A imagem acima, raríssima, feita dias atrás pela equipe do Museu da Força Aérea dos EUA, reúne dois dos mais espetaculares aviões já criados, o protótipo do caça YF-12, irmão do avião-espião SR-71, e o bombardeiro experimental XB-70A. Ambos são dos poucos jatos que foram capazes de voar acima de Mach 3 (3.600 km/h), ou seja, três vezes a velocidade do som, um desempenho tão incomum que praticamente inexiste nos dias de hoje – ao menos oficialmente.
As duas aeronaves fazem parte do rico acervo do maior museu de aviação militar do mundo, localizado na base aérea de Wright-Patterson, em Ohio. Ela própria é parte do acervo, afinal é um dos locais mais referenciados como palco de de projetos secretos na Guerra Fria – e que incluem até teorias sobre discos voadores.
Mas, afinal, o que os dois ícones da aviação faziam do lado de fora do museu numa espécie de ‘banho de sol’ após anos confinados num hangar? Segundo o museu, o motivo foi uma mudança de layout do espaço de exposição. “As equipes de restauração moveram o North American XB-70 Valkyrie e outras aeronaves de pesquisa e desenvolvimento para fora hoje como parte de um redesenho da galeria no quarto edifício do museu”, explicou uma postagem no Twitter, onde as imagens mostradas aqui foram divulgadas.
A arrumação geral do museu, no entanto, criou uma cena emblemática, em que boa parte da história de desenvolvimento de aeronaves avançadas pôde ser vista ao mesmo tempo, incluindo projetos outrora secretos.
Velozes e invisíveis
Embora nunca tenha sido um segredo guardado a sete chaves, o futurista XB-70 é o mais vistoso dos aviões da ala. Concebido nos anos 60 como um bombardeiro nuclear de grande altitude, o Valkyrie era capaz de voar a Mach 3 e para isso possuía um projeto inovador, com seis motores turbojatos, canard e pontas das asas com diedro variável. A aeronave, no entanto, foi vítima da eficiência dos mísseis balísticos e também da capacidade dos mísseis terra-ar, que seriam capazes de derrubar aviões como ele.
O jato voou pela primeira em 1964 e chegou a ter dois protótipos, mas um deles acabou destruído num acidente bizarro, enquanto a GE, fornecedora dos motores, fazia um voo em formação com outros aviões militares em 1965. Embora tenha desistido de produzi-lo, a USAF repassou o XB-70 restante para a NASA para pesquisas até 1969, quando o gigante supersônico foi entregue ao museu.
Já o YF-12 foi a segunda variante do avião supersônico criado pelo projetista Kelly Johnson, líder da equipe Skunk Works, da Lockheed. Antes dele, a fabricante havia construído o A-12, um avião de espionagem monoposto, que foi o precursor do SR-71, versão que teve mais unidades produzidas e que manteve-se em serviço por um longo tempo.
Já o protótipo de interceptador, que voou em 1963, foi estudado pela USAF por algum tempo e tinha como maior diferencial visual o nariz arredondado para acomodar um radar Doppler. Assim como o XB-70, também o YF-12 acabou cancelado e os protótipos emprestados para a NASA. Todos os três modelos eram capazes de voar acima de Mach 3 e foram os aviões “convencionais” mais velozes da história (até onde se sabe).
Em outra imagem que mostra alguns aviões em frente ao hangar é possível identificar um dos protótipos do YF-23, projeto de caça de 5ª geração da McDonnell Douglas (hoje Boeing) e que foi derrotado pelo YF-22. Mais ao fundo, o raríssimo Tacit Blue, um avião-conceito criado pela Northrop na década de 80 para demonstrar tecnologias de furtividade e considerado a aeronave mais instável já criada.
O Tacit Blue também aparece na foto que mostra o XB-70 ainda dentro do hangar do museu e onde é possível ver também um dos X-15, o avião-foguete experimental hipersônico que era lançado a partir da asa de um bombardeiro B-52 e que detém o recorde mundial de velocidade para uma aeronave, ao ter atingido Mach 6.7, ou 7.274 km/h a uma altitude de 31,1 mil metros.
Acervo inigualável
Embora não faltem museus importantes no mundo, o acervo de Wright-Patterson é um dos mais fabulosos na história da aviação militar. Além dos modelos citados, há preciosidades como o caça F-107A, o X-13 Vertijet, o X-3 Stilleto, o XV-6A Kestrel, protótipo que deu origem ao caça britânico Harrier, de decolagem vertical, e dezenas de outros aviões que de uma forma ou de outra marcaram o centenário da aviação. Mas vê-los ao ar livre não é algo que acontece com muita frequência.
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