Após voar por mais de 70 milhões de quilômetros e transportar 2,5 milhões de passageiros durante 20 anos em serviço, o Boeing 747-400 da Qantas, prefixo VH-OJU, realizou seu último voo no domingo, 13 de outubro. Mas para quem imaginou que o quadrirreator fosse ter seu merecido descanso se enganou. O jato australiano assumirá um novo e especial papel como plataforma aérea de teste de motores para a Rolls-Royce.
Atualmente, a fabricante britânica utiliza outro 747, mas da versão -200, como bancada para avaliar seus motores em voo. Com 285 voos realizados, o avião continuará ativo ao lado do novo (velho) quadrirreator. O ex-VH-OJU completou seu último voo comercial entre Sydney e Los Angeles e de lá seguiu para a empresa Aerotec em Moses Lake, no estado americano de Washington, onde será transformado para a nova função.
A conversão de um jato de passageiros com 364 assentos para o papel de laboratório voador não é nada simples. A Rolls-Royce investirá US$ 70 milhões (quase R$ 300 milhões) em um trabalho que terá duração de dois anos. Além desse investimento, a empresa também está construindo um centro de testes de voo na cidade de Derby, no Reino Unido. Batizado de Testbed 80, a infraestrutura custará cerca de US$ 116 milhões e será o maior e mais inteligente banco de testes do mundo, de acordo com a RR.
“A ‘Rainha dos Céus’ (como é apelidado o 747 em alguns países) se tornará a joia da coroa de nossos programas de testes globais. Esse é um investimento significativo que ampliará ainda mais nossos recursos de teste líderes mundiais e nos permitirá obter mais dados de teste de voo do que nunca. Depois de transportar milhões de passageiros nesta aeronave amada por 20 anos, estamos entusiasmados em impulsioná-la para o futuro,” afirmou Gareth Hedicker, diretor de desenvolvimento e engenharia experimental da Rolls-Royce.
Novos motores a caminho
A utilização de aviões comerciais como bancadas de testes de motores é algo bastante antigo. Embora pareça estranho ver uma aeronave levando um motor diferente dos demais ou mesmo instalado em posições inesperadas, essa atividade é considerada fundamental para o desenvolvimento desses equipamentos, em que pese a simulação em softwares ter avançado nas últimas décadas.
A Força Aérea dos EUA, por exemplo, utilizou vários aviões nessa função. Um deles foi o bombardeiro B-17 que teve um motor turboélice instalado no nariz na década de 50 em testes realizados na base aérea de Andrews. Mas são as fabricantes de motores que mais fazem uso dessa ferramenta: a Honneywell possui um Boeing 757 adaptado para esse trabalho, mas o modelo preferido é mesmo o “Jumbo”.
Tanto as americanas General Electric e Pratt&Whitney quanto a Rolls-Royce têm o 747 como plataforma de teste. A GE, inclusive, aposentou seu 747-100 no ano passado, aeronave comprada originalmente pela finada Pan Am e que já voava há quase 50 anos. A folha corrida do avião é espetacular: foram onze modelos de motores e 39 versões testadas por ele, incluindo os novos GE90 e GEnX, que equipam o 787. Desde 2010, a empresa utiliza um 747-400 que hoje avalia o motor GE9X, escolhido para equipar o Boeing 777X.
Na Rolls-Royce, a tarefa não será diferente. O 747-400 ex-Qantas deverá testar novos projetos da fabricante como o Ultrafan, um novo motor de alta eficiência. Coincidência ou não, o VH-OJU é o último 747-400 da Qantas equipado com motores RB211, fabricados pela própria Rolls-Royce.
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Majestoso e icônico. Pena que os custos operacionais o estejam matando.