Desafiando céticos e desconfianças, o primeiro jato comercial desenvolvido na China, o COMAC ARJ21, completou neste mês um ano de operações comerciais. A aeronave entrou em serviço com a companhia aérea Chengdu Airlines no dia 28 de junho de 2016, na rota entre Chengdu e Xangai, 14 anos após o início de seu desenvolvimento.
“Hoje iniciamos o primeiro aniversário das operações seguras do ARJ21, significando que a aeronave passou no teste inicial do mercado e demonstrou que suas operações alcançaram resultados importantes”, disse o presidente da COMAC, He Dongfeng.
A Chengdu Airlines conta atualmente com dois ARJ21 em serviço, que operam 16 voos por semana. A fabricante, no entanto, ainda não recebeu o certificado de produção da aeronave, que voa sob uma espécie de regime de teste comercial, restrito somente ao espaço aéreo da China. Em termos práticos, o jato ainda não foi considerado totalmente operacional.
A COMAC revelou ao site Flight Global que o ARJ21 vai ganhar atualizações após receber indicações de melhorias do primeiro operador. Algumas das modificações previstas são a redução do nariz, a simplificação dos sistemas de alerta e a otimização da aeronave para tornar suas operações seguras mesmo em situações de fortes chuvas.
Esses processos, segundo o fabricante, serão realizados ainda neste ano, a tempo de iniciar a produção em série da aeronave até o final de 2017.
A previsão é de que a Chengdu Airlines receba mais cinco aeronaves neste ano. Já o restante da encomenda feita pela empresa, que compreende mais 23 aviões, serão entregues nos próximos seis anos.
A COMAC já recebeu 302 pedidos pelo ARJ21 de 11 clientes, sendo sete deles empresas chinesas. Os demais são companhias aéreas e grupos de leasing de Myanmar, Congo, Laos, Polônia e Estados Unidos.
Longo aprendizado
O desenvolvimento do ARJ21 foi iniciado em 2002 pelo grupo chinês AVIC (Aviation Industries of China, que posteriormente transferiu o projeto aos cuidados da COMAC, fundada em 2008, mesmo ano em que o avião decolou pela primeira vez.
O plano original, bastante otimista, previa o primeiro voo da aeronave para 2005 e sua entrada em serviço em 2007. Já as primeiras entregas eram previstas para 2013. A fabricante, porém, devido a seguidos atrasos no projeto, não conseguiu cumprir nenhum desses prazos. A primeira unidade foi entregue somente em dezembro de 2015.
A Chengdu Airlines voa com o ARJ21-700, versão concebida para transportar até 90 passageiros em uma classe de cabine (ou 78 em duas classes) e com autonomia para voos de até 2.200 km. A fabricante também trabalha no desenvolvimento da versão ARJ21-900, para 108 passageiros e alcance de 3.300 km.
A estreia do segundo modelo da série ARJ (Advanced Regional Jet – Jato Regional Avançado) é prevista para 2018. Os jatos regionais da COMAC tem preço inicial na casa dos US$ 30 milhões.
Meio chinês, meio americano
O ARJ21-700 é resultado de um antigo contrato assinado entre a McDonnel Douglas e autoridades chinesas, ainda nos anos 1980. Na época, foi negociada uma autorização para montar aeronaves na China, com a transferência de ferramentas, prensas e equipamentos de linha de montagem do antigo jato DC-9, que por sua vez originou o famoso MD-80, um dos aviões mais populares nos Estados Unidos.
O projeto chinês aproveitou a base do DC-9 e modernizou o interior, os equipamentos de voo e outros sistemas da aeronave, como o trem de pouso e os tanques de combustível.
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Aprenderam muito com a montagem dos ERJ-145 da Embraer em Harbin.
Falando nisso tem um Legacy no fundo da foto.