, atendida por três imensos terminais.
México e Brasil, ao contrário, têm seu principal movimentado concentrado nas maiores cidades. O caso da ponte aérea Rio-São Paulo combina outros fatores que tornaram a rota o famoso “filé mignon” da aviação brasileira.
Principais centros econômicos do país, São Paulo e Rio de Janeiro estão separadas por menos de 400 km pelo ar, uma distância em que o transporte aéreo é bastante eficiente em relação às viagens terrestres. Também contam pontos o fato de a Via Dutra, principal ligação rodoviária, não ser uma estrada convidativa – além do tráfego pesado de caminhões, a viagem leva pelo menos cinco horas. E se outras cidades importantes no mundo têm sistemas ferroviários velozes e acessíveis, as duas cidades brasileiras já não oferecem essa opção há muito tempo. Mesmo assim o que se via era um trem noturno extremamente lento.
Outro diferencial que parece contribuir para a relevância dos números é a existência de aeroportos centrais em ambas as capitais de seus estados. O Aeroporto de Congonhas, segundo mais movimentado do Brasil, fica bem no meio da mancha urbana da metrópole e a poucos quilômetros de centros empresariais como as avenidas Faria Lima e Berrini, o bairro de Vila Olímpia e mesmo da avenida Paulista. No Rio, o Santos Dumont é ainda mais central: é possível chegar a vários escritórios em poucos minutos.
Não é uma situação que vemos em outros países. Em Londres, por exemplo, o aeroporto mais próximo (London City) opera com restrições de aeronaves e tem um tráfego modesto. Quem usa o transporte aéreo precisa ir até Heathrow ou o distante Gatwick sem falar nos aeroportos secundários utilizados pelas companhias “low-cost”.
Por fim, deve-se levar em conta também o preço das passagens. Se não é barato propriamente dito, o custo de voar entre as duas cidades é proporcionalmente mais vantajoso que viajar de ônibus, por exemplo. Enquanto uma passagem aérea ida e volta pode ser encontrada com antecedência por cerca de R$ 400 utilizar o transporte rodoviário pode custar entre R$ 200 a R$ 400, dependendo do serviço – e serão 12 horas de viagem de ida e volta contra pouco menos de 2 horas pelo ar.
Não é de estranhar que os slots de Congonhas (grade de pousos e decolagens por hora) sejam tão disputados pelas companhias aéreas.
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Ponte Aérea seria se o tempo de espera dos primeiros pax’s a chegarem não fossem consideravelmente maiores que o tempo de voo da etapa. Pelo conceito: frequência/densidade, com aeronaves com menos lugares (levam menos tempo para lotar), teria-se menos tempo de espera com intervalos menores entre voos. Ao seu dispor para maiores discussões sobre o assunto, Att.