Um pequeno avião com uma enorme importância para o Brasil, o Bandeirante, aeronave que deu origem a Embraer, completa nesta segunda-feira (22/10) 50 anos de seu seu primeiro voo. O protótipo do bimotor, ainda uma versão simplificada do que seria o modelo final, decolou do aeroporto de São José dos Campos (SP), onde no ano seguinte, em 19 de agosto de 1969, foi fundada a “Empresa Brasileira de Aeronáutica”, criada por decreto-lei pela junta-militar que governava o país naquela época.
Na década de 60, o mercado brasileiro iniciou um período de forte redução no número de cidades atendidas pelo transporte aéreo. As companhias daquela época voavam com antigos aviões fabricados nos Estados Unidos, especialmente o famoso Douglas DC-3. Eram aeronaves que pousavam em pistas de terra, de curta extensão, transportando até 30 passageiros e pouca ou nenhuma infra-estrutura de apoio à navegação. Mas eles estavam ficando velhos e voavam em uma época em que começam a surgir os primeiros jatos, que também exigiam aeroportos modernos.
Nos anos 1950 o Brasil chegou a contar com 360 cidades atendidas pela aviação comercial, e na década seguinte tinha apenas cerca de 120 destinos servidos. Era um momento de mudança não só na aviação brasileira como também um movimento mundial.
Os primeiros protótipos do Bandeirante foram projetados e fabricados no Centro Técnico Aeroespacial (CTA, hoje conhecido como DCTA, Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial), liderado inicialmente pelo projetista francês Max Holste. O avião era um fruto de uma difícil caminhada iniciada pela equipe de Ozires Silva em 1965, quando sugeriu o modelo “IPD-6504”ao Ministério da Aeronáutica.
Em 12 de junho de 1965, o então ministro da Aeronáutica, Brig. Eduardo Gomes, assinou o documento básico de aprovação do projeto IPD-6504, e nesse mesmo mês, no PAR, Departamento de Aeronaves do Instituto de Pesquisas e Desenvolvimento (IPD) do CTA, era iniciada a construção do Bandeirante. Para a construção do primeiro protótipo, decorreram três anos e quatro meses, entre os primeiros estudos preliminares e o voo do dia 22 outubro de 1968.
O Bandeirante nasceu como um projeto do IPD do CTA. Desde o início o grupo foi liderado por Ozires Silva, então major da Força Aérea Brasileira (FAB). A ideia era criar um avião bimotor turbo-hélice, com capacidade para 20 passageiros e operar onde pousavam os antigos DC-3 sem exigir atualizações nos aeroportos. Além disso, a aeronave também foi proposta em versões para uso militar.
O esforço resultou no projeto do bimotor IPD-6504, de concepção simples, com peso máximo de decolagem de cerca de 4.500 kg, e equipado com dois motores turbo-hélice Pratt & Whitney Canada PT6A-20. O voo inaugural do primeiro protótipo do Bandeirante foi comandado pelo major José Mariotto Ferreira e engenheiro de voo Michael Cury.
Voa o Bandeirante e nasce a Embraer
A Embraer foi criada por um decreto-lei da junta-militar assinado pelo general Artur da Costa e Silva, presidente do Brasil naquela época, em 22 de agosto de 1969, e Ozires Silva foi nomeado presidente da fabricante.
A Embraer contava com 150 profissionais contratados, entre eles a equipe de Ozires que trabalhou no projeto do primeiro protótipo do Bandeirante no CTA. A criação da empresa estava fundamentada na fabricação do bimotor Bandeirante, mas logo a sua carteira de produtos aumentou, incorporando o planador Urupema, o avião agrícola Ipanema e o jato de combate Xavante.
Foram construídos três protótipos do Bandeirante (ainda EMB-100), que testados a exaustão colheram os dados necessários para evoluir até a versão definitiva, o EMB-110, que voou em 9 de agosto de 1972.
O “novo” Bandeirante apresentava um visual mais atraente, com aspecto mais moderno em relação aos primeiros protótipos. O para-brisa foi reformulado, os motores ganharam naceles mais aerodinâmicos, além da fuselagem alongada. Em dezembro de 1972, o avião foi certificado e os três primeiro exemplares de série, de uma encomenda inicial de 80 aeronaves, foram entregues à FAB.
O primeiro operador comercial do Bandeirante foi a extinta Transbrasil, em abril de 1973. O fato é um grande marco na aviação brasileira, pois pela primeira vez um avião projetado e fabricado no país voava regularmente com uma companhia aérea nacional. O segundo operador do EMB-110 foi a VASP.
Em 1975, a Embraer exportou os primeiros Bandeirante: duas aeronaves foram vendidas para a Força Aérea Uruguaia. Dois anos depois foram iniciadas as exportações do bimotor para linhas aéreas comerciais – a primeira empresa aérea estrangeira a operar com o Bandeirante foi a francesa Air Littoral. Antes de ser entregue, o avião foi exposto no mais importante evento de aviação do mundo, o Salão Internacional de Le Bourget, na França, do qual a Embraer participava pela primeira vez.
Era também a primeira travessia do Atlântico feita por aviões de fabricação nacional, que ocorreu em 26 de maio de 1977, quando o Bandeirante nas cores da Air Littoral decolou de São José dos Campos para Paris. A aeronave fez escala técnica para reabastecimento em Fernando de Noronha e, no dia seguinte, deixou aquela base rumo a Dakar, para depois seguir a Sevilha e finalmente chegar em Paris. O Bandeirante completou o percurso em exatas sete horas e quatro minutos.
Para ampliar as exportações do Bandeirante, a Embraer passou a buscar certificações de agências internacionais. No final dos anos 1970 o avião foi certificado por órgãos de aviação da Europa e dos EUA. A partir daí, a aeronave foi exportada para diversos outros países.
A linha de produção do Bandeirante foi encerrada no final de 1991, sendo que a última unidade foi entregue para o Governo da Amazônia em 1995. No total, foram fabricadas 498 aeronaves, sendo 253 para operadores no Brasil e 245 vendidas para o exterior. E muitos ainda continuam em operação.
A FAB possui a maior frota ativa de Bandeirante, com cerca de 40 aparelhos em serviço. O clássico avião da Embraer também sobrevive na aviação civil, operando como táxi-aéreo pelos rincões do Brasil, e também nos EUA, África e Ásia.
Esclarecedora matéria.
O Bandeirante é um marco na aviação brasileira. O Sr Ozires Pires e equipe merecem
O respeito de todos nós.