Presidente-executivo da Embraer Aviação Comercial, Arjan Meijer concedeu uma entrevista à agência Reuters na qual ele confirma que a fabricante brasileira está negociando com potenciais parceiros para desenvolver uma nova aeronave turboélice de passageiros.
“Estamos em negociações ativas sobre parcerias (para o turboélice), mas não posso entrar em mais detalhes agora”, disse Meijer.
Executivos da Embraer já repetiram em diversas ocasiões que a execução do projeto do novo turboélice vai exigir a participação de um ou mais parceiros investidores. Analistas sugerem que tal desenvolvimento pode custar em torno de US$ 2 bilhões, quantia que a fabricante brasileira não tem condições de arcar sozinha neste momento.
“O tipo de parceria, seja industrial ou financeira, é amplamente aberta. Estamos examinando todas as opções, ou pode ser uma combinação das duas. Não estamos descartando ninguém neste momento”, acrescentou o presidente da divisão de aviação comercial da Embraer.
Meijer ainda ressaltou que o turboélice proposto pela Embraer é pensado com motorização convencional, mas com emissões poluentes e nível de ruído reduzidos. Em julho, o vice-presidente de marketing da Embraer Aviação Comercial, disse que o avião deve ser capaz de receber entre 70 e 100 passageiros, o que faria dele o modelo com maior capacidade da categoria.
De acordo com o Meijer, a decisão sobre o lançamento do programa deve ser anunciada em 2021, já que neste momento a indústria aeronáutica está focada em se recuperar da crise causada pela pandemia do novo coronavírus.
Potenciais parceiros
Segundo fontes da indústria ouvidas pela Reuters, a Saab é apontada como um potencial parceiro para ajudar a Embraer a projetar o novo avião comercial. A agência aponta que um acordo com os suecos poderia ser facilitado devido a atual proximidade entre as duas empresas, por meio da venda e transferência de tecnologia dos caças Gripen E/F para a Força Aérea Brasileira (FAB).
A Saab tem uma longa experiência na produção de turboélices de passageiros e inclusive foi uma concorrente da Embraer nessa categoria. No passado, o EMB-120 Brasília disputou mercado com o Saab 340. Outro modelo oferecido pelos suecos nesses nicho foi o Saab 2000 – os dois turboélices foram descontinuados pela Saab em 1999, enquanto a Embraer continuou no segmento até 2003.
Em nota enviada ao Airway, a Saab informou que “não tem planos de reiniciar o desenvolvimento e produção de aeronaves civis. Nosso foco para investimentos futuros está no núcleo de nosso portfólio de produtos atual, no qual os caças militares desempenham um papel central. A Embrear está desempenhando um papel central nisso como um parceiro importante e estratégico.”
A Coreia do Sul também está interessada em turboélices, disseram as fontes. A principal fabricante aeronáutica sul-coreana é a Korea Aerospace Industries (KAI), hoje focada basicamente na produção e desenvolvimento de produtos militares.
O desenvolvimento conjunto de um novo turboélice era uma das possibilidades aventadas na joint venture de aviação comercial que seria formada entre Embraer e Boeing. No entanto, os americanos desistiram do acordo em abril deste ano.
O fracasso no acordo com a Boeing teve um sabor amargo para a Embraer, que passou a adotar uma postura mais comedida quando o assunto são novas parcerias. A empresa busca agora um parceiro para colaborar em projetos específicos e não cogita vender uma de suas unidades, especialmente a divisão de aviação comercial.
“Somos uma empresa forte e temos uma boa posição de caixa, por isso estamos olhando para o futuro com muita confiança”, finalizou Meijer.
*Texto atualizado às 9:14 do dia 25/11/2020 com o posicionamento oficial da Saab.
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