Lá se vai um ano desde que a Boeing suspendeu as entregas dos jatos 737 Max por conta dos problemas de segurança causados por um software defeituoso, o MCAS. Desde então, as imagens de pátios e até estacionamentos de carros lotados de aviões novinhos circula pela mídia constantemente. Mas há um lugar onde essas cenas não existem, as ferramentas Maps e Earth do Google. A gigante de tecnologia curiosamente não atualiza mais as imagens de satélite dos locais onde a Boeing armazena seus aviões aterrados.
Seria um complô ou um acordo de cavalheiros entre as duas empresas americanas para esconder essas cenas impactantes? Difícil saber, mas que a coincidência chama a atenção, não há dúvida. O local mais emblemático dessa situação é o Boeing Field, o aeroporto internacional de King County, em Seattle, onde a empresa realiza os testes finais dos 737 antes de realizar as entregas. É nele que ficaram famosas as imagens de aviões ocupando vagas de estacionamento de veículos diante da falta de espaço para tantas unidades – estima-se que a Boeing tenha produzido cerca de 400 aeronaves até hoje não entregues.
No Google, no entanto, o aeroporto aparece com apenas um insólito 737 em um imenso estacionamento, uma cena bem diferente da atual, em que há pelo menos quatro dezenas de jatos dividindo a área, além de outros armazenados em posições de trabalho.
Na fábrica do 737, em Renton, a imagem mais recente é de maio de 2018 e mostra dezenas de jatos ainda sem pintura. Contudo, seus pátios restritos não permitiram à Boeing manter muitos aviões ali.
Com pouco espaço para tantos aviões, a Boeing enviou dezenas de 737 Max para outros aeroportos como o de Moses Lake, a 220 km de Renton, e até para o Texas, em uma instalação da fabricante na cidade de San Antonio. Imagens publicadas pela Forbes e disponibilizadas pelo site Planet mostraram esses locais lotados de aviões em julho do ano passado enquanto no Google Earth permanecem fotos de satélite de maio de 2017 e dezembro de 2018.
Em San Antonio, a Boeing concentra projetos de defesa como a revitalização de caças F/A-18 e dispõe de ampla área capaz de acomodar muitas aeronaves, embora distante das fábricas de aviões comerciais, concentradas no estado de Washington (com exceção de uma linha de montagem do 787).
Curiosamente, a única fábrica da Boeing que foi atualizada após a crise do 737 Max é a Everett, onde fica sua maior unidade e que é responsável pelos widebodies da empresa. Nesse caso, a mais recente imagem é de agosto de 2019, quando já existiam centenas de jatos aterrados – uns poucos exemplares podem ser vistos em meio a 767 e 787.
Coincidência
Apesar de vivermos uma época em que teorias da conspiração acabam sendo tratadas como fatos, há de se argumentar que o sumiço dos 737 Max das imagens do Google provavelmente se trata apenas de uma enorme coincidência. As ferramentas desse tipo não são atualizadas com frequência, embora seja possível notar que áreas próximas a esses aeroportos exibam fotos bem mais recentes. Por via das dúvidas, Airway pesquisou outras importantes fábricas de empresas concorrentes como a Airbus em Toulouse e Hamburgo, Bombardier em Mirabel, e a Embraer em São José dos Campos e Gavião Peixoto. Apenas a fabricante brasileira aparece em ambas as instalações com imagens do ano passado.
Por fim, o próprio Google mostra o mar de aviões parados no Boeing Field, mas em outra ferramenta, o Street View, do ponto de vista das ruas. A imagem que abre essa matéria mostra justamente os 737 Max abarrotando o estacionamento de carros no ano passado. Mas não deixa de ser uma pena que as outras duas ferramentas não mostrem imagens atuais desses lugares, o que seria algo importante de ser registrado diante do impacto que essa crise teve na aviação comercial até aqui.
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So vale ressaltar que o 737 sozinho na foto de 2018 está no pátio de aviões e não no estacionamento de carros. Em julho de 2019 seis aeronaves estavam no estacionamento de carros.