Cercado de expectativa, o projeto Sunrise, da Qantas, terá início nesta sexta-feira com a decolagem de um Boeing 787-9 de Nova York com destino a Sydney, na Austrália. A bordo da aeronave recém entregue pela fabricante apenas 50 passageiros (parte deles voluntários) que percorrerão mais de 16.000 km em quase 20 horas de voo cujo pouso está previsto para domingo, no horário local.
A maratona aérea tem um objetivo claro: identificar possíveis formas de melhorar a experiência em voo para que os passageiros consigam suportar tanto tempo em um ambiente confinado e pressurizado a mais de 10.000 metros de altitude.
Com seus principais hubs na Austrália distantes de cidades como Nova York e Londres, a Qantas é uma da companhias aéreas mais afetadas pela impossibilidade de transportar seus passageiros de forma mais rápida e direta entre seus destinos.
Atualmente, sua rota mais longa liga a capital britânica à cidade de Perth, na costa Oeste da Austrália, que está distante das principais metrópoles do país. Ou seja, viabilizar um voo entre Londres e Melbourne ou Sydney é algo que a empresa persegue.
Desafio para os fabricantes…
Para conseguir avaliar as condições dos passageiros nesses voos ultralongos, a Qantas teve que restringir o número de ocupantes nos aviões a fim de ampliar sua autonomia, o que demonstra que a experiência da companhia aérea também é um desafio para os fabricantes.
O objetivo é criar condições de oferecer voos tão longos com uma capacidade maior, algo que hoje ainda não é possível. O jato com o desempenho mais próximo disso é o A350-900ULR, uma versão especial do birreator que é usado pela Singapore Airlines desde 2018 para ligar Singapura a Nova York, separadas por mais de 15.000 km. Mas para conseguir isso, o avião da Airbus possui apenas 173 assentos.
O desafio da Qantas, no entanto, já motivou a Airbus a desenvolver uma nova variante do A350-1000 capaz de voar distâncias de 16.000 km (8,700 nm), cerca de 550 km a mais que o capacidade original. Para conseguir esse alcance extra a aeronave deverá elevar seu peso máximo de decolagem (MTOW) para transportar 159.000 litros de combustível.
Trata-se, no entanto, de uma autonomia que não permitiria voar de Londres para a costa Oeste da Austrália, distante cerca de 17.800 km.
…e também para os passageiros
Se a meta de voar por tanto tempo sem escalas é complicada para Boeing e Airbus, para os passageiros não é diferente. O jetlag, um problema recorrente nos voos de longa distância, só tende a piorar nessas condições.
Por essa razão, os passageiros dos voos experimentais da Qantas, assim como a própria tripulação, serão monitorados durante todo o voo. Os pilotos voarão com equipamentos de monitoramento cerebral, coletarão urina antes, durante e após o pouso e serão gravados em vídeo por todo o percurso para acompanhar sua atividade.
Já os passageiros terão sensores em suas roupas para registrar movimentos e exposição à luz solar. A dieta a bordo será controlada para ajudar o relógio biológico a se adaptar às mudanças de fuso, suas atividades antes, durante e depois do voo serão registradas e ainda farão um teste de reflexos após a chegada.
Antes mesmo de começar o projeto, a Qantas já conseguiu levantar alguns dados por meio de pesquisas com seus clientes. Segundo elas, 54% dos passageiros utilizaram tampões de ouvidos ou fones com cancelamento de ruído para dormir melhor enquanto 38% ingeriram bebidas alcoolicas e 10%, remédios para dormir.
Após a chegada ao destino, apenas 39% escolheram refeições leves para recuperar o organismo e 47% tomaram sol, uma das maneiras mais efetivas de reduzir o jetlag. Como se vê, há muito ainda que aprender a bordo de um avião.
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