A Boeing não vive os seus melhores dias. Uma reportagem do The Wall Street Journal publicada nesta semana revelou que a produção do novo avião presidencial dos Estados Unidos, o famoso Air Force One, foi interrompida no início deste ano devido a problemas na instalação da fabricante em San Antonio, no estado do Texas, onde um par de jatos 747-8 é preparado para a missão de transporte de autoridades.
De acordo com a publicação, a paralisação ocorreu após tentativas de erguer com macacos um dos dois jatos em desenvolvimento na planta. No entanto, como relatou o WSJ, o avião excedia o limite de peso comportado pelos equipamentos, o que levou a preocupações sobre possíveis danos à estrutura da aeronave.
Citando fontes não identificadas da Boeing, o jornal indicou que uma investigação sobre a ocorrência apurou que um funcionário que trabalhava no projeto não estava devidamente credenciado e outro colaborador falhou num teste de drogas.
O incidente na construção do novo Air Force One veio à tona alguns meses após garrafas de tequila vazias terem sido encontradas em uma das aeronaves em desenvolvimento, apesar do consumo de álcool ser proibido em todas as fábricas da Boeing.
Militares do alto escalão da Força Aérea dos EUA (USAF) disseram anteriormente ao WSJ na condição de anonimato que, em função dos problemas na instalação da Boeing no Texas, o cronograma de entrega do novo avião presidencial pode atrasar em pelo menos dois anos, indicando que um novo prazo estava sendo negociado pelo Pentágono. A entrega dos jatos é prevista originalmente para dezembro de 2024.
O contrato de aquisição dos Air Force One de nova geração (VC-25B, na designação da USAF) foi assinado pelo ex-presidente Donald Trump, em 2018. Após reclamar dos altos preços da aeronave, o ex-mandatário conseguiu um “desconto” com a Boeing, que concordou em construir dois 747-8 altamente modificados por US$ 3,9 bilhões.
Nos últimos anos, a Boeing vem sendo atormentada por falhas de produção com seus produtos na área de aviação comercial. A crise foi evidenciada após os dois acidentes fatais envolvendo o 737 MAX e que levou ao longo período de aterramento da aeronave que é o carro-chefe da fabricante. Outro avião da empresa estadunidense, o 787 Dreamliner também enfrentou contratempos na linha de montagem, acarretando na diminuição do ritmo de produção e no atraso de entregas aos clientes.
Air Force One
O Air Force One surgiu da necessidade de dedicar uma aeronave específica para transportar o presidente dos Estados Unidos, uma praxe vista em quase todos os países atualmente. Mas os americanos, diante da sua presença global e influência de sua economia, foram aos poucos tornando o avião presidencial um projeto muito mais complexo do que a mera tarefa de ser um meio de transporte. Ele é hoje como uma extensão com asas da Casa Branca.
Mas a ideia de criar um avião presidencial surgiu quase por acaso durante a Segunda Guerra Mundial. Até então, o presidente Franklin Delano Roosevelt viajava em aviões civis e militares ligeiramente adaptados. Foi em 1943 que a então USAAF (antiga aviação do exército americano) decidiu preparar uma unidade do avião C-87 Liberator, versão civil do bombardeiro B-24, para que Roosevelt pudesse usá-la sempre que preciso. Dois anos mais tarde, um novo avião foi escolhido para a função, o C-54 Skymaster, versão militar do Douglas DC-4, um quadrimotor com maior alcance e perfil mais adequado para levar passageiros.
O sucessor de Roosevelt, Harry Truman, substituiu o C-54 pelo C-118, nada mais do que um DC-6 para o serviço militar. Mas foi na administração de Dwight Eisenhower (1953-1961) que o avião presidencial tornou-se o “Air Force One” e por conta de um episódio em que um voo da companhia Eastern Airlines estava no mesmo espaço aéreo da aeronave presidencial, porém, ambos com o código “8610”. Temendo colocar o presidente americano em risco, a força aérea criou o codinome “Air Force One” para designar o avião oficial do presidente.
Reagan comprou, Bush usou
Eisenhower utilizou o Constellation antes de ser o primeiro presidente americano a voar no VC-137, versão VIP do Boeing 707 em 1959. No entanto, coube à John F. Kennedy estrear o 707 presidencial, na sua versão militar C-137 com maior alcance, nomeados internamente de SAM 26000 e SAM 27000. Foram eles que introduziram a pintura presidencial conhecida até hoje.
A carreira do 707 foi longa: o primeiro avião voou até os anos 1990 na administração Clinton, enquanto o segundo aparelho disponível fez seu último voo com George W. Bush em 2001 – a força aérea substituiu as aeronaves originais durante esses anos.
Foi Ronald Reagan que na década de 1980 encomendou o 747 como avião presidencial. Com a sigla VC-25, o avião da Boeing foi selecionado numa concorrência lançada em 1985 e voou pela primeira vez em 1987. Baseados no 747-200, os dois Air Force One, no entanto, só ficaram prontos para serem usados por George Bush a partir de 1990. Desde então viajaram pelo mundo levando a bordo de democratas como Barack Obama a republicanos como Donald Trump.