Uma data praticamente desconsiderada e até mesmo desprezada por brasileiros, mas muito celebrada nos Estados Unidos e em diversos outros países. Há exatos 115 anos, em 17 de dezembro de 1903, os irmãos Orville e Wilbur Wright decolaram pela primeira vez com o Flyer, considerado por muitos o primeiro avião tripulado da história a ganhar os céus.
A façanha dos irmãos Wright aconteceu na região de Kill Devil Hills, próximo a cidade de Kitty Hawk, no estado da Carolina do Norte, na costa leste dos EUA. O local foi escolhido pela dupla por ter boas condições meteorológicas e a superfície macia de areia para facilitar o pouso.
O primeiro voo foi realizado pelo irmão mais novo, Orville, enquanto Wilbur auxilou na decolagem, estabilizando a asa direita do Flyer. Nesse primeiro teste, o avião percorreu 36,6 metros em 12 segundos. O “Flyer I” (posteriormente os irmãos construíram o Flyer II e o Flyer III, com uma série de modificações) decolava com a ajuda de uma catapulta.
Ainda naquele mesmo dia foram realizados mais três voos, com os irmãos se alternando como piloto – ordem foi decidida após uma disputa de “cara ou coroa”. Wilbur fez o último teste, cobrindo 263,7 metros em 59 segundos. Após o quarto voo a aeronave ficou ligeiramente danificada no pouso e, antes que pudesse ser reparado para mais um voo, uma rajada de vento virou o avião na superfície e causou danos mais graves. Depois disso, o primeiro Flyer nunca mais voou.
Flyer, o pioneiro
Os irmãos Wright, naturais de Dayton, em Ohio, iniciaram o desenvolvimento de sua máquina voadora a partir de 1899. O primeiro avião finalizado era um biplano com controles hoje conhecidos como “canards”, com elevadores à frente e lemes atrás. Os comandos de voo consistiam em torcer ou entortar asas asas e assim alterar sua direção. O piloto viajava deitado no meio da asa inferior, em uma espécie de esteira deslizante.
Para mudar a direção do voo com o Flyer o piloto precisava mover todo seu corpo pela esteira, alterando o centro de gravidade da aeronave, algo parecido com o controle de uma asa delta. Cabos presos a esteira ainda forçavam a “deformação” da asa e a movimentação dos lemes. Encontrar uma maneira de controlar o avião em voo era uma das obsessões dos irmãos Wright, que testaram o conceito dos comandos em planadores antes do primeiro voo motorizado.
O Flyer era construído com madeira de abeto, muito usada para fabricar violinos, e as asas e demais superfícies de controles eram cobertas por tecido musselina, que foi o mais leve e resistente encontrado pelos irmãos. A propulsão do avião ficava a cargo de um motor a gasolina de quatro cilindros em linha de 3.3 litros que gerava 12 cavalos de potência.
O motor do Flyer foi construído pelo mecânico dos irmãos Wright, Charlie Taylor, que mais adiante se tornaria o primeiro passageiro a voar a bordo de um avião. O propulsor foi fabricado com bloco de alumínio fundido e os cilindros eram de ferro, também fundido. O combustível chegava a câmara de combustão por efeito da gravidade, escorrendo do tanque instalado na borda dianteira da asa superior.
A aeronave construída pelos irmãos nos fundos de sua bicicletaria media 6,4 metros de comprimento por 12,3 m de envergadura e pesava 274 kg vazio e 338 kg carregado, que incluía o peso de Orville ou de Wilbur mais 600 ml de gasolina, que era a capacidade máxima do tanque de combustível.
Segundo anotações e cálculos dos próprios irmãos Wright, em quatro testes a aeronave somou 1 minuto, 42 segundos e 5 milésimos de tempo de voo e percorreu um total de 448,7 metros. O Flyer I foi o primeiro de 15 aviões diferentes construídos por Orville e Wilbur.
