A crise na aviação comercial causada pela pandemia do novo coronavírus pode levar o grupo Air France-KLM ao rompimento. A informação foi divulgada pelo jornal holandês ‘Financieele Dagblad’ que citou executivos importantes da KLM.
Reunidas sob o mesmo comando desde 2004, as duas companhias aéreas nacionais deverão receber empréstimos de seus respectivos governos para sanar dívidas crescentes causadas pela paralisação de quase todos os seus voos nos últimos meses.
E são justamente esses financiamentos que teriam se transformado no ponto de discórdia entre as duas empresas. Enquanto o governo francês prevê uma injeção de 7 bilhões de euros na Air France, o governo holandês estima prover entre 2 e 4 bilhões de euros para a KLM.
Ocorre que a KLM tem exibido uma saúde financeira melhor que a empresa francesa, constantemente pressionada por seus custos elevados de operação e greves constantes iniciadas pelos funcionários.
Antes mesmo da pandemia, a parceira holandesa já demonstrava incômodo com a situação financeira da Air France e a iminência do recebimento do empréstimo tem feito a KLM duvidar se sua sócia fez sua parte para merecer esse crédito.
Segundo o acordo dos governos francês e holandês, os empréstimos serão destinados especificamente para cada companhia, algo que reforça a impressão de que ambas sairão da crise de forma diferente. Nesse 16 anos de sociedade, a Air France deixou de ser lucrativa para acumular dívidas enquanto a KLM tem hoje uma situação financeira mais confortável e com uma estrutura mais enxuta.
Hubs na Europa
Criada em 2004, a holding que controla as duas empresas aéreas ainda mantém hoje os governos francês e holandês como sócios menores, com 28,3% de participação somada. A Delta Air Lines e a China Eastern Airlines possuem 8,8% cada enquantos os empregados tem 3,9% – metade das ações estão pulverizadas no mercado financeiro.
Além das questões financeiras, KLM e Air France também vivem um dilema em relação aos seus hubs. O aeroporto de Schipol, em Amsterdam, é uma das mais importantes portas de entrada na Europa e possui características que o tornam mais eficiente na distribuição de passageiros como terminais mais integrados e operação em até três pistas simultâneas.
A Air France, por sua vez, opera seu hub em Charles de Gaulle, que é maior e não se restringe apenas às conexões já que Paris é uma das cidades que mais recebem turistas no mundo.
Estratégias de frota diferentes
Os embates entre as duas companhias aéreas também se estende à frota de aviões. Enquanto a Air France passou por um longo período sem novas encomendas, recentemente a empresa fechou um acordo com a Airbus para receber o A220 ao mesmo tempo em que estreou o A350 em suas rotas, jato que será operado exclusivamente por ela após assumir pedidos da KLM.
A companhia aérea holandesa tem privilegiado os jatos da Boeing, dos quais opera o 737, 777 e 787, além de alguns A330. A KLM também havia mantido o 747 em serviço, mas decidiu aposentá-lo nas últimas semanas. Já em relação aos jatos de pequeno porte, a empresa optou por encomendar o E195-E2, da Embraer, e rival do A220.
No Brasil, as duas empresas têm uma atuação bastante importante, com hubs em São Paulo, Rio de Janeiro e Fortaleza, onde operam voos em codeshare com a Gol.
Com o futuro tão imprevísivel, tudo pode acontecer com as duas parceiras de longa data.
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