Projeto de novo turboélice comercial continua no radar da Embraer

Desenvolvimento de avião turboélice de nova geração era uma das possibilidades aventadas pela Embraer caso a joint venture com a Boeing fosse adiante
Embraer Bandeirante - Força Aérea Brasileira
Em serviço com a FAB há quase 50 anos, o Embraer Bandeirante deve ser aposentado ainda nesta década (Embraer)
De volta às origens: a Embraer estreou na aviação comercial em 1973 com o turboélice Bandeirante (Embraer)

Com o cancelamento da joint venture com a Boeing e em meio à crise no setor aéreo causada pela pandemia do novo coronavírus, a Embraer agora precisa reorganizar a casa. Apesar dos percalços e as incertezas no mercado para os próximos, a fabricante ainda mantém vivo o sonho de lançar um novo avião comercial turboélice.

Em entrevista à agência Reuters, o presidente e CEO da Embraer, Francisco Gomes Neto, admitiu que a empresa deseja desenvolver um novo turboélice, mas não tem dinheiro neste momento para financiar o projeto. O executivo, porém, disse que a ideia tem potencial para gerar um novo acordo de parceria.

“Nestes primeiros anos saindo da crise, teremos que priorizar muitos investimentos”, disse Gomes Neto. “Reduzimos todos os investimentos, alguns deles são próximos de zero”.

O presidente da Embraer afirmou que qualquer nova parceria com outras companhias seria menor do que o modelo de joint venture com a Boeing, que desistiu do acordo no final de abril alegando que a fabricante brasileira não cumpriu as condições necessárias para sua ratificação. Os norte-americanos estavam prestes a assumir 80% da Embraer Aviação Comercial por US$ 4,2 bilhões.

Gomes Neto acrescentou que a Embraer agora está focada em encontrar parcerias menores e mais direcionadas. “Não estamos buscando uma parceria do tamanho da empresa (que seria formada) com a Boeing”, disse o executivo. “Acreditamos que seria mais rápido e eficiente ter parcerias por projeto”.

O EMB-120 Brasília foi produzido entre 1983 e 2001; ao todo foram fabricadas 354 unidades (Embraer)
O Brasília foi o último turboélice comercial da Embraer; produção foi de 1983 a 2001 (Embraer)

O desenvolvimento de um novo turboélice era uma das apostas da Embraer caso a joint venture com a Boeing fosse adiante. Executivos da fabricante brasileira disseram repetidas vezes que um projeto desse porte só era possível com a ajuda de um parceiro, pois sozinha a empresa não teria condições de financiá-lo.

Em teleconferência sobre os ganhos da Embraer no primeiro trimestre de 2020 realizada na segunda-feira, 1 de junho, o presidente e CEO da Embraer nomeou a China e Índia como potenciais parceiros, mas que até o momento não havia nenhuma negociação em andamento.

“Não temos negociações em andamento no momento, mas sem dúvida são parceiros em potencial”, disse Gomes Neto sobre esses países. “Estamos avaliando esses mercados neste momento, mas ainda está em um estágio embrionário”.

Segmento com poucas opções

Faz tempo que a categoria dos turboélices não tem um novo competidor. De tantas opções no passado, inclusive produtos da Embraer (Bandeirante e Brasília) e o clássicos Fokker 27 e 50, o segmento hoje tem apenas duas opções: os ATR ou o Dash 8 (ex-Q-Series da Bombardier).

Quem ousar se aventurar nesse ramo da aviação precisa criar um produto altamente eficiente, algo “disruptivo” ou “fora da caixa”, como diria um executivo da aviação. São aviões para abastecer rotas curtas onde os jatos não são eficientes e operar em aeroportos com pistas curtas, atendendo a “raiz” da aviação regional em regiões isoladas com demanda.

Carente de uma nova revolução tecnológica, a categoria dos turboélices não vê uma grande novidade desde os anos 1980, quando a ATR lançou os modelos ATR 42 (introduzido em 1985) e ATR 72 (1989).

“ATR chinês”: o turboélice MA700 da AVIC deve chegar ao mercado em 2021 (Weibo)

O próximo passo na categoria é então lançar um avião turboélice com as tecnologias mais avançadas da aviação. Isso que inclui recursos como comandos eletrônicos fly-by-wire, novas soluções para cabines e conforto e quem sabe até um sistema de motorização híbrido.

Fabricantes na China e Rússia também estão desenvolvendo novos aviões turboélices comerciais, mas ainda com soluções convencionais como um esforço dos dois países para desenvolver suas próprias indústrias e atender o mercado local e suas áreas de influência.

As propostas chinesa e russa não são aviões para competir no Ocidente, como seria o caso de um novo modelo de última geração da Embraer.

Veja mais: Embraer considera novas parcerias para promover o C-390 Millennium

Total
0
Shares
4 comments
  1. É claro que em tempos difíceis é hora justamente de pensarmos em sair do “óbvio”. Não sou do ramo da aviação mas imagino que já estamos atrasados. Convém colocar já nas pranchetas, o pessoal técnico da própria EMBRAER ou ainda contratar 2 ou 3 experts de fora para projetarmos turboélices modernos e eficientes, com capacidade imediatamente inferior aos próprios jatos nacionais. Sabe-se que a China e a Rússia já saíram na frente, mas presumo que poderíamos focar em nossos vizinhos de fronteira como potenciais clientes. E não esquecer que dentro de nossas próprias fronteiras temos cidades e regiões inteiras a ser atendidas. A hora é essa.

Comments are closed.

Previous Post

Centro de Alcântara é aberto para lançamentos espaciais de empresas estrangeiras

Next Post

Após 79 anos, Exército Brasileiro é autorizado novamente a operar aviões

Related Posts
Total
0
Share