Flyer versus 14-bis
Dizer que a máquina dos irmãos Wright foi o primeiro avião da história é um assunto que pode causar discussões fervorosas entre entusiastas da aviação no Brasil. Por aqui, a maioria esmagadora defende a tese de que o 14-bis de Alberto Santos Dumont foi a primeira máquina voadora do mundo, mesmo tendo decolado em Paris quase três anos após o primeiro voo do Flyer nos EUA.
Brasileiros habituados ao assunto apontam pelo menos três motivos que colocam o avião de Santos Dumont como pioneiro, em vez da máquina dos irmãos de Ohio. O primeiro deles e o mais comentado pelo público no Brasil é que o Flyer decolou com auxílio de uma catapulta e não por meios próprios, como fez o 14-bis.
Outra razão apontada no Brasil para credenciar o pioneirismo de Santos Dumont é que o voo inaugural do Flyer não teve espectadores nem profissionais de imprensa presentes, enquanto a decolagem do 14-bis foi acompanhada por uma multidão no campo de Bagatelle, em Paris, e amplamente divulgada por jornais na Europa.
Diferentemente de Santos Dumont, que no início do século XX era uma celebridade, os irmãos Wright eram extremamente discretos e até então completos desconhecidos. Os americanos também optaram por fazer seus testes com Flyer com poucas testemunhas pois temiam que sua ideia pudesse ser roubada.
Por fim, outra razão citada no Brasil é a de que o voo do Flyer não foi registrado e homologado por nenhuma organização de aviação. Acontece que em 1903, quando a aeronave dos irmãos Wright decolou, ainda não existia nenhuma instituição desse tipo.
A primeira organização de aviação do mundo, a Fédération Aéronautique Internationale, foi fundada na França somente em 1905 e responsável por avalizar o primeiro voo do 14-bis, em 12 de novembro de 1906.
Na época em que a federação francesa de aviação foi criada o Flyer III já havia realizado um voo circular de 38,9 km em 39 minutos e 23 segundos nos EUA, enquanto o 14-bis de Santos Dumont percorreu 220 metros em 21 segundos…
Veja mais: O avião e sua múltipla paternidade
Wright decolou catapultado, ou seja, não evoluiu do que Lillenthal bem antes já o fizera. Santos Dumont realmente (não para o poder USA) decolou por meios próprios em arriscada decolagem definida e fez o sobrevoo inaugurando a era moderna da aviação. O resto é “complexo de vira-latas” rodrigueano.
Duas perguntas que os defensores dos irmãos Wright não respondem:
1) Por que os irmãos Wright não patentearam o avião, já que costumavam patentear todas as peças de bicicleta que inventavam?
2) Por que não existem réplicas do Flyer que voem, como existem muitas do 14 Bis?
Talvez seu pioneirismo seja fruto de outros interesses. Hoje diríamos que possa ter sido uma jogada de marketing…
Nao existe nenhuma ocumenacao ou testemunha lar que nao seja ada a familia dos irmãos, e ate hoje nunca soube como essa tal maquina voadora voou… Santos Dumont sempre foi e sempre o pai da aviação
Catapulta não é motor, meu anjo
O mais injustiçado na história dos pioneiros da aviação é Samuel Pierpont Langley, assim como o cientista Tesla e não Einstein. Langley fez tudo e muito mais que seus posteriores e também foi a base do desenvolvimento de quem finalmente consegui voar. A máquina de voar era um projeto SUPERSECRETO do governo americano com a participação dos gênios de suas faculdades, objetivando criar um avião para jogar bombas nos navios. Quem quiser detalhes completos de Santos Dumont, Langley e os Wrights deve ler o livro “As Asas da Loucura”. Imperdível!!! Em uma época que o motor recém tinha nascido, este tinha pouquíssimos 3 HP para decolar, motivo maior do vento de proa e sem trem. Nos anos seguintes o motor atingiu 5 HPs, um avanço fantástico. Enfim, a história e longa e cheia de segredos militares (para a época). Langley apostou até sua reputação para construir algo que voasse. Leiam o livro “Asas da Loucura” e enriqueçam seu conhecimento aeronáutico em detalhes e deixem de repetir o que ouviram sem nenhum dado científico e principalmente histórico. Saudações & Bons Voos,