Ao sair da sala de embarque e seguir na direção do avião, você já se perguntou o porquê de quase sempre entrar pelo lado esquerdo da aeronave? Curioso, não? Haveria algum motivo ou será apenas um costume que foi criado através dos anos?
É importante lembrarmos que os procedimentos adotados na aviação buscam mitigar qualquer possibilidade de ocorrência de acidentes ou incidentes. Levando em consideração essa premissa, teria essa “escolha”, por um lado, sido elaborada para aumentar a segurança? Antes de mais nada, é importante esclarecer que não há regulamentação internacional que determine o lado esquerdo como obrigatório para o fluxo de passageiros, embora seja o padrão adotado por qualquer aeroporto no mundo.
Herança dos mares
Uma das teorias envolve a indústria naval já que muito do que é utilizado no ar é empregado há séculos na água. No início do transporte aéreo, parte das aeronaves desenvolvidas podia pousar em ambientes terrestres ou aquáticos, sendo chamadas de anfíbios ou hidroaviões.
Com a “proximidade” desses dois meios de locomoção, alguns costumes navais foram absorvidos pela aviação e estão em uso até hoje. Antigamente, a entrada dos passageiros na embarcação era efetuada através do lado esquerdo. Andrew Stagg, um piloto comercial dos EUA, escreveu numa discussão na internet que essa tradição “remonta aos navios, que têm bombordo (esquerda) e estibordo (direita). O bombordo era aquele de onde você embarcaria ou desembarcaria, então a maioria dos projetistas de aviões e ponte-cais seguiu a mesma convenção”, explicou.
O motivo pelo qual os comandantes se sentam no canto esquerdo da aeronave também é uma herança dos transportes marítimos, assim como a utilização dos termos “navegação”, “capitão”, “leme”.
Razões operacionais
Para os que trabalham diretamente no dia a dia de pousos e decolagens, outros motivos podem explicar com maior profundidade a “escolha” do lado esquerdo como meio de circulação de clientes. No início da criação dos aeroportos, não eram em todas as ocasiões que as aeronaves ficavam estacionadas em frente aos terminais. Constantemente, a parte esquerda da fuselagem era projetada para ficar alinhada ao terminal de embarque.
Assim, o comandante, ao ocupar essa mesma posição no cockpit, possuía a visualização do ambiente e o cálculo correto de parada do avião, evitando uma possível colisão com o prédio. Dessa forma, os passageiros desciam da aeronave diretamente para o terminal do aeroporto, fazendo com que o tempo no pátio fosse o menor possível.
Além disso, direcionar os clientes para o lado esquerdo deixa o direito disponível para a execução de outros procedimentos necessários ao voo. O carregamento e o descarregamento de bagagens, fornecimento de catering e abastecimento de combustível são exemplos de ações exercidas no lado oposto (direito) ao usado para movimentação de passageiros.
É importante ressaltar que as portas das aeronaves também são utilizadas em caso de emergência. Apesar de nem todas serem manuseadas em procedimentos corriqueiros, em caso de evacuação, serão abertas de acordo com os procedimentos prescritos pela empresa operadora da aeronave – tanto o lado direito, como o esquerdo.
Exceção à regra
O uso do lado esquerdo das aeronaves para embarque e desembarque dos passageiros, no entanto, já teve exceções. A mais famosa delas envolve a BOAC (British Overseas Airways Corporation), companhia aérea do Reino Unido que mais tarde se transformou em British Airways após a fusão com a BEA (British European Airways). Nos anos 70, a empresa utilizava a porta dianteira direita de seus Boeing 747 para ligar as pontes de embarque nos aeroportos, como mostram imagens da época.
Aparentemente, nada que tivesse relação com a tradicional mão inglesa, usada nas ruas e também nas ferrovias do país e de vários países que fizeram parte do chamado Commonwealth (a Comunidade Britânica de Nações). A companhia aérea, inclusive, utilizava com maior frequência as portas do lado esquerdo, como outras empresas e logo padronizou os procedimentos.
Outra experiência do tipo ocorreu no antigo aeroporto de Denver, o Stapleton, que foi fechado em 1995 e tinha em dos seus fingers uma ponte telescópica capaz de atracar do lado direito dos aviões, mas o esquema não tem registro de uso conhecido.
O advento do procedimento de “push-back” (o reboque do avião até a posição de partida para taxiamento) e mais tarde o surgimento das pontes de embarque acabou reforçando a opção por padronizar o lado esquerdo como rota de embarque e desembarque de passageiros. Até mesmo quando o início de operação do Airbus a380 motivou alguns aeroportos a oferecerem uma ponte para acessar o piso superior do jato optou-se pelo lado esquerdo do gigante europeu.
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ÓTIMA MATÉRIA MUITO ESCLARECEDORA SÃO ESTES DETALHES QUE TORNAM A AVIAÇÃO DIFERENCIADA.