Um dos projetos de aeronave mais controvertidos da história enfim está próximo de tornar-se realidade. A Leonardo, fabricante do AW609, confirmou nesta semana que iniciou a produção do modelo nos Estados Unidos.
Caso você não saiba, o AW609 é o primeiro tilt-rotor civil do mundo, aeronave de rotores basculantes que reúne as características de um helicóptero às de um avião turbo-hélice. Com isso, é possível pousar e decolar em pequenos espaços e também voar em velocidades acima de 500 km/h, além de voar mais alto (25 mil pés) graças a sua cabine pressurizada.
Parece o mundo perfeito, mas o tilt-rotor tem se mostrado uma tecnologia complexa. O primeiro modelo do tipo, o militar V-22 Osprey, teve seu voo inaugural no final da década de 80 após vários testes com protótipos menores, o XV-3 e o XV-15.
Após vários acidentes, hoje a aeronave serve nos Fuzileiros Navais, na Marinha e na Força Aérea dos EUA que juntas têm cerca de 200 unidades do Osprey.
Assim como o V-22, o AW609 também foi desenvolvido inicialmente pela Bell em parceria com a Boeing, então batizado de BA609. O projeto teve luz verde em 1996 com a proposta de levar a tecnologia do Osprey para o mercado de aviação geral. Mas dois anos depois a Boeing decidiu sair do programa, substituída meses depois pela então Agusta, fabricante italiana de helicópteros.
As duas empresas formaram uma joint venture para desenvolver o projeto em 1998 e em 2003 o primeiro protótipo do AW609 voou. Foi então que começou um longo processo de testes e avaliações de uma aeronave tão peculiar.
Com apenas dois protótipos, o AW609 acumulou centenas de horas de voo, realizando diversos testes para ampliar seu envelope de voo, mas em 2011 a Bell decidiu sair do projeto para se concentrar em outro tilt-rotor, o V-280 Valor, num programa do Exército do EUA.
A fabricante americana, no entanto, manteve-se ligada à então já chamada AgustaWestland (após a junção com a companhia britânica de helicópteros) provendo apoio técnico.
Acidente atrasa programa
Em outubro de 2015, no entanto, o projeto sofreu seu maior revés. O segundo protótipo se acidentou no norte da Itália vitimando seus dois pilotos. A FAA, agência de aviação civil dos EUA, que acompanha de perto o desenvolvimento da aeronave, suspendeu seus voos até que a causa do acidente fosse esclarecida.
Apenas em fevereiro de 2017 o AW609 voltou a voar, agora com um terceiro protótipo substituindo a unidade acidentada. Desde então, a Leonardo, nova denominação da AgustaWestland, busca certificá-lo e iniciar suas entregas.
Características únicas
Mas o que leva um fabricante a custear um programa que já dura mais de 20 anos sem que uma única aeronave esteja em operação comercial? A resposta está nas enormes possibilidades que um tilt-rotor pode oferecer. Ao unir o melhor de um helicóptero com a velocidade de turbo-hélice a Leonardo pode atender as necessidades de clientes que hoje não encontram uma solução em uma única aeronave.
O AW609 pode ter várias aplicações como serviço aeromédico, busca e resgate além de ser uma alternativa eficiente para CEOs de grandes grupos corporativos que precisam de velocidade e chegar a locais distantes de aeroportos.
O preço dessa comodidade, no entanto, não é baixo. A Leonardo pede cerca de US$ 25 milhões (quase R$ 100 milhões) pelo AW609, segundo especialistas do setor. É o mesmo que custa um jato de negócios de porte médio como o Challenger, da Bombardier, ou o Legacy, da Embraer.
O AW609 pode levar até nove passageiros e dois tripulantes e voar por distâncias de 2.083 km. Um inconveniente do tilt-rotor é o espaço necessário para pouso. Seus dois rotores ocupam uma largura de 18 metros, uma área maior que a de um helicóptero como o AW139, da própria Leonardo e que leva mais passageiros. Mas tamanho não parece ser problema para a Leonardo que planeja lançar um tilt-rotor maior ainda, com capacidade para 25 passageiros.
O grande desafio, no entanto, ainda é certificar o AW609 até o final do ano e entregar os primeiros aviões em 2020. Por enquanto, a empresa diz ter cerca de 50 interessados pela inusitada aeronave incluindo o ex-prefeito de Nova York, Michael Bloomberg.
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Projeto de muita coragem, altos investimentos, parabéns a todos os envolvidos.