Realizada de tempos em tempos, a reforma do pavimento da pista principal do Aeroporto de Congonhas ocorrerá entre os dias 5 de agosto e 5 de setembro, como mostramos ontem. Desta vez, no entanto, a ANAC e a Infraero decidiram que a pista auxiliar, com quase 1.500 metros de comprimento, só irá operar com turboélices como o ATR 72 e o Cessan Caravan, com exceção de voos de traslado de jatos vazios que fazem a manutenção no local.
A rara situação fará a ponte aérea Rio-São Paulo voltar quase 30 anos ao passado quando a rota mais mais importante do Brasil era operada pelos famosos turboélices quadrimotores Lockheed Electra II, da extinta Varig. O antigo avião saiu de cena em 1992 para a entrada dos jatos Boeing 737, Fokker 100 e Airbus A319 e A320, que passaram a realizar o voo de forma mais veloz, mas sem o charme de antigamente.
Esse clima de saudosismo ficará a cargo de duas coadjuvantes na ponte, a Azul e a VoePass. A companhia aérea de David Neeleman confirmou nesta segunda-feira que passará a realizar 17 voos diários em Congonhas, todos os operados com o ATR 72-600, a versão mais moderna do turboélice, com 70 assentos. Além do Santos Dumont, a empresa também terá como destinos Confins, em Belo Horizonte, e Curitiba.
Já a VoePass anunciou nesta terça-feira que estreará dois voos diários na ponte aérea em cada direção também com aeronaves ATR 72. As partidas ocorrerão às 8h50 e 16h de São Paulo e 10h50 e 18h00 do Rio. Além disso, a empresa regional também retomará o voo para Ribeirão Preto, onde fica sua sede. As duas empresas receberam slots em Congonhas que pertenciam à Avianca Brasil (OceanAir) há cerca de um ano, quebrando o duopólio momentâneo da Gol e da LATAM no movimentado aeroporto da capital paulista.
Voo mais lento e paisagem deslumbrante
Enquanto isso, as duas maiores companhias aéreas do país irão realizar seus voos para o Santos Dumont a partir de Guarulhos, além de outras rotas que hoje são operadas em Congonhas. Para a maioria dos passageiros, trata-se de uma alternativa pior dada a distância que separa o aeroporto internacional de regiões que concentram os escritórios de grandes empresas na capital paulista. Mesmo oferecendo um voo mais lento, o ATR 72 deverá disponibilizar uma ligação mais rápida por conta justamente do tempo de deslocamento necessário para chegar ao Aeroporto André Franco Montoro.
Ironicamente, a TAM, uma das empresas que deu origem à LATAM, por muitos anos operou uma grande frota de turboélices como o Fokker F-27 e o Fokker 50, além de inúmeros Caravan, mas que acabaram sendo desativados à medida que a companhia aérea abandonou suas rotas regionais. A estreia da empresa na ponte aérea foi inclusive com o turboélice holandês e o serviço “Primeira Classe”, que oferecia até champanhe a bordo. A Gol, por outro lado, sempre foi atrelada aos Boeing 737 e o máximo que chegou perto de um turboélice foi quando vendeu passagens para a TwoFlex na rota Congonhas-Jacarepaguá, mas a pequena companhia acabou sendo comprada pela Azul.
Para os passageiros da rota, voar nos turboélices significará um tempo extra de voo – a duração é de até 90 minutos em teoria. Por outro lado, trata-se de um voo em altitude mais baixa que os jatos: o ATR tem teto de serviço de 25.000 pés ou 7.600 metros enquanto um A320 pode chegar a atingir 40.000 pés (algo como 12.000 metros). No trajeto Rio-São Paulo, no entanto, eles nem chegam tão alto por conta da pequena distância entre as duas metrópoles.
Se não tem o charme do Electra, avião de som inconfundível e interior com ares dos anos 60, o ATR compartilha a mesma bela paisagem com seus ocupantes, que podem apreciar o litoral e a Serra do Mar durante o tempo de voo. Como é uma aeronave de asa alta, ao contrário do quadrimotor, o turboélice franco-italiano leva vantagem ao permitir a todos os passageiros desfrutar de um dos voos mais deslumbrantes da aviação mundial. Pena que a volta no tempo só dure um mês.
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Porque não Jacarepaguá?