Entre os inúmeros concorrentes do Embraer Bandeirante está o Dornier 228, um turboélice de características STOL e que possui capacidade para até 19 passageiros, como o avião brasileiro.
Mas o 228 é uma aeronave mais nova que o EMB-110, tendo voado pela primeira vez em 1981. Pois 40 anos depois de seu voo inaugural, o avião de origem alemã está prestes a ganhar uma reencarnação indiana.
A Hindustan Aeronautics Limited (HAL) anunciou nesta segunda-feira, 16, ter realizado com sucesso os testes de taxiamento do Hindustan-228, uma aeronave destinada ao mercado regional do país.
A semelhança entre os nomes não é um acaso: o 228 indiano é uma versão para uso civil do Dornier 228, que a própria HAL produz sob licença desde os anos 80.
Até aqui, no entanto, o turboélice tem sido usado pelas forças militares da Índia e também de alguns países próximos. Mas a estatal aeronáutica ficou incumbida de produzir uma versão regional capaz de atender ao “Esquema de Conectividade Regional”, um projeto do governo que lembra o SITAR brasileiro, focado em oferecer voos em regiões não atendidas pelas companhias aéreas de grande porte.
Embora seja praticamente idêntico ao avião alemão, o Hindustan-228 é considerado uma aeronave indiana. “Este é um marco importante para a primeira aeronave civil de asa fixa feita na Índia. É um passo à frente no sentido de fortalecer a conectividade aérea regional”, disse Sajal Prakash, CEO da HAL.
Curiosamente, o país tentou desenvolver um turboélice civil de passageiros inspirado no finado CBA-123 Vector, da Embraer. O Saras, um modelo com hélices “pusher”, voou pela primeira vez me 2013, mas o projeto parou por cinco anos até voltar aos céus. Assim como o Hindustan-228, o avião da NAL (National Aerospace Laboratories) esperava ser usado em voos regionais na Índia.
De mãos em mãos
Mas afinal por que a Hindustan tem tanta familiaridade com o avião alemão? É uma história curiosa.
A Dornier foi por algum tempo uma das poucas fabricantes de aviões alemãs do pós-guerra, mas sem grandes recursos acabou se associando à DASA (hoje parte da Airbus) e à americana Farchild.
Em 2002, no entanto, a Dornier faliu e seus ativos acabaram distribuídos para empresas diferentes, com o avião regional 328.
Quanto ao 228, sua produção foi interrompida em 1998 após 245 unidades fabricadas. Mas em 2009 a empresa alemã RUAG comprou os direitos de produção da aeronave e a modernizou, criando o 228 NG, com maior autonomia, motores com hélices de cinco pás e cockpit modernizado.
Após 10 anos de produção, o programa 228 foi vendido para a divisão europeia da General Atomics, dos EUA, que segue oferecendo o avião no mercado.
Desde 1983, a HAL tem um papel relevante na história do 228, primeiro ao produzir sob licença a aeronave, e depois ao ser fornecedora da fuselagem, asas e cauda para os parceiros alemães.
Esse conhecimento profundo do Dornier 228 tornou o projeto do clone indiano viável, mostrando que o projeto de quatro décadas ainda demonstra potencial para continuar no mercado por mais tempo.