O dia 30 de setembro de 1968 é talvez um dos mais importantes na história da aviação comercial. Foi nesta data em que a Boeing abriu as portas de seu enorme e recém-construído hangar de montagem final em Everett, estado de Washington, nos Estados Unidos, e revelou o avião mais impressionante que já havia sido construído até então, o incrível 747.
A apresentação do 747 daquele dia foi a conclusão de um trabalho iniciado em 1963, quando a Força Aérea dos EUA pediu uma aeronave grande e capaz de transportar cargas inconcebíveis para aviões daquela época. Ao mesmo tempo, as viagens aéreas para o público em geral também estavam crescendo, especialmente em trechos internacionais.
Até o final dos 1960, a aeronave comercial de longo alcance e maior capacidade de passageiros era o 707, um avião projetado em 1957 com fuselagem estreita e apenas um corredor entre as fileiras de assentos. Era uma aeronave eficiente para os limites da época, mas as companhias aéreas queriam mais.
O pedido mais incisivo foi do então presidente da Pan American World Airways, o visionário empresário Juan Trippe. Seu desejo era equipar a frota da empresa com uma aeronave que tivesse o dobro do tamanho do 707. Em 1966, ainda longe do avião ser concluído ou testado, a Pan Am já havia encomendado 25 unidades da nova aeronave a um custo total de US$ 525 milhões – valor que atualmente é o suficiente para comprar apenas um 787-8 (avaliado em cerca de US$ 402 milhões).
O projeto do novo avião apresentado pela Boeing esmagava os números do 707, que podia transportar no máximo até 194 passageiros (na versão 707-320C). O primeiro 747, o modelo -100, podia embarcar 366 pessoas, mas sua autonomia era limitada em 8.560 km e ainda ficava aquém do 707-320C, que podia percorrer 9.300 km. Essa questão, porém, logo foi resolvida com o lançamento da segunda versão 747-200, projetada para voar por mais de 12.000 km.
Gigante da aviação comercial
Com mais e mais pessoas voando, os aviões precisavam ser maiores e o 747 foi o maior símbolo dessa mudança. Projetado com uma protuberância na parte frontal e um duplo deck parcial, o avião gigante da Boeing oferecia uma enorme variedade de configurações de cabine, algumas com direito até a bares e lounges com piano.
A Boeing decolou com o 747 pela primeira vez em 9 de fevereiro de 1969 e em menos de um ano a aeronave estreou na aviação comercial com a Pan Am. O primeiro voo comercial da aeronave foi realizado em 22 de janeiro de 1970, na rota Nova York-Londres. O avião da companhia era configurado para transportar 400 passageiros, uma capacidade inédita e para muitos até superdimensionada para aquela época.
O sucesso do Boeing 747 foi imediato e dezenas de companhias encomendaram a aeronave atraídas pelo fato de que um avião tão grande poderia reduzir o custo das passagens pela metade.
No Brasil, o único operador do 747 foi a extinta companhia aérea Varig. A empresa voou com 12 aparelhos (747-200, -300 e -400) entre 1981 e 1998.
História de sucesso e controvérsias
Os primeiros problemas na carreira do Boeing 747 começaram em 1979, quando eclodiu a crise do petróleo. O aumento nos preços dos combustíveis forçou as companhias aéreas a mudar a forma como operavam o quadrirreator, que consumia enormes quantidades de querosene. A solução foi reconfigurar as aeronaves para transportarem ainda mais passageiros e assim conseguir fechar a conta para manter viável os voos com o 747. Era o fim da chamada “era de ouro” da aviação comercial, onde o luxo e glamour foram substituídos por um modus operandi mais pragmático.
A crise do petróleo no final dos anos 1970 reduziu drasticamente as encomendas de 747. Os grandes volumes de pedidos foram retomados somente a partir de 1986 e alcançaram seu ápice em 1990, quando a Boeing recebeu 122 encomendas pela aeronave, então já disponível na versão 747-400, o mais bem-sucedido dos 747, com quase 700 unidades produzidas – de um total de 1.548 unidades de todas as versões fabricadas em cinco décadas.
O Boeing 747 também coleciona alguns fatos negativos. Até o momento, a maior aeronave da Boeing esteve envolvida em 146 incidentes e acidentes na aviação, resultando na perda de 3.722 vidas. No entanto, a maioria dos acidentes não foi causada por problemas no avião, mas sim por erros humanos.
O Jumbo também é o avião mais sequestrado da história, com 32 casos. O mais famoso foi o sequestro do voo 73 da Pan Am, rendido em Karachi, no Paquistão, por terroristas palestinos da organização Abu Nidal, em 1986, que terminou com 43 passageiros mortos e outros 120 feridos.
O 747 também protagonizou o maior acidente aéreo da história, o “Desastre de Tenerife”, quando dois jumbos se chocaram no aeroporto de Tenerife, na Espanha, deixando 583 mortos.
Fim de carreira
Com o avanço da tecnologia de motores aeronáuticos, o uso do 747, um quadrimotor, vem caindo em desuso nos últimos anos com a introdução de novos aviões bimotores mais eficientes. Importantes companhias aéreas já aposentaram seus aparelhos ou então em vias de, como a United Airlines, Qantas e a British Airways, atual maior operadora do gigante da Boeing e que encerrará o ciclo de suas aeronaves em 2024.
Atualmente existem cerca de 500 jatos 747 em serviço pelo mundo, mas menos da metade deles transporta passageiros. A principal tarefa do jumbo hoje em dia é o transporte de cargas, função que ainda é rentável para o modelo, mesmo com seu altíssimo custo operacional e de combustível.
Antes adquirido por seu grande porte, o 747, quem diria, vem sendo substituído por aviões menores, como o 787 Dreamliner ou mesmo modelos narrowbodies como o Airbus A320 e o 737 MAX, que hoje são capazes de realizar voos transatlânticos por uma fração do custo exigido pelo jumbo.
A Boeing ainda segue produzindo o 747 (na versão 747-8), mas em algumas oportunidades já revelou que deve descontinuá-lo na próxima década devido ao baixo volume de encomendas. A carreira da “Rainha dos Céus”, apelido que o avião ganhou nos anos 1970, porém, ainda está longe de terminar, mesmo que em funções distantes do transporte de passageiros.
Veja mais: As diferentes faces do Boeing 747
Gostaria muito de ver o 747 com motores do 777, se isso fosse tecnicamente viável… seria o melhor design com a eficiência dos birreatores atuais.
No que diz respeito aos incidentes com o 747, outros dois, além dos citados, também merecem destaque: o 747 da PanAm vitimado por uma bomba em Lockerbie, Escócia; e o acidente com o maior número de vítimas fatais em uma única aeronave, com o 747 da Japan Airlines (JAL).
Olá Daniel, seu desejo não é totalmente impossível. A GE está testando o novo motor do 777X em um 747-400. Dá uma olhada: https://airway.uol.com.br/ge9x-o-maior-motor-a-jato-da-historia-voa-pela-primeira-vez/