A ZeroAvia, empresa que estuda a aplicação de combustíveis alternativos na aviação, realizou no último dia 24 de setembro o que ela afirma ser o primeiro voo do mundo com um avião comercial de passageiros movido a hidrogênio. O protótipo HyFlyer decolou do Aeroporto de Cranfield, no Reino Unido, onde fica o centro de desenvolvimento e testes da companhia.
A aeronave fez um voo de oito minutos, alcançando 1.000 pés (304 metros) de altitude e uma velocidade de 185 km/h, e retornou em segurança, informou a ZeroAvia.
O HyFlyer é um demonstrador de tecnologia baseado no popular monomotor Piper Malibu, para até seis passageiros. No lugar do motor a pistão original, o avião recebeu dois motores elétricos, cada um capaz de gerar 130 kW (170 HP), e um gerador eletroquímico.
A grande sacada do projeto é emprego das “células de combustível” (ou “célula eletroquímica”), um sistema capaz de gerar energia elétrica através da reação química do oxigênio com o hidrogênio. É como se o avião transportasse sua própria usina de eletricidade, por isso ele não precisa de baterias, que ainda são muito pesadas e pouco eficientes para serem aplicadas em aviões.
O mesmo Piper modificado já voou no Reino Unido e nos EUA com alguns elementos do conjunto propulsor da ZeroAvia, mas a empresa reconheceu que nesses voos o avião usou baterias elétricas. Segundo a empresa desenvolvedora, os ensaios anteriores serviram para avaliar diferentes elementos dos motores elétricos e as células de combustível.
Agora equipado com o sistema de motorização completo, o HyFlyer vai arriscar voos mais longos. A empresa informou que pretende executar até o final de 2020 um voo de quase 500 km entre Cranfield e a ilha de Orkney, no norte da Escócia, onde existe uma fábrica que produz hidrogênio.
O desenvolvimento do HyFlyer tem o apoio do governo britânico, que já investiu 2,7 milhões de libras no projeto (cerca de R$ 17,4 milhões). A meta do país é zerar as emissões de carbono no transporte aéreo doméstico até 2050.
Hidrogênio, o combustível do futuro
Aeronaves impulsionadas por motores elétricos ou sistemas híbridos de baixa emissão de poluentes são apontados como umas das tendências para o futuro da aviação. No entanto, esses projetos ainda não solucionaram o problema da baixa eficiência energética e o peso elevado das baterias. Até onde a tecnologia aeronáutica avançou, só conseguimos construir aviões elétricos pequenos e de baixo alcance.
O sistema movido a hidrogênio, por outro lado, amplia os horizontes da aviação elétrica. Em vez de baterias, aviões com essa tecnologia são equipados com tanques de H e os geradores eletroquímicos. O alívio de peso permite aumentar a capacidade e o alcance da aeronave.
A “revolução do hidrogênio” também mobilizou equipes da Airbus, que em 21 de setembro revelou três conceitos de aviões comerciais movidos a H e anunciou que planeja voar com o primeiro protótipo em 2025.
Novata no mercado, a ZeroAvia planeja receber em 2023 o certificado de tipo suplementar para adaptar uma aeronave de 10 a 20 lugares, ainda não especificada, com seu sistema de propulsão movido a hidrogênio e com um alcance de 800 km.
Segundo o fundador e CEO da companhia, Val Miftakhov, aeronaves como o Cessna Caravan, Twin Otter e o Dornier 228 são alguns dos aviões que podem adotar a nova tecnologia.
Durante uma conferência de imprensa em 25 de setembro, o fundador da ZeroAvia disse que sua equipe teve discussões com sete fabricantes de aeronaves sobre possíveis aplicações e novos projetos incluindo o sistema de propulsão a hidrogênio. Ele disse que a empresa assinou cartas de intenções com 10 empresas aéreas que manifestaram interesse no programa.
Em 2030, a ZeroAvia afirma que sua tecnologia poderá impulsionar uma aeronave de 50 a 100 assentos em serviço comercial e que em 2040 uma aeronave movida a hidrogênio poderá transportar 200 passageiros em voos de quase 5.000 km.
De onde vem o hidrogênio?
O hidrogênio pode cortar a necessidade do setor de transporte por combustíveis fósseis e os metais pesados usados para construir baterias, recursos naturais que um dia podem acabar. Porém, os cientistas ainda precisam descobrir como obter o H de forma eficiente e sustentável.
Elemento mais abundante do universo, o hidrogênio está por todos os lados, inclusive no ar e na água. Apesar disso, ele difícil e caro de ser separado e isolado do meio ambiente. A principal forma de obter H é através da extração de gás natural. Outra técnica é por meio da eletrólise da água, porém, este processo químico é altamente dispendioso e requer uma grande fonte de energia.
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