O apelo é praticamente irresistível: viajar do Brasil para Orlando e Miami por menos de R$ 1.300 incluindo até mesmo as taxas de embarque. A promoção é o mote da campanha de relançamento dos voos da Gol para os Estados Unidos, que começam dia 4 de novembro. A companhia aérea usará seus novos Boeing 737 MAX 8, com maior alcance, para voar de Brasília e de Fortaleza para as duas cidades da Flórida, paraísos dos brasileiros, como se sabe.
O problema é que o valor divulgado na campanha existe apenas para quem de fato embarcar em Fortaleza para Miami caso haja disponibilidade em ambos os sentidos, como é comum hoje em dia no transporte aéreo. Quem, por exemplo, deseja embarcar em São Paulo para aproveitar os novos voos pagará na melhor das hipóteses R$ 2.430, já se partir do Rio de Janeiro, um pouco mais: R$ 2.508 (em ambos os casos os passageiros seguem para Brasilia e de lá para os EUA). Ou seja, praticamente o dobro do que a campanha faz subentender.
A ação da Gol não é exclusiva. Várias companhias aéreas têm utilizado esse expediente para oferecer voos baratos, mas que embutem alguns dissabores como conexões demoradas e uso de aviões menores que tornam uma viagem relativamente rápida numa epopeia.
É o caso da opção de voo que a Aeromexico oferece entre São Paulo e Orlando. O preço da passagem num período semelhante ao da Gol custava até menos que a promoção da empresa brasileira (cerca de R$ 2.400) mas exigia que o passageiro voasse até a Cidade do México e lá esperasse uma conexão por seis horas. Total da viagem de ida? Quase 30 horas…
Chance menor de janela ou corredor
Nesse aspecto, o novo voo da Gol é até rápido para quem precisa fazer uma conexão em Brasília. São cerca de 11 horas de viagem total segundo o site da empresa, ou pouco mais de duas horas extras para chegar ao destino. A questão aqui é que um passageiro desavisado certamente estranhará quando embarcar num avião pequeno em vez de um widebody na capital federal. Em que pese o 737 MAX ser um jato novíssimo ele não possui a amplidão de uma cabine de um 767, para citar um avião de dois corredores relativamente pequeno.
Além disso, a chance de voar num assento que não seja janela ou corredor é maior que em certos widebodies. Enquanto um 737 tem em torno de 30% dos lugares travados um A330 da Azul essa chance é de 24%, no mesmo jato da Avianca, de 23% e num 767 da LATAM, de 15%. Claro que isso por si só não significa desconforto, basta lembrar que a distância entre as fileiras na Gol está entre as melhores do mercado.
Mas é na necessidade de chegar até Brasília ou Fortaleza que torna a opção de voo internacional da Gol mais complicada. Ou seja, parte dessa viagem será feita num voo nacional comum, ao contrário de outras conexões internacionais como as que a Avianca ou LATAM operam em países da América do Sul.
A razão para isso está no fato de o 737 MAX 8 não possuir autonomia suficiente para voar desde o Sudeste até o Sul da Flórida. Para evitar a indesejável escala no Caribe que existia na primeira tentativa da empresa de voar para os Estados Unidos (com os menos eficientes 737-800NG), a Gol optou por realizar essas novas frequências a partir de aeroportos mais próximos de Miami e Orlando, além de bem servidos por voos nacionais.
A mesma estratégia é usada pela Azul em seu novo voo Recife-Orlando que pode sair por um valor parecido com o da Gol, porém, com uma escala mais demorada, dependendo do dia escolhido.
Seja qual a opção, é importante atentar para esses detalhes afinal o que parece ser uma oportunidade imperdível pode se transformar num longo transtorno no ar e também no solo.
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Essa reportagem só pode ter sido escrita por alguém de São Paulo que está pouco acostumado às escalas e conexões. Qualquer pessoa do nordeste, por exemplo, sabe que para pegar as melhores ofertas geralmente é necessário comprar o trecho nacional para GRU. Vocês aí precisam se acostumar com a ideia de que Recife e Fortaleza são hubs bem mais baratos de operar. Por isso os voos internacionais daqui estão finalmente engatinhando.
Caro Jorge, a matéria não desmerece em nenhum momento a existência desses voos. Pelo contrário, é ótimo que tenhamos mais frequências partindo de cidades como Fortaleza, Recife, Salvador, Belém, entre outras. É justo com o público da região que antes precisava viajar na “contramão” para chegar a alguns destinos no Hemisfério Norte. O que abordamos foi o fato de que algumas companhias aéreas buscam completar a demanda dessas rotas com passageiros de outras regiões, sobretudo o Sudeste, onde está a maior parte dos passageiros. Se um voo Fortaleza-Miami é perfeito para um cearense pode ser um suplício para um mineiro, carioca, gaúcho ou paulista da mesma forma que um voo saindo de São Paulo é ruim para o pernambucano ou baiano. O importante é prestar atenção nesses detalhes: tempo de voo, quantidade de escala, tempo de conexão e equipamento para que a economia de R$ 200, R$ 300 para um voo direto valha a pena. Abraços.