Tradicional palco de grandes anúncios da aviação comercial, o Paris Air Show, realizado na semana passada, revelou ao mundo uma nova leva de encomendas de aviões. Jogando em casa, a Airbus foi a grande “vencedora” ao conquistar 846 pedidos por seus jatos de passageiros durante o evento. Em seguida veio a Boeing, com 356 aeronaves encomendadas. E a Embraer?
A fabricante brasileira anunciou na feira francesa dois novos pedidos firmes. Um veio da espanhola Binter Canarias, que confirmou a aquisição de mais seis jatos E195-E2, e o outro da companhia regional Envoy Air, dos Estados Unidos, que pediu mais sete modelos E175 de primeira geração. Houve ainda em Paris a revelação da identidade de um comprador de 15 aeronaves E195-E2 até então era mantido em sigilo, a empresa de leasing Azorra. A Embraer, portanto, somou mais 28 pedidos em Paris e ficou em terceiro lugar no quadro geral de encomendas efetuadas no evento.
Comparando com os resultados obtidos pela Airbus e Boeing, o número de pedidos conquistados pela Embraer no Paris Air Show parece pequeno. Mas será isso mesmo?
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Consultado pelo AIRWAY, Marcos José Barbieri Ferreira, professor de economia da Unicamp e especialista em indústria aeroespacial, a quantidade de aviões comerciais da Embraer encomendados no Paris Air Show está de acordo com o tamanho do segmento em que a fabricante brasileira atua e o contexto do cenário econômico global atual pós pandemia.
“Precisamos observar qual é o segmento de mercado que a Embraer Aviação Comercial está inserida e quem concorre com ela nessa área. Hoje os jatos comerciais da Embraer têm praticamente somente um concorrente de peso, o Airbus A220. E nesse segmento, a Embraer está melhor que a Airbus, tanto que os E-Jets somaram mais pedidos do que o A220 em Paris (28 E-Jets contra nove A220)”, disse Barbieri. “Seria um problema se a Airbus recebesse um grande pedido de A220 e a Embraer nenhuma encomenda. Mas isso não aconteceu.”
Terceira maior fabricante de aviões comerciais do mundo, a Embraer trabalha no segmento de jatos leves para até 150 passageiros. É o degrau abaixo dos narrowbodies de médio porte, a categoria de jatos comerciais mais populares do mercado e que tem como principais expoentes as famílias A320neo da Airbus e o 737 MAX da Boeing.
E-Jets versus A220
Diferentemente dos E-Jets da Embraer, o Airbus A220 é um produto que passeia por duas categorias diferentes. O modelo de entrada A220-100, com capacidade entre 100 e 135 passageiros, briga diretamente com o E190-E2 e o E195-E2. A segunda opção da família, o A220-300 comporta de 120 a até 160 ocupantes, o que o coloca na disputa com o E195-E2, mas também contra o A319neo e o Boeing 737 MAX 7.
“O fato da Airbus ser uma empresa maior que a Embraer não significa, neste momento, que o A220 pode bater os E-Jets”, relatou Barbieri.
No ano passado, a Airbus entregou 53 jatos A220 e a Embraer, 57 E-Jets. “Mesmo tendo à frente a concorrência da maior empresa aeroespacial do mundo, a Embraer continua liderando o mercado de jatos com até 150 assentos”, acrescentou o especialista da Unicamp.
“A pandemia sacrificou o mercado de aeronaves, principalmente o setor de aviões de grande porte que operam rotas de longa distância. O segmento que a Embraer atua, por outro lado, foi menos impactado. O que está acontecendo agora é uma retomada do setor, que está pedindo mais narrowbodies médios, como o A320 e o 737, além de jatos maiores, devido a demanda reprimida. O setor de jatos leves, que é menor, continua tendo um desempenho muito parecido com o dos últimos anos, por isso é um nicho com pouca demanda reprimida”, concluiu Barbieri.