O Reino Unido foi responsável por criar alguns dos mais célebres caças da história como o Spitfire, Hunter, Hurricane e Tempest, mas desde o versátil Harrier não fabrica um avião desse gênero por conta própria. Esse cenário pode mudar na próxima década com a estratégia de Combate Aéreo do Futuro apresentada na abertura do Show Aéreo de Farnborough.
Diante de um mock-up em escala real do caça de 6ª geração, o secretário de defesa britânico Gavin Williamson antecipou os planos de construir um sucessor para o caça Eurofighter Typhoon, que é a linha de frente da defesa do país desde 2003.
“Somos líderes mundiais no setor aéreo de combate há um século, com uma gama invejável de habilidades e tecnologia, e essa Estratégia deixa claro que estamos determinados a garantir que continue assim. Ele mostra aos nossos aliados que estamos abertos a trabalhar juntos para proteger os céus em um futuro cada vez mais ameaçador – e esse modelo conceitual é apenas um vislumbre de como o futuro poderia parecer”, afirmou Wiliamson a uma platéia presente ao estande em Farnborough.
Resgatando o nome Tempest, um caça usado pela Inglaterra na Segunda Guerra Mundial, o novo avião será desenvolvido pela BAe Systems com apoio da Rolls Royce (motor), da italiana Leonardo e da fabricante de mísseis MBDA.
O conceito apresentado na feira tem design furtivo como outros modelos do tipo, mas sem estabilizadores horizontais ou canards. Lembra em certos ângulos o americano F-22 Raptor mas numa escala um pouco menor. É no pacote tecnológico, no entanto, que o projeto deve se destacar. O sistema de propulsão será adaptativo e o piloto usará um capacete com cockpit virtual. Ele terá versões tripuladas e não tripuladas além de uma série de novos armamentos inteligentes em desenvolvimento.
Caça europeu?
Apesar de buscar liderar novamente um projeto tão avançado, o Reino Unido planeja ampliar as parcerias para viabilizar o Tempest. Com horizonte de operação a partir de 2035, o novo caça poderá receber a colaboração de outros países como Japão, Turquia, Coreia do Sul e Suécia e até mesmo da França e Alemanha, que já decidiram desenvolver seu caça em conjunto.
Há até a esperança que os dois programas acabem sendo fundidos, o que certamente reduziria custos e potencializaria os números de produção, mas não é de hoje que a Europa tenta sem grande sucesso desenvolver um projeto integrado. No entanto, em geral a pressão interna acaba por fazer com que uma outra nação acabe abandonando barco. Foi o que ocorreu nos anos 80 quando o próprio Eurofighter teve a concorrência do Rafale francês.
Na época, a British Aerospace, atual BAe Systems, bancou o projeto do ACA, um conceito de caça avançado que depois contou com a parceria da Alemanha e Itália. Com peças e motores do avião de ataque Tornado, a BAe criou o EAP, um caça experimental para avaliar as possibilidades do projeto que mais tarde tornou-se o Eurofighter, com a participação também da Espanha.
Enquanto isso, a francesa Dassault bancava sozinha a construção do Rafale, uma evolução de um caça experimental, o Mirage 4000. Ambos no entanto, demoraram a entrar em serviço – o Rafale em 2001 e o Typhoon, em 2003. Ao disputarem o mesmo mercado, ambos acabaram tendo poucos clientes externos. Que sirva de lição para essa nova geração de caças.
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