Quando o lançou o programa E-Freighter há quase três anos, a Embraer vislumbrava um nicho no mercado de carga aérea em meio ao crescimento do comércio eletrônico.
O plano era converter aeronaves E190 e E195 para transportar carga e assim oferecer uma alternativa entre turboélices ATR e jatos Boeing 737 e Airbus A320.
Logo surgiram clientes como as arrendadoras NAC e Regional One além de uma parceria com a empresa chinesa Lanzhou Aviation Industry Development Group, mas desde então o programa parece ter perdido urgência na fabricante.
Em abril do ano passado, o primeiro E190F convertido voou pela primeira vez e foi exposto no Farnborough Airshow quatro meses depois.
As certificações de tipo foram emitidas no Brasil, EUA e Europa, abrindo caminho para que a aeronave pudesse operar.
No entanto, apenas o E190F de matrícula N986TA foi concluído até o momento. E mesmo esse avião segue sem realizar voos de carga, baseado em registros de ADS-B.
Em 25 de janeiro, o jato decolou de Orlando, na Flórida, em direção à sede da Embraer, em São José dos Campos e desde então não voou mais.
Cliente de lançamento postergou acordo
Mais preocupante é que a Astral Aviation, do Quênia, demonstrou não ter mais interesse em operar a aeronave. A empresa seria a cliente lançadora do E190F por meio do arrendamento de dois jatos da NAC.
Mas em outubro de 2023, a Astral afirmou ao STAT Trade Times que a “proposta de valor para o E190F” não atendia mais à sua estratégia.
A questão envolveria o valor de arrendamento, considerado muito elevado e a própria NAC afirmou ao mesmo site que a venda de um E-Jet às vezes era mais vantajosa do que uma conversão.
Oficialmente, a Embraer tem 10 pedidos de conversão da NAC, outros 10 de um cliente que acredita-se ser a Regional One, e 20 aeronaves com a Lanzhou.
Em busca de parceiros para a conversão
Em janeiro, Arjan Meijer, CEO da divisão de aviação comercial da Embraer, afirmou ao Flight Global que empresa estava procurando por parceiros de MRO (Manutenção, Reparo e Operações) para assumir o trabalho de conversão P2F (Passageiro para Carga).
O executivo-chefe alegou que empresas assim podem ter uma dinâmica melhor para realizar a conversão já que ela é feita durante o Check-C da aeronave e pode levar cerca de três meses.
Meijer também citou questões que envolvem matérias-primas, o que vai em linha com alegação que o E-Freighter pode ser hoje uma aeronave cara.
A Embraer vê potencial para converter cerca de 100 dos 600 E190 e 195 em atividade atualmente. Além do E190F, que pode levar até 10,7 toneladas de carga, há planos para o E195F, apto a receber 12,3 toneladas.
No entanto, nenhum E195F parece estar em trabalho de conversão, até onde foi divulgado.
Outro fator que pode trabalhar contra o programa é o aquecimento do mercado de aeronaves de passageiros de segunda mão. Em meio a atrasos nas entregas de aviões novos, os jatos usados estão sendo buscados por várias companhias aéreas e empresas de leasing.