A ambição de mudar a forma de viajar pelos ares da startup Zunum Aero permanece, mas o primeiro avião projetado pela companhia americana demonstra um enorme cuidado em não dar um passo maior que a perna. A inovadora fabricante anunciou nesta semana que produzirá na próxima década uma aeronave voltada para a aviação regional com capacidade para até 12 passageiros e alcance máximo de 1.300 km.
Para quem nunca ouviu falar na Zunum, trata-se de uma empresa fundada em 2014 e sediada no estado de Washington (vizinha da Boeing, uma de suas parceiras, por sinal). A grande sacada de seu projeto é o fato de a propulsão ser híbrida (veja imagem no final do texto). Em vez de hélices ou um turbofan, o futuro avião usará um fan (ventilador) de baixa pressão que reduz vibração e o ruído. Tudo isso movido a eletricidade fornecida por baterias ou de uma fonte extra ainda não definida – pode ser uma pequena turbina a gás ou um motor a diesel, por exemplo. E que poderá ser substituída pelo operador no futuro caso existam avanços que justifiquem isso.
O visual do avião lembra a fuselagem de um jato executivo com a cauda em V de um Bonanza. Segundo a Zunum, ela será concebida para possíveis versões maiores. Outra aposta da empresa diz respeito à tripulação: o modelo poderá ser comandado por um piloto ou de forma autônoma. Isso mesmo, ele será projetado como um drone, algo que ainda não é regulamentado pelas agências de aviação no mundo.
Baterias nas asas
O avião, que ainda não tem nome, terá uma velocidade de cruzeiro em torno de 550 km/h, ou seja, mais veloz que um turboélice, mas distante do desempenho de jatos puros. As asas têm a função de armazenar as baterias que darão ao aparelho um alcance respeitável e que deve crescer à medida que elas ganham mais capacidade. Aposta-se também que a Zunum conseguirá recarregá-las em tempo bastante curto para viabilizar um aproveitamento maior do avião.
Embora não tenha nenhuma encomenda ainda, a Zunum acredita que seu avião será uma ótima alternativa aos turbo-hélices pequenos como o Beechcraft 1900D usados até hoje em voos de curto alcance e baixa demanda. Aliás, é esse nicho que a empresa pretende explorar aproveitando a imensa lacuna deixada pelo crescimento das aeronaves regionais e o desinteresse das companhias por rotas assim.
Operação mais barata
É esse conjunto de soluções que fazem do projeto da Zunum um avanço sem precedentes na aviação. Mais simples e barata de operar, a aeronave poderá voar para vários destinos menores e com custo bastante atraente. Apenas nos Estados Unidos existem pelo menos 5 mil aeroportos que hoje não possuem qualquer serviço regular e que, em tese, estariam aptos a receber o novo avião.
A Zunum acredita que seu projeto pode ter um custo até 80% inferior a de aviões convencionais. E mais: com sua propulsão híbrida, o bimotor será 75% mais silencioso e 80% menos poluente que aeronaves convencionais equivalentes.
Distante da JetBlue, por enquanto
Apesar do apoio da JetBlue, companhia de baixo custo que foi criada pelo fundador da Azul, David Neeleman, o primeiro avião da Zunum não deve tê-la como cliente, ao menos nessa geração. Os planos da empresa, no entanto, preveem aeronaves com maior capacidade – nas imagens vemos um modelo com cerca de 70 lugares e outro, maior, com mais de 100 lugares. Até lá, certamente não apenas a JetBlue como a Boeing ficarão de olho nas ideias da jovem empresa americana. Se o aparelho da Zunum cumprir o que promete certamente não faltarão interessados em investir somas bem mais gordas no projeto.
Veja também: Motores elétricos do CityAirbus são aprovados em testes
Devido aos excessos de regras e exigências o Brasil não tem empresas regionais e as poucas existentes cobram preços exorbitantes das passagens. Nas falas ufanistas o Brasil “é um país de dimensões continentais”, mas nossos transportes são como cipós à moda dos macacos e quem não pode pagar aos assaltos das aéreas se sujeitam a três dias e duas noites em ônibus fétidos e morosos. Quando será que romperemos estes atrasos seculares? Poderíamos ter excelentes empresas de ferry boat atendendo no nosso litoral usando hoovercraft ou assemelhados. Quando o Brasil chegará ao século XX?