A Administração Federal de Aviação (FAA) dos EUA está perto de emitir a ordem para suspender o aterramento do 737 MAX “em um futuro próximo”, informou a agência reguladora norte-americana nesta terça-feira, 21. O avião da Boeing foi proibido de voar com companhias aéreas em março de 2019, após os acidentes com modelos da Lion Air e Ethiopian Airlines que mataram 346 pessoas.
O próximo passo do FAA na recertificação da aeronave é o “aviso de proposta de regulamentação” (NPRM), processo que permanecerá aberto por um período de 45 dias para receber comentários do público sobre as mudanças no projeto do jato comercial e os novos procedimentos de treinamentos dos pilotos que permitiriam aos operadores retomar os voos comerciais com o MAX.
A FAA ainda não informou quando a proposta será publicada ou quando ela poderá ser finalizada. Se o aviso for divulgado nesta semana, o período de comentários sobre as mudanças do avião terminaria no início de setembro, quando a agência norte-americana finalizar o processo.
Esse prazo está alinhado com a afirmação pública da Boeing, que planeja retomar as entregas do 737 MAX no terceiro trimestre do ano.
Os detalhes da proposta permanecem desconhecidos, mas o documento analisará “as alterações propostas no projeto e os procedimentos da tripulação para mitigar os problemas de segurança identificados durante as investigações que se seguiram aos acidentes da Lion Air e da Ethiopian Airlines”, informou o FAA.
O processo de recertificação da aeronave também precisa passar pelo crivo do Conselho de Aviação de Operações Conjuntas (JOEB), que inclui os órgãos reguladores do Canadá, Europa e Brasil. Esse conselho “avaliará a conformidade com todos os regulamentos da FAA” e, em última análise, a agência dos EUA decidirá se aprovará as alterações no projeto.
“Vamos suspender a ordem de aterramento somente depois que os especialistas em segurança da FAA estiverem convencidos de que a aeronave atende aos padrões de certificação”, acrescentou o FAA.
Terminado esse processo, a FAA emitirá uma “Notificação de aeronavegabilidade continuada para a comunidade internacional”. Esse documento, conhecido como “CANIC, descreverá as ações que os operadores devem executar antes de colocarem seus aviões de volta ao serviço.
Em nota enviada à imprensa, a Boeing informou que “está trabalhando em estreita colaboração com a FAA e outros reguladores internacionais para atender às suas expectativas enquanto trabalhamos para devolver com segurança o 737 Max ao serviço. A segurança é nossa prioridade e o cronograma de retorno ao serviço será determinado pelos reguladores.”
ANAC acompanha o caso de perto
Desde abril de 2019, quando a Boeing iniciou as atividades para certificação das modificações propostas, a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) tem se envolvido na análise destas modificações com vistas à validação das mesmas, informou a agência reguladora brasileira em contato com o Airway.
“Um dos sistemas que tem sido alvo de maiores análises e verificações é o chamado MCAS (“Maneuvering Characteristics Augmentation System”), que atua sob certas condições alterando a atitude da aeronave em relação ao solo. As modificações propostas neste sistema contemplam principalmente as condições para que o sistema atue adequadamente e que a amplitude desta atuação seja limitada. Outros aspectos também têm sido alvo de análises como informação apresentadas nas telas do cockpit (displays) bem como avaliação de carga de trabalho dos pilotos em alguns cenários de falhas”, relatou a ANAC.
Depois de vários meses de análises, discussões e propostas de alteração em alguns sistemas das aeronave, a FAA realizou recentemente ensaios em voo para testar as modificações realizadas no 737 MAX.
“Esta etapa é de grande importância, pois através destes voos é possível avaliar se os efeitos das modificações estão de acordo com esperado e apresentam comportamento satisfatório. Os resultados dos ensaios em voo foram apresentados às autoridades aeronáuticas as quais puderam obter maiores informações e esclarecimentos sobre eles. A ANAC participou desta análise, tendo optado por não fazer ensaios em voo dedicados como parte do seu esforço de validação”, informou a agência.
Para que as aeronaves retornem à operação no Brasil, atividades adicionais ainda são necessárias. Em primeiro lugar, o processo que comprova a segurança e cumprimento com requisitos em termos de engenharia precisa ser concluído. A avaliação de aspectos operacionais e de treinamento também é um pré-requisito para o retorno ao serviço.
“Após a autoridade norte-americana, como autoridade primária, declarar o término da certificação da modificação endereçando também aspectos relacionadas à aeronavegabilidade continuada, a ANAC concluirá a sua validação sinalizando positivamente para que a operação no Brasil seja retomada uma vez implementadas as modificações na aeronave e o treinamento da tripulação”, concluiu a ANAC, que faz parte do grupo de órgãos certificadores mais experientes do mundo.
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