Pressionada pelo FAA, Boeing se recusa a fazer modificações de segurança no 727

Agência norte-americana argumenta que o sistema que indica a quantidade de combustível no tanque da aeronave pode gerar um curto circuito e resultar numa explosão.
A Boeing fabricou mais de 1.800 unidades do 727 entre 1962 e 1984 (Eric Prado)
A Boeing fabricou mais de 1.800 unidades do 727 entre 1962 e 1984 (Eric Prado)

Já vivendo um intenso conflito por conta do aterramento do 737 MAX, a Boeing e a agência reguladora de aviação civil dos EUA (FAA) encerraram 2019 com mais um entrevero: o FAA exige que a fabricante faça uma modificação de segurança no antigo trimotor 727.

A preocupação da agência norte-americana recai sobre alguns 727 equipados com tanques de combustível auxiliares. O FAA argumenta que o sistema que indica a quantidade de combustível no tanque pode gerar um curto circuito e resultar numa explosão.

Para eliminar esse risco, o FAA pede aos operadores da aeronave que modifiquem o sistema nos próximos 12 meses. A Boeing, porém, se recusa a fazer a modificação.

A fabricante insiste que sua própria avaliação apontou que 727 não é inseguro e que a probabilidade de uma falha elétrica não detectada no sistema indicador é “extremamente remota”.

A Boeing ainda ressalta que das 272 aeronaves construídas com os taques auxiliares, apenas seis foram operadas sob a jurisdição do FAA. A agência, entretanto, afirma que é obrigada a informar sobre as aeronaves afetadas por questões de segurança, independentemente de onde elas sejam operadas.

Apesar dos apelos, o FAA recusou-se a retirar a diretiva de aeronavegabilidade para o 727, que entra em vigor a partir do dia 4 de fevereiro. A agência norte-americana também negou o pedido da Boeing para estender o intervalo para realizar a modificação, alegando que o periodo sugerido é “adequado”.

A Boeing afirma que a frota de 727 continua a diminuir como resultado do envelhecimento e aposentadoria das aeronaves, e que as propostas do FAA podem gerar custos desnecessários e não contribuirão para a segurança aérea.

Um artigo publicado pelo Flight Global lembrou que existem semelhanças entre a arquitetura do sistema indicador de combustível no tanque auxiliar do 727 e o do 747 da TWA que explodiu no ar em 1996 logo após decolar do aeroporto John F. Kennedy, em Nova York. O acidente matou todos os 230 passageiros e tripulantes que estavam a bordo da aeronave.

O último voo comercial de um 727 foi realizado em janeiro de 2019 pela companhia Iran Aseman Airlines, do Irã. As poucas unidades da aeronave que ainda seguem em serviço atuam exclusivamente no setor de carga ou no transporte executivo.

Sucesso de vendas

O 727 foi o segundo jato comercial da Boeing, após o bem sucedido quadrimotor 707. Ele foi projetado para ser um avião para rotas curtas e médias capaz de atender as necessidades de várias companhias aéreas dos EUA. A primeira versão, 727-100, estreou em 1964 com boa aceitação, mas foi em 1967 que a Boeing introduziu o 727-200, mais longo e eficiente modelo do jato – e que teve seis unidades usadas pela Vasp no Brasil.

Com três motores instalados na cauda e belas asas e estabilizadores enflechados, 727 virou o maior sucesso da Boeing por muitos anos, com mais de 1.800 aviões vendidos, marco que só foi superado pelo 737 no começo da década de 90. No Brasil foi usado pela Varig, Cruzeiro do Sul e Transbrasil, além da já citada Vasp e outras pequenas companhias aéreas.

Boeing 727-200 da Vasp: trirreator foi popular no Brasil (Pedro Aragão/Wikimedia)

Veja mais: Airbus assume liderança do mercado com 863 aviões entregues em 2019

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  1. Por que o site de vocês não tem botões de compartilhamento? Isso pode ajudar a fazer com que o conteúdo de vocês, que é excelente, seja visto por mais gente!

  2. Caro, Gabriel, obrigado pelo alerta. Já usamos os botões, mas por alguma razão eles não estavam sendo mostrados. Já corrigimos, abraços!

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