Uma história de imenso sucesso na aviação comercial está próxima de ser encerrada nos próximos dias. Após quase três décadas em produção, o último dos jatos regionais CRJ foi concluído nas instalações da Bombardier, em Mirabel (Canadá).
Prestes a ser entregue para a Delta Air Lines, a aeronave número 1.945 ainda deve passar por testes de motores antes das últimas checagens, segundo relatos – a fabricante não se pronunciou sobre o assunto oficialmente já que os direitos da linha de jatos pertence desde junho à Mitsubishi Heavy Industries.
Segundo o acordo assinado entre os dois grupos, a MHI assumiu toda a rede de assistência pós-venda como também o suporte aos clientes dos jatos CRJ e poderá oferecer aprimoramentos aos aviões nos próximos anos. Porém, o contrato veta a reabertura da linha de montagem, algo que os japoneses não desejavam também.
Por conta desse arranjo, a Bombardier seguiu com a produção dos últimos 15 exemplares pendentes de entrega. Em setembro, uma de suas fornecedoras, a suíça RUAG, enviou a última seção de cauda da aeronave para o Canadá.
Rival complicado para a Embraer
Nesses 30 anos, a Bombardier e os jatos CRJ foram duros rivais para a Embraer. Após a fabricante canadense sair na frente ao adaptar o jato executivo Challenger para voos comerciais, e que estreou em 1992, a empresa brasileira só conseguiu viabilizar o ERJ 145 (originalmente EMB 145) em 1997, quando entregou o primeiro avião para a Continental Express.
Desde então, as duas companhias passaram a disputar pedidos e a apelar para a OMC (Organização Mundial do Comércio) por conta de subsídios nas vendas de ambas as aeronaves.
No entanto, os canadenses levaram vantagem no início, por conta de o projeto do Canadair Regional Jet (nome original) possibilitar versões de maior capacidade. A Embraer, ao contrário, acabou desenvolvendo variantes menores sem o mesmo sucesso.
Apenas os modelos CRJ100 e CRJ200 tiveram mais de mil pedidos, atrás dos 1.230 aviões ERJ entregues pela Embraer. Porém, a série maior CRJ700/900/1000, com capacidade entre 65 e 104 assentos, fez a Bombardier ter uma curta vantagem no mercado, isso porque a resposta da empresa brasileira a colocou nas cordas, a família E-Jet.
Resposta demorada e fatal
Embora o primeiro CRJ700 tenha iniciado serviço em 2001 e o CRJ900, em 2003, logo a Embraer introduziu o E170 e o E190, que ofereciam um desempenho melhor e mais conforto, virando um jogo que antes era favorável ao modelo canadense.
Apesar da limitação de projeto, a Bombardier ainda sacou uma variante ainda maior do CRJ, a CRJ1000, com mais de 100 assentos, porém, apenas 63 unidades foram encomendadas.
A saída era devolver na mesma moeda para a Embraer, ou seja, lançar uma nova família, maior e mais eficiente que os E-Jets. Esse programa, o C Series, comprovou seu esmero técnico ao dar origem a duas aeronaves de desempenho impressionante, mas que acabaram custando caro para a Bombardier.
O longo desenvolvimento exauriu as finanças da empresa a ponto de ser preciso vender o programa para a Airbus, que o rebatizou de A220. Sem sua estrela, a Bombardier também teve de se desfazer dos CRJ, em negociação concluída neste ano.
Nada disso, entretanto, desmerece a família CRJ, que contribuiu, juntamente com os ERJ, para ampliar o número de cidades atendidas por jatos comerciais, reduzindo distâncias e oferecendo uma viagem mais rápida e confortável para milhões de passageiros no mundo.
Veja também: Concorrente da Embraer, Mitsubishi deve manter apenas 150 funcionários em 2